Cerca do meio-dia, bastaram dez minutos de
chuva grossa para, mais uma vez e tal como em anos anteriores, a Praça 8 de
Maio ficar intransitável com cerca de 25 centímetros de altura de água e a
entrar na vetusta igreja de Santa Cruz. Contrariamente ao anunciado nas
televisões, felizmente, houve poucos estabelecimentos inundados na Baixa. A
enchente circunscreveu-se ao adro do memorial.
A maior cheia que há lembrança ocorreu em 22
de Setembro de 2008 em que dezenas de lojas ficaram inundadas nas ruas
estreitas adjacentes e no antigo largo de Sansão –assim conhecido por ter
existido um chafariz com a estátua de Sansão desde 1592 até 1838, quando foi
demolido por apresentar avançado estado de ruína. Em 1874 a sua toponímia foi
alterada para Praça 8 de Maio, por alturas das comemorações do aniversário da entrada
das forças liberais do Duque da Terceira na cidade de Coimbra em 8 de Maio de
1834. No Verão de 1995, sob a égide de Manuel Machado, na altura presidente da Câmara
Municipal e actual, e projecto de Fernando Távora, iniciaram-se as obras de
rebaixamento da praça com a intenção de nivelar a entrada da igreja de Santa
Cruz e libertar o trânsito da zona e modificar as ruas do canal para vias
pedonais. A verdade é que esta alteração arquitectónica, cuja intenção a par da
pedonalização era transformar o largo em palco natural de festividades, nunca
obteve unanimidade entre os conimbricenses e mais particularmente entre os
comerciantes. Do ponto de vista económico, nestes vinte anos, tem sido um
sorvedouro de dinheiros públicos. Começou logo nas rampas de acesso às artérias
laterais que, sendo apresentadas inicialmente com pedra de Ançã, proporcionou
grandes trambolhões a muitos transeuntes. Uma senhora de Almalaguês viria a
morrer nos HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, por uma queda ocorrida no
local –por desistência da família em levar o acidente à barra nunca foi
estabelecido o nexo de causalidade. Os custos de projecto continuaram a
aumentar, nomeadamente, com os corrimões, que já foram substituídos e reparados
várias vezes, o lajeado demasiado escorregadio do chão do rossio e o lago
central. No princípio era um tanque arredondado com água parada o que, em
consequência, passou a ser um repositório de lixo. Em 2001, Carlos Encarnação
ganhou a autarquia e, para colmatar maiores prejuízos para uma ideia infeliz,
mandou colocar repuxos e fazer o tamponamento com uma rede em alumínio. Como em
2013 Manuel Machado, em representação do PS, Partido Socialista, viria a recuperar
a edilidade e a apear a Coligação por Coimbra, cujo partido maioritário era o
PSD, das suas obras recentes, uma foi, há pouco tempo, transformar novamente o
arredondado tanque e voltar a enchê-lo. Os resultados, como era de prever, é,
volta e meia, os funcionários camarários andarem a pescar “sardunhos” –uma espécie biodegradável tão nossa conhecida. Salvo melhor opinião, é uma praça com pouca dignidade tendo em conta a sua importância de localização junto do Panteão Nacional.
Ao longo desta vintena de anos e com maior
incidência nos últimos sete anos -provavelmente ligado ao assoreamento do Mondego-, as enchentes são mais do que muitas na velha
praça e levando a grandes prejuízos para os comerciantes, sobretudo as de
Setembro de 2008 e Dezembro de 2013. Como já é tradicional, logo a seguir às
enxurradas vêm os responsáveis, da Protecção Civil e outros, largarem pérolas e lágrimas
sobre as águas, aumentando ainda mais o caudal, e a prometerem uma solução para
este continuado desleixo que incomoda quem cá vive e vem de fora. É óbvio que
não somos engenheiros mas para se ser saber se um cozinhado está bom também não
se precisa ser cozinheiro. Quero dizer que para se apreciar as funções de uma
obra, na sua eficácia, não é necessário ser diplomado. Ora, o que ressalta à
vista desarmada é que as grelhas de escoamento nesta praceta são demasiadamente
estreitas e, com o rebaixamento do largo e a funcionar como depósito receptor
das águas que provém da Alta da cidade juntamente com folhas e lixo diverso,
devido à torrente elevada, não podem cumprir a sua tarefa.
Será desta que esta obra tão necessária vai
arrancar? Hum!...
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