segunda-feira, 20 de abril de 2009

BAIXA: ORDEM PARA MULTAR



O senhor Rui Carvalho, revendedor de várias marcas de sapatos, como gosta muito da Baixa da cidade e atendendo ao momento que o comércio tradicional vive, há um tempo passado, em conversa com uma pessoa chegada, dá por si a perguntar-lhe: “e se eu abrisse uma sapataria na Baixa? Afinal até conheço bem o ramo, tenho o conhecimento, tenho as marcas de calçado de que preciso e, acredito, que é uma boa altura para investir no centro histórico”. Se o pensou em anteprojecto, depressa o tornou realidade. Há cerca de duas semanas abriu uma nova sapataria na Rua das Padeiras, no lugar dos antigos “Carlos”, encerrada há cerca de dois anos por motivo de insolvência.
Quando o visitei a dar-lhe os parabéns pelo arrojo, há mais de uma semana, estava contente. “Estou no sítio certo. Acredito que o futuro está aqui na Baixa. Por outro lado, sei que ao criar dois postos de trabalho estou a contribuir para o desenvolvimento desta zona monumental. Apesar da crise que estamos a viver, estou muito optimista quanto ao futuro”.
Hoje, o Rui que veio falar comigo não era o mesmo. Estava nervoso e inquieto. As suas mãos não paravam de mexer, como se procurassem apoio em qualquer coisa que não se via. “Como é isto possível? Será que eu estou mesmo a viver isto? O que me estão a fazer não será ficção?”
Perante a catadupa de palavras que se atropelavam umas às outras, pedi-lhe que tivesse calma e me contasse o que lhe tinha acontecido. “Hoje entraram dois fiscais da Câmara Municipal de Coimbra na minha loja, começaram por me pedir o horário de funcionamento –invoquei que já o tinha solicitado na autarquia e mostrei o recibo. A seguir pediram-me a licença de utilização –referi também que já a tinha pedido ao proprietário do prédio. Depois pediram-me a licença do toldo –avoquei que o toldo não era meu, mas sim do antigo arrendatário, “os Carlos”. Disseram-me que me iam levantar três autos com base na falta de destas autorizações. É evidente que fiquei nervoso e interroguei-os se o seu papel era apenas aplicar coimas sem apelo e sem agravo. Um deles respondeu: “temos ordens expressas do presidente para multar”.
Continuando a citar o senhor Rui Carvalho, comerciante na Baixa: “dá impressão que eles (fiscais ou quem os manda) têm prazer em fazer mal às pessoas. Fazem-nos acreditar que nós não devíamos ter vindo para aqui. Este procedimento é impensável num momento em que se deveria acarinhar quem arrisca no momento que vivemos e, para além de mais, a criar postos de trabalho. O que querem estas pessoas? Será que querem destruir o país?”

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