Foi em 2009, quando andou pela cidade, que o
conheci. Fez várias exposições no desaparecido Salão Brazil. Como andorinha em
busca de outra terra mais quente, desapareceu e nunca mais se ouviu falar do
Pedro Freitas. Entrou há dias porta dentro a cumprimentar-me. Pelo aspecto
andrajoso e mal cuidado, de barba hirsuta, cabelos longos e mãos inchadas, não o
reconheci imediatamente nem sequer imaginei que há minha frente estava o grande
pintor Pedro Freitas, filho do escultor Silva Freitas, com várias obras espalhadas
pelo país e estrangeiro. Segundo me contou, nos últimos seis anos, esteve
radicado na Figueira da Foz. Como barco atracado que precisa de se fazer ao
mar, levantou ferro e veio procurar novos horizontes na cidade dos estudantes.
Se um dia destes o encontrar a pintar na rua, não
se deixe levar pelo ar desalentado e de perdição que imana da sua imagem. Acredite,
pelo seu talento e currículo, vale a pena adquirir-lhe uma pintura.
UMA CASA DE ARTES NA BAIXA?
Nos últimos tempos, alguns pintores e
escultores, como sabem que escrevo n’O Despertar e no Campeão das Províncias,
tem vindo ter comigo em busca de ajuda para que escreva as suas histórias e,
pelo reconhecimento público posterior, conseguirem sobreviver. Alegam que não
têm sequer dinheiro para comprar tintas e pincéis para poderem trabalhar e
ganharem para um alojamento digno. Na sua complexidade marginal e afectiva,
estes artistas são um potencial que, como cidadãos, não devemos descurar. Não
sei bem, talvez seja utopia pensar assim, mas a autarquia, a troco de uma obra
doada, não poderia disponibilizar um espaço permanente para que estas pessoas,
colectivamente, pudessem expor as suas obras? Sei lá, junto ao Arco de
Almedina. É que, tanto quanto sei, só os consagrados têm direito a mostrar os
seus trabalhos. Tudo estaria bem se os tempos que vivemos fossem normais.
Acontece que não são e só quem está no mesmo plano se apercebe da miséria
humana que anda pelas ruas da calçada. Valerá a pena pensar nisto?
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