terça-feira, 29 de junho de 2010

BOM DIA PESSOAL...




Ora vivam. Como é que está essa força que arde sem se ver? Bem? Assim faço conta. Mesmo que não seja assim, não esqueçam que todos os dias são constituídos por um novo dia. Bem sei que são simplesmente palavras. E que força têm as ditas quando vemos ruir tudo à nossa volta? Problemas de dinheiro para solver as dívidas, falta de saúde para poder trabalhar, falta de emprego para concretizar a vontade? Bem sei que estou para aqui imbuído em garnizé que, armado em relógio despertador, debita uns cânticos que, pelo vazio rotineiro, ninguém liga, nem os restantes galináceos quanto mais os donos da quinta. Mesmo assim, apesar da noção de desvalor, fica cá a mensagem.
Hoje, passando um olhar geral pelos jornais nacionais, pouco há a dizer, tirando as Scut’s para lá e os “chip’s” para cá, assim numa espécie nem sei se monte a gaja em cima de um colchão ou no palheiro com as vacas como testemunhas, e a crise que nos afoga –o Nobel da economia de 2008, Paul Krugman, diz no Jornal i que já vamos a caminho de outra depressão.
Mas há um assunto que, nem que seja por um minuto, nos deve fazer pensar: hoje está nas bancas o último número do jornal 24 horas. É lógico que os jornais são o objecto que dão rosto a empresas de informação. Ora se as empresas são como as pessoas, tem um ciclo de vida, naturalmente, nascem, vivem e morrem. Ainda na mesma analogia, no momento de verem a luz, nascem igual a todas, mas no viver, consoante o berço –de ouro ou de palha- em que foram colocadas, serão eternamente desiguais. Curiosamente, ainda tal como as pessoas, na morte, enquanto exaurir do último suspiro, serão iguais. E porque estou eu para aqui com este “fala-baratismo” todo, que não é para levar a sério? Porque o jornal 24 horas morreu hoje. Exalou o último suspiro, cedo, ainda na puberdade. Tinha 12 anos. E de que morreu ele? Interrogamos nós? Não sei bem, mas calculo. Hoje, inevitavelmente, tudo o que seja economicamente pequeno morre. E isto é saudável? Deveremos olhar para estes enterros com naturalidade? Tenho a certeza de que não. E nem preciso de entrar pela análise de controlo da imprensa por grandes grupos. Não, não vou por aí. O que quero dizer é que o bairro, a cidade, o país, o mundo, é, duma forma interessante, constituído, pelas assimetrias entre grandes e pequenos, pela diferença entre o belo e o horrível. É este contraste desproporcional que tornam os nossos recantos existenciais um manancial de vida. Então é fácil de adivinhar que se tudo o que é pequeno desaparecer –o jornal, o loja de fruta, o teatro e o cinema independentes, o vendedor de cautelas, etc.- o nosso pequeno mundo onde habitamos todos os dias ficará mais pobre. E nós, enquanto seres individuais, pequenos que somos, perante o desaparecimento destas pequenas alegrias que nos acompanharam durante uma parte da nossa passagem terrena, ficamos a olhar para as grandes obras -que devido à sua força económica ou vital se mantêm- como um burro olha para um palácio. Cada vez mais nos sentiremos arredados daquela mastodôntica pirâmide que toca as estrelas. Sentirmo-nos-emos um ponto insignificante perante a grandeza brutal que brota perante os nossos olhos.
Talvez valesse a pena parar um pouco para pensar. Será que, contribuindo todos para estas mortes da insignificância, não estaremos todos a tornar-nos menos significantes e com possibilidades de sermos instrumentalizados pela grandeza imemorial? Estaremos a tornar o nosso futuro melhor? Duvido mesmo…mas eu sou um bocado para o totó!

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