A azáfama é grande. O cheiro a novo, ainda que ténue, invade-me logo que entro nos antigos Marthas, na Praça do Comércio. A loja tem muita luz. Está muito bonita. A decoração é leve e, quanto a mim, quer o mobiliário, quer os novos artigos para venda, fazem uma perfeita simbiose entre as arcadas medievais do antigo hospital de Coimbra. O contraste multissecular é quase perfeito.
Junto à caixa, como chefe de cerimónias a receber as pessoas, está um homem de olhos rasgados, com cerca de 30 e poucos anos, impecavelmente vestido de fato preto. Num português falado um pouco rudimentar, quase “arrancado a ferros”, recebe-me bem, sem desconfiança, e entende o que lhe digo sem dificuldade de maior. É o Pan, o novo proprietário da nova loja de artigos chineses na antiga Praça Velha.
Tem uma loja na Amadora. Em Coimbra, é a primeira loja que abre.
Quando lhe pergunto como veio parar à Lusa Atenas, responde-me que há cerca de 15 anos viveu um ano aqui na cidade. “Nunca mais me esqueci. Fiquei apaixonado pela cidade dos estudantes”, responde-me o Tan, em frases desconexas de um português aprendido a muito custo.
Tem residência aqui na Baixa, juntamente com a mulher e a filha mais nova, a Isabel, de 11 anos –que fala quase melhor português do que eu. Nos seus olhos vivos nota-se uma sagacidade invulgar. Gostava de lhe perguntar mais coisas, mas, sentada no chão, ocupada a ajudar os pais, poupando nas palavras, fez-me perceber que a altura não era a melhor. O momento era de extrema concentração para que tudo esteja no lugar quando os muitos clientes, que esperam, não saiam defraudados.
Lá no canto esquerdo, a mãe de Isabel e mulher do Tan –envolvendo-me num olhar interrogativo, como se inquirisse: “mau, mau! Quem é este? O que é que nos quer impingir?”. Com umas frases na língua de Cantão, e juntamente com uma funcionária de pronúncia brasileira, arrumam tudo nos lugares correspondentes.
Gostei deveras da nova loja do Tan. O velho Martha, onde quer que esteja, se no principio ficou céptico, hoje, depois de “sentir” os novos inquilinos e a nova decoração, tal como eu, deve estar contente.
Venha à Baixa, dê um pulinho à Praça do Comércio e visite esta nova loja que vem engrandecer o nosso tecido comercial.
Muitas felicidades para o Tan. Que daqui a vinte anos, todos estejamos por aqui e que nessa altura não haja “mãos a medir” para atender clientes.
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