quarta-feira, 22 de abril de 2009

PORQUE É QUE SALAZAR IRRITA TANTO ALGUMAS PESSOAS?


(ESTE HOMEM NÃO PRECISA DE APRESENTAÇÕES)


(JOÃO LOURENÇO -PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SANTA COMBA DÃO)



 O que me levou a escrever este texto foi a leitura de um blogue aqui ao meu lado e, com todo respeito, dá por nome de “Ponte Europa”. Não conheço o administrador. O que sei é que escreve muito bem. Há muitos anos que me habituei a ler as suas opiniões, quer no Diário de Coimbra, no Diário as Beiras, quer no Expresso.
Como se sabe no próximo dia 25 de Abril a Câmara Municipal de Santa Comba Dão, incluída na comemoração da revolução dos cravos, vai dar o nome de Salazar a um largo da terra que foi recentemente requalificado. Ao que parece, mesmo sem placa toponímica, sempre se chamou assim.
Citando o “post”, com o título “Santa Comba Dão –Um fascista à solta”, do meu colega “bloguer”, “não, não é justo que o Expresso brinque com os leitores e apresente como notícia uma provocação grosseira que atribui a um autarca do PSD intenções fascistas e arruaceiras”.
Continuando a citar o blogue, “O Expresso menciona o nome do presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão –João António de Sousa Pais Lourenço-, eleito por uma coligação PSD/CDS, como autor de um propósito vil que nem o mais execrável fascista se atreveria a pôr em prática. Não é justo para o homem (…) que lhe atribuam a vileza relatada na notícia, que o imaginem um solípede à solta, sem rédea, sem cabresto, um pulha execrável com a suástica no coração e serradura no cérebro. (…) uma atoarda desta natureza pode fazer por canalha um homem de bem, sujar um nome honrado e criar a imagem de crápula num honesto autarca. (…) Haverá sempre alguém que, recordado da ditadura e esquecido do desmentido, se afaste do indivíduo, convencido que é um réptil que passa, um primata que se desloca em posição erecta, um verme que se confunde com a paisagem.”
Colocando a análise adjectiva do texto, incidindo no autarca de Santa Comba Dão, que me parece excessiva, deliberadamente vou virar-me para Salazar. O que pode enfurecer tanto uma pessoa quando o ditador é citado? Só posso entender este “ódio” através das mazelas deixadas no corpo, isto é, admito que esta pessoa foi preso político e, assim sendo, ficou marcado para toda a vida.
Saindo desta probabilidade, atenuada com alguma compreensão, viro-me para a história: Salazar foi ou não um estadista que, com todos os defeitos e virtudes, deve ser citado? Como se sabe a uns agrada a outros não –nesta polémica, demarco-me. Apenas defendo o respeito que lhe é devido enquanto parte integrante da moderna história de Portugal e nada mais. Seguindo a vontade dos que não agrada, será que se deveria fazer um plebiscito para retirar o seu nome da história de Portugal? Afinal já se fez o mesmo com a ponte, agora chamada de 25 de Abril.
Ora, a ser assim –se se fizer o plebiscito e ganhar o “não”- apague-se o nome do homem, como se faz com uma borracha. Mas até lá, deixe-se, a quem o achar por bem, invocar a sua memória.
E mais, no caso em análise, porque raio não pode o autarca de Santa Comba –que não conheço- dar nome a uma praça a um homem nascido na terra e que legitimamente –até agora- faz parte da nossa modernidade? Se fosse Álvaro Cunhal, já podia? E se fosse Sidónio Pais, que foi eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte e elaborou a Constituição Portuguesa de 1911, e, depois em 1917, veio a suspender normas essenciais e se tornou um ditador, será que este homem poderia dar nome a uma qualquer praça?
Será que o autarca de Santa Comba não foi eleito para desenvolver a sua terra e capitalizar tudo o que seja uma mais valia, incluindo figuras históricas, de modo a poder atrair pessoas ao seu concelho? Estará assim tão errado? Se um qualquer de nós estivesse no lugar dele não faria a mesma coisa?
A Espanha, não há dúvidas, tem muito que nos ensinar. Até no respeito pelas figuras de Estado. Francisco Franco, na Guerra Civil de Espanha, mandou matar milhares de opositores políticos. No entanto, o seu nome continua a ser invocado em praças, monumentos e ruas.
É curioso questionar quem tem laivos ditatoriais, os democratas de hoje –que a toda a força querem impor a sua vontade-ou os outros “democratas” –deliberadamente colocada a frase entre comas- que a toda a força querem que não se “apague a memória” –curiosamente, este é um movimento de esquerda que pretende que não se apague o nome…só de alguns.
No mínimo, é estranha esta democracia, não é?

4 comentários:

Olhar Ateu disse...

Quer se goste quer não, Salazar existiu. Usar uma borracha para apagá-lo da história de Portugal será puro disparate e revelador de complexos.
Mais valia reconhecer-se a sua existência e a partir daí elucidar-se as gerações vindouras sobre o positivo e o negativo da sua acção.
Cordialmente

LUIS FERNANDES disse...

Concordo inteiramente.
Muito obrigado por ter comentado.
Volte sempre.
Um abraço.

António Costa disse...

Caro Senhor Administrador deste blogue
Na qualidade de autor e administrador deste blog reconheço-lhe toda a autoridade par selecionar, apoiar ou eliminar todas as intervenções de outrem conforme as suas opções. Porém, da minha parte também não prescindo da minha liberdade de expressão sempre tida dentro dos parâmetros do respeito pelo que deixarei de emitir opiniões sobre a vida pública no seu blogue. Melhores saudações

LUIS FERNANDES disse...

Caro Senhor António Costa, desde que os comentários sejam elaborados sobre a égide da urbanidade, todos, mas todos, são publicados. Afinal a liberdade de expressão é admitir que outros manifestem a sua opinião, seja a favor ou contra. O facto de não concordarmos com outras teses defendidas não nos dá o direito de as suprimir. É evidente que nem todos concordam, mas é assim que sempre procedi e continuarei a proceder. Como sabe, é o dissenso que abre novos caminhos em direcção ao horizonte infinital. Mas esta discordância deve ser realizada com a preocupação de não atropelar, ou amassar, o outro. Nós somos o que fomos ao longo da vida. É essa experiência empírica que, para o bem ou para o mal, faz de nós singulares. Somos todos diferentes num caldeirão de iguais na fisionomia. Pegando na sua discordância em relação ao papel histórico e relevância através dos tempo de António Salazar, apesar de discordar, não me faz engulho que o Senhor pense de modo diferente.Tenho a certeza que a discordância reside essencialmente no facto de ser mais velho que eu e, provavelmente, ter sido perseguido pela PIDE. Eu, em 1974 com 17 anos, nem sabia o que significava. Daí eu ter uma perspectiva diferente da sua. Faça um esforço por entender. Um abraço.