Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..." leia o texto "SEGUNDO ESTUDO PRÉVIO PARA ELÉTRICOS EM PRESPETIVA" e "COIMBRA, CIDADE MADRASTA PARA FEIRAS".
Na rubrica "OLHAR PARA SUL..." pode ler a crónica "O CINEMA DE LUTO E O RENASCIMENTO DO TEATRO"
"NÓS POR CÁ..."
SEGUNDO ESTUDO PRÉVIO PARA ELÉTRICOS EM PRESPECTIVA
No dia
primeiro de abril, Dia das Mentiras, escrevi este texto no blogue. Embora com
um certo ar zombeteiro, nesta crónica contava que, juntando a um primeiro
estudo anunciado e com percurso para a margem esquerda, iria ser discutida a
possibilidade de haver um novo itinerário a abranger toda a Baixa e apanhando o
lado direito do Mondego. Por entender que fará sentido abrir esta discussão,
tomo a liberdade de o publicar mesmo, antecipadamente, dando a conhecer o seu
teor irónico.
Segundo fonte idónea, a título extraordinário
e sob proposta de Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, o
executivo camarário vai reunir hoje, dia primeiro de abril, durante a tarde,
para aprovar um segundo estudo prévio e de impacto ambiental para a criação de
uma linha de elétricos turística entre a Rua da Alegria, Avenida Navarro, Ruas
Ferreira Borges e Visconde da Luz, Praça 8 de Maio, Rua da Sofia, Rua João
Machado, Avenida Fernão de Magalhães junto à Auto Industrial, Rua do Arnado
–atravessando a linha férrea-, Avenida Cidade de Aeminium, Ponte de Santa Clara, Avenida João das Regras, Rotunda do
Portugal dos Pequenitos, Rua Augusto Gonçalves, Rotunda das Lages e retorno
pela Avenida Inês de Castro e novamente pela Ponte de Santa Clara.
Lembro que foi aprovado um estudo
prévio para implantação de uma linha que ligaria a Rua da Alegria até à Rotunda
das Lajes, na margem esquerda do Mondego.
Tentando saber mais alguma
informação sobre o que estaria por trás deste segundo estudo provoquei o meu
interlocutor: diga-me lá, será que o Machado teve insónias de segunda para
terça-feira e deu-lhe para pensar que o itinerário proposto no último executivo
é uma asneira de palmatória sobretudo pela pouca ambição do projeto?
Respondeu o meu depoente: “até poderia ter sido, mas não. O que
aconteceu foi que ontem, terça-feira, atrasamo-nos na autarquia e saímos cerca
das 14h00. O Reis, o dono do restaurante Cantinho do Reis, não parava de ligar
ao presidente a dizer que o arroz de cabidela assim ia ficar seco. Às tantas o
Machado, como se estivesse a falar sozinho, enfatizou: “é pá se o elétrico
passasse aqui chegávamos muito mais rápido ao Terreiro da Erva, carago!”
Ficámos todos a olhar para ele –porque, seja eu franco consigo, é o que
ele gosta- e, de repente, bateu com a mão aberta na testa e exclamou: “Caraças,
como é que eu não me lembrei disto? O elétrico deve passar aqui à frente da
câmara!”
O José Reis, do Cantinho dos Reis, sem o saber, acabou a fazer
história. Se não fossem os seus persistentes telefonemas teríamos um roteiro
que, por ser curto de vistas, não interessa a ninguém”, divagou o meu
amigo.
COIMBRA, CIDADE MADRASTA PARA FEIRAS
Pelo Diário das Beiras, em título no interior,
ficámos a saber que a “Autarquia recusa
subsídio à Feira Popular”. Continuamos a ler e “O presidente da Câmara de Coimbra recusou ontem o requerimento dos
vereadores do PSD para que fosse atribuído um subsídio para a Feira Popular,
que tem lugar, habitualmente, por ocasião das Festas da Cidade. Manuel Machado
disse que a proposta para atribuição de subsídios à União de Freguesias de
Santa Clara e Castelo Viegas, que realiza o certame, “não tem fundamento”. Salienta-se,
e também é referido no jornal, que a Feira Popular vai ter isenção de taxas de
funcionamento no valor atribuído de 9672,00 euros.
Comecemos pelo argumento de Manuel Machado,
presidente da edilidade conimbricense, de que a “atribuição de subsídios à União de Freguesias, que realiza o certame,
não tem fundamento”. A meu ver, na forma Machado tem razão. As juntas de
freguesias agregadas têm verbas atribuídas pela autarquia e, por isso mesmo, em
princípio, não fará grande sentido haver uma segunda cabimentação já que gera
um precedente extensível a outras. Acontece que só na forma tem fundamento. Na
substância Machado perde completamente a razão. A Feira Popular, pelo ambiente
de memória que nos transporta para a infância, pela grandeza –são 17 dias de
animação- e pelo historial de importância para a cidade, é diferente de outro
qualquer evento –só encontro analogia com a romaria do Espírito Santo, embora
em menor grau já que se estende por uma semana. Por isso mesmo, em nome dos
cidadãos e pela responsabilidade que lhe cabe em manter esta alegoria, o
executivo tem obrigação de fazer tudo para a manter. Não há dinheiro para ser
patrocinada? Mas há um ano atrás foram atribuídos 52 mil euros para organizar
um torneio de futebol juvenil em honra de um desaparecido ex-vereador do
Partido Socialista.
Esta atitude em negar subsídio, para além da
aselhice política, cheira a esturro. O que ressalta e dá impressão é que a
Feira Popular é o “leit motiv” para a
guerra partidária –já que José Simão, presidente da Junta de Santa Clara e agora agregada em união, concorre pelo do PSD.
Curiosamente, relevo que mesmo no tempo da Coligação por Coimbra, anterior a
este executivo socialista, sobretudo com a falecida
Empresa Municipal de Turismo de Coimbra, já havia problemas. Dizia-se que a
extinta empresa municipal queria “roubar”
a organização a Simão.
Uma coisa é certa, a Câmara Municipal de
Coimbra (CMC), quer seja com este presidente quer com os anteriores, nunca fez
nada para manter eventos que estão gravados na nossa memória e constituem a
alma da cidade –basta lembrar a CIC, Feira Industrial e Comercial de Coimbra, que
precisamente por ser da responsabilidade da ACIC, Associação Comercial e
Industrial de Coimbra, houve sempre uma guerra surda e silenciosa de
protagonismo entre as duas entidades. O resultado final, num esticar de corda,
de tudo ou nada, entre a ACIC e a CMC, sabemos no que deu: acabou a engrandecer
a de Cantanhede. Não será de estranhar que, mais ano menos ano, a Feira Popular
tenha o mesmo destino.
Dá a impressão que somos uma
cidade de galos e de poleiros. Para além disso, parece que temos uma aversão
generalizada a tudo o que seja velho. Mas isso não importa nada! O que
interessa mesmo, porque é a grande moda nacional, é criar novas ideias de
negócio.
"OLHAR PARA SUL..."
"OLHAR PARA SUL..."
O CINEMA DE LUTO E O RENASCIMENTO DO TEATRO
Morreu Manuel de Oliveira, o mais antigo
cineasta em exercício. O cinema, pela perda deste grande realizador português,
está de luto. Pela teoria da compensação, de que a seguir a um dano segue-se um
benefício, o teatro português está a renascer das cinzas. Basta ver as imensas
peças na arte cénica que, acompanhadas de lágrimas de crocodilo, estão a surgir
de todos os quadrantes políticos. Grandes desempenhos, sobretudo da direita já
que esta ideologia adora os bons profissionais que, apenas imbricados na sua
arte, não se metem na política e que não fazem ondas. A ala conservadora ama
este modelo de português “santo da casa
não faz milagre” em que é menosprezado cá dentro e venerado lá fora. E
sobretudo pela projeção identitária: porque vindo do mudo –como tantos
personagens partidários que conhecemos bem- transforma-se num ícone do sonoro.
Igualmente como estes figurantes, que até entrarem na política tinham uma vida
a preto e branco e depois passaram ao arco-íris, até nisso Oliveira é o seu
ídolo. Além de mais, a direita gosta da Etnografia,
do “Pintor e a Cidade”. A recompensa por
tanta similitude é todos os que não levantam cabelo serem trasladados e
repousarem eternamente no Mosteiro dos Jerónimos.
A esquerda, porque não alinha muito em contos
de meninos milionários e talvez
porque os dez dias que Oliveira esteve preso pela Pide não fazem do indivíduo
um revolucionário do contra, não vai muito na ilusão. Além de mais o homem da
câmara de filmar colaborou na revista de cinema Movimento ligada à Mocidade
Portuguesa Feminina: Boletim mensal. E também por que, entre o “passado e o presente”, não alinha muito bem
com a memória histórica já que lhe traz à recordação trocadilhos mal digeridos,
não se mostra muito esfuziante com este ressurgimento abrupto do teatro e
prefere manter-se “nim”. Por “O Acto da
Primavera” só conhece a Primavera de Praga. No entanto, “Aniki-Bobó” deixa que pensar no fascismo
dos anos trinta e transversal à Europa e, com o tempo, até pode ser que venha a
idolatrar o grande cineasta. Teatro nem com “Sapato de Cetim”. A esquerda odeia “Canibais”, mormente o grande capital. Mas vamos com calma!
O conservadorismo em Portugal está de
parabéns. Pelo manifestado esgar de dor e contorcionismo está a mostrar ao povo
que a tradição ainda é o que era. Sim senhor! Pelo menos durante uns dias e
umas noites, coincidindo com a Páscoa, esquecemos o estertor do senhor dos
Passos, n”A Caça” e o aventureirismo
do Costinha, da “Canção de Lisboa”. Durante três dias –dois de luto nacional- vamos
todos assistir numa televisão perto de nós às mais pungentes manifestações
teatrais de sofrimento e angústia plasmadas em máscaras sofridas de nada vezes
nenhum. Nestas coisas, e como manda o costume, o povinho na sua habitual
hipocrisia e “Non, ou a Vã Glória de
Mandar”, agora também não esquece os imensos filmes que (nunca) viu de
Manuel Oliveira. Ah grande Nação! Lá diz o povo, há males que sempre vêm por
bem. Valha-nos o “Quinto Império”!
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