“Escrevinhei” umas quadras para um concurso de poesia promovido pela Câmara Municipal da Mealhada sobre o mote “Bussaco, uma Mata de encanto”. Chamei-lhes poemas –gosto de me auto-elogiar, sou assim, que hei-de fazer? Ao chamar-lhes poemas, cá o meu ego, sobe, sobe, como um balão em direcção ao céu.
O prémio era meramente simbólico. Os dez melhores trabalhos seriam publicados em livro. O primeiro, vencedor dos dez, como prémio maior, seria musicado. O vencedor seria anunciado no dia 5 de Junho e os poemas seriam integrados dentro da comemoração do dia Mundial do Ambiente.
Tive sorte, certamente o júri, que não conheço, -com o devido respeito- quando leram os meus “poemas” não estariam nos seus melhores dias de gosto e escolheram um para integrar o tal livro. É lógico que não me conheciam –todos os participantes eram obrigados a usar um pseudónimo-, mas, certamente, pelas minhas larachas sofridas, lá deveriam ter pensado: “vamos contemplar este trovador amortalhado, que, assim, pela contemplação, pode ser que se alegre e deixe só de escrever coisas tristes”.
É evidente que fiquei contente, o problema é que continuo a escrever coisas tristes. Isto quer dizer o quê? Que tenho de ser sorteado mais vezes para ver se esta melancolia me passa.
Agora vamos recuar no tempo. Na última Sexta-feira, dia 4, recebi uma carta em envelope de "correio azul" da Câmara Municipal da Mealhada e assinada pelo vereador da Cultura, Júlio Penetra, a convidar-me para estar presente no dia seguinte, dia 5 de Junho, “às 18 horas, na Mata do Bussaco –Portas de Coimbra, momento em que será anunciado o resultado do Concurso" (de Poesia “Bussaco, uma Mata de encanto”).
Fiquei contente. Eu seja ceguinho se não fiquei! E porquê? Porque há dois anos concorri ao concurso de poesia “Manuel Alegre”, promovido pela Câmara Municipal de Águeda, e sobre o resultado desta escolha, vindo da autarquia, nicles! Ora, embora não tenha nenhuma experiência nestas competições, fazendo a comparação, em solilóquio, pensando cá com os meus botões, disse só para eu ouvir: “ó “Toino”, este pessoal promete. Não sei se será pelo sobrenome do vereador da Cultura, mas que ele “penetra” cá no teu ego lá isso penetra!”.
Para subir ainda mais cá no meu índice de consideração, logo na manhã de sábado, uma gentil voz feminina, inquiria-me se eu iria estar presente às 18 horas lá no Bussaco. E eu, que tinha a autarquia da Mealhada no 305º grau de estimação, no "ranking" dos 308 Concelhos –pois, vejam bem que já tive uma altercação lá com o meu amigo Carlos Cabral. Quer dizer, ainda não é amigo, mas um dia, talvez no próximo mandato, em que já não poderá concorrer pela limitação, quase de certeza que vai ser. Sim, até se entende: que presidente de câmara pode ser amigo de uma melga como eu? Fosca-se! Até eu me irrito comigo próprio, juro que é verdade! Se eu pudesse mandava-me para o Brasil. Sério! Em Portugal só deixava ficar a alma. Compreende-se, é ou não é? A alma de um povo deve permanecer cá no país. Mas o meu corpo -desculpem lá esta falta de patriotismo- mandava o país à fava. Não sei se estão a acompanhar bem a coisa: eu estou farto de mim; o meu corpo está farto do país e a nação está a marimbar-se para gajos quezilentos assim! Fui claro? Posso continuar?
Então, continuando, no Sábado, um bocadito antes das 18 horas, lá cheguei às portas da serra do meu encanto no meu popó. Antes de transpor a entrada, uma simpática menina, que estava de serviço à cancela de acesso ao interior da Mata, para fazer de mim um bom contribuinte, pediu-me 5 euros para eu passar e, dando-me o bilhete, embrulhou-o na seguinte recomendação: “isto permite-lhe andar todo o dia na serra!”. Eu sou mesmo um bocado para o “estupizoide”, mas ainda consegui pensar: “então, se são 18 horas, quer dizer que, para aproveitar o bilhete, vou mas é ficar cá até à meia-noite”.
Juntando bem a mim o bilhetinho, assim bem junto ao peito, todo orgulhoso de com aquele pagamento estar a contribuir para a saúde ambiental da serra, lá engrenei a primeira mudança todo lampeiro até às “Portas de Coimbra”, lá no interior da montanha, obviamente.
Passados uns minutos, sempre a subir, lá cheguei ao meu destino. Estranhei não ver praticamente ninguém. Ou seja, num palco, estava a tocar uma banda musical, ainda muito jovens, mas que se desenrascavam muito bem. Eram de Luso. O problema é que estavam a tocar para os passarinhos…e as árvores centenárias, é preciso não esquecer. Claro que nem os pássaros nem as árvores ligavam nenhuma. Confesso, não sei bem porquê. Não os interroguei. Que eu gostei da actuação da banda, lá isso gostei.
Passaram as 18H15 e o público, para bater palmas à banda, era pouco mais de uma dezena. Vieram as 18,30 e estariam mais ou menos uma vintena de pessoas, exceptuando os músicos, e incluindo o vereador Júlio Penetra e mais um ou dois funcionários da autarquia, creio.
O senhor vereador da cultura lá subiu ao palco, lá foi dizendo que, em nome do município, agradecia muito a colaboração de todos os que se disponibilizaram a contribuir com os seus escritos e, para além disso, que era o primeiro concurso que se fazia e que, certamente, no futuro tudo seria melhor. Gostei de ouvir as suas palavras de humildade. A seguir, perante as tais vinte presenças, foi anunciado o vencedor e os dez trabalhos classificados para integrar o livro. O problema é que se esqueceram de chamar ao palco o vencedor, ou os vencedores. Então foi giro ver, entre as vinte presenças, todos a olharem uns para os outros e sem saberem quem eram os contemplados. E aposto que, apesar do esforço, não se soube quem foi.
Segundo parece, foram cerca de vinte os concorrentes, e era mais ou menos o número de presentes no acto. A seguir foram declamados os três melhores poemas, de entre os dez, por umas senhoras, de uma associação da Bairrada, de vozes um pouco esganiçadas e impróprias para declamar poesia.
Para finalizar, a banda jovem de Luso apresentou o poema vencedor musicado. É evidente que, tenho a certeza, ter-se-ão esforçado imenso, porém, a autarquia da Mealhada, esqueceu-se que nem todos os poemas podem ser musicados. Ou seja, em forma de canção. Com música de fundo e declamados todos podem ser, é lógico.
Então, segundo a minha apreciação, embora seja louvado o esforço dos jovens, a verdade é que a mistura da música com o poema foi assim uma espécie de cocktail Paulo Portas com Jerónimo de Sousa.
Em conclusão, nunca deveria ter sido anunciado pela autarquia que o poema vencedor seria musicado. E porquê? Porque quem escreve e compõe música –não é o meu caso, que só tenho mesmo mania!- sabe que tem de escrever um poema com musicalidade. O que é quero dizer com estes assobios? Que, sem crer –não tenho dúvida- a edilidade da terra do leitão, acabou por lançar os concorrentes em erro. Pronto , mas também não é muito grave. Concordo.
O que eu achei assim mais para a minudência foi a falta de solenidade do acto. Confesso que, aqui próximo de mim, na tasca da Maria, se fazem apresentações de poesia com mais cuidado. Bom, mas como disse o senhor vereador Júlio, “estamos aprender e, para o ano, certamente, será melhor”. Pronto! Está certo! Ficamos todos compenetrados de que assim vai ser.
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