LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "REFLEXÃO: VENHAM A MIM TODOS OS REINOS", deixo também as crónicas "UMA IDEIA GIRA, MAS..."; "O "POPEYE FOI "ENCARCERADO"; "ESSÊNCIAS GOURMET... DE UMA VIDA".
REFLEXÃO: VENHAM A MIM TODOS OS REINOS
Na edição desta semana do Campeão das Províncias escrevo uma crónica sobre o escândalo das
comissões praticadas por alguns guias turísticos para levarem os grupos de excursionistas
a comprarem em lojas de artesanato, entre os largos da Portagem e da Sé Velha e
passando pelas escadas de Quebra-Costas. Alegadamente, a comissão praticada é
de 20 por cento sobre as vendas e pago em dinheiro vivo e por debaixo da mesa. Por
que os ofendidos na concorrência desleal continuem a calar e as entidades
competentes, talvez com o argumento de que o vício ofende apenas a ética e se
trata de um contrato entre particulares, fechem os olhos, a situação arrasta-se
há vários anos numa vergonha inqualificável.
Promovida pela ADDAC, Associação de Defesa e
Desenvolvimento da Alta de Coimbra, e por três comerciantes, neste último sábado,
realizou-se uma feira de artesanato urbano para tentar reanimar a zona do Arco
de Almedina. Segundo declarações de um dos promotores, um dos lojistas implantados,
para além de, no dia, se opor à fixação de uma banca à sua porta argumentou que
não quer a feira e que ia fazer tudo para que certames futuros não se efectuem.
Este é o modelo de alguns comerciantes que estão entre nós. Se pudessem até
retiravam o ar que respiramos só para eles. Falar-lhes que o sol quando nasce é
para todos é pura perda de tempo. É triste, não é?
UMA IDEIA GIRA, MAS…
Era meio-dia deste sábado quando o meu amigo,
acompanhado do neto, me entrou pela porta e atirou de supetão: “então vim eu com o meu neto para comprar
arrufadas e lhe mostrar como, até há cerca de meio-século, era feita a sua
venda aqui na Baixa através do pregão e com os tabuleiros de madeira à cabeça
das mulheres e afinal não há nada? Isto é publicidade enganosa!”
De facto, passado um quarto de hora depois do
meio-dia já não havia animação na Praça 8 de Maio e conforme o anunciado nos
jornais, nomeadamente n’O Despertar:
“Os doces e apetecíveis aromas prometem
voltar a seduzir quem passar amanhã (Sábado) pela Praça 8 de Maio, antigo Largo
do Sansão. Tal como manda a tradição, no sábado da Aleluia, o Grupo Etnográfico
da Região de Coimbra (GERC) realiza mais uma Festa da Arrufada, trazendo para a
rua centenas de atrativos, fofos e apetitosos bolos. Entre as 9h00 e as 13h00,
a praça vai encher-se de vendedeiras que vão colocar os seus tabuleiros em
linha e vão apregoar o seu produto. Tal como acontecia no passado, o grupo
pretende recriar todo o ambiente festivo associado a esta tradição, onde o
burburinho do público quase que abafava os pregões das vendedeiras atarefadas.”
Falei com um operador da zona. Com a minha
anuência de não o identificar -perante o tão meu conhecido “não diga que fui eu que disse”-, aceitou
falar e declarou o seguinte: Estiveram aí
umas cinco bancas, mais ou menos até às 11h00, com pessoas a vender arrufadas.
Mas, pareceu-me, traziam poucas –iam adquiri-las a uma carrinha que estava aí
estacionada. Este doce tradicional não chegou para as encomendas. Não ouvi
nenhum pregão. Até gostava de ter ouvido. Seria uma ótima ideia se fosse mais
explorada”. Sei que andou uma vendedeira –pelo menos uma foi vista-, e o
seu pregão ecoou pelos beirais.
Prossegue o meu depoente, “esta Praça 8 de Maio está feita numa
bandalheira. Olhe ali o espelho de água –está com imensos papéis a boiar. Há
gente a atirar os detritos lá para dentro de propósito. Para além disso, por
exemplo, a tuna que atuou às 11h00 –Tuna do Instituto Superior De
Contabilidade e Administração- coincidiu
com a missa na igreja. É uma falta de respeito. Embora não saiba o motivo, creio
que o pároco até veio cá fora para colocar alguma ordem. Esta manhã, aqui no
antigo Largo de Sansão, o que até poderia ser uma iniciativa muito engraçada
foi uma coisa muito triste. Muito pobrezinha!”
ALGUMAS “ILHAS” ESTIVERAM ANIMADAS DURANTE A TARDE
Neste quarto
Sábado do mês, por isso mesmo, realizou-se, na Praça do Comércio, a Feira de
Velharias. Para além deste certame, nas Escadas do Quebra-Costas havia também
uma interessante feira de artesanato urbano. Foi uma organização de alguns
lojistas e da ADDAC, Associação para o Desenvolvimento e Defesa da Alta de
Coimbra, e, futuramente, vai praticar-se sempre no primeiro Sábado de cada mês
–esta produção de hoje foi uma exceção para não coincidir com a Páscoa. Durante
a tarde, cerca das 15h00, qualquer um destes eventos estava bem concorrido com
público e era notório um ambiente de festa.
No Dia Mundial da Juventude, com espetáculo
promovido em parceria entre o Café Santa Cruz e a Câmara Municipal de Coimbra,
os gaiteiros “Roncos e Curiscos”
exibiam a sua música junto ao vetusto café e juntavam alguma assistência na
Praça 8 de Maio e ruas largas. Nas artérias estreitas, com bastantes lojas
abertas nesta tarde solarenga, não se passava nada. Nem a festa cá chegou, nem
o público veio atrás dos foguetes. Mais uma vez venho bater no ferro frio. Nos dias festivos é preciso
ligar estas ilhas. No caso de hoje,
Praça 8 de Maio, Praça do Comércio e Escadas do Quebra-Costas. E como é que se
fazia a ponte? Bastava descentralizar a Feira de Velharias da antiga Praça
Velha e, fazendo um círculo, estendê-la pelas ruas estreitas e largas –como se
faz em Aveiro. Por seu lado a feira de artesanato do Quebra-Costas descia até à
Rua Ferreira Borges. Qual é a consequência deste isolamento? É que cada um, no
seu canto, tenta safar-se. Se estivessem todos ligados, para além de desenvolver
toda a Baixa e convidar mais lojas comerciais a estarem abertas ao sábado de
tarde, o público de um seria o mesmo do outro. Assim não. Parece que estamos
todos de costas voltadas.
No caso das Escadas de Quebra-Costas o que se
espera para “derrubar” a psicológica fronteira existente no Arco de Almedina
e considerar esta zona –até ao cimo e junto ao Largo da Sé Velha e até ao
antigo Governo Civil- como fazendo parte integrante da Baixa? Até parece que
estamos na Idade Média e a cidade continua dividida. Ridículo, digo eu!
O “POPEYE” FOI “ENCARCERADO”
O António Simões da Silva, conhecido por “Tónio Bombeiro” e apelidado de “Popeye” foi internado num lar ali para
os lados do Areeiro, segundo dois seus grandes amigos, o Jorge Martins, do
Quiosque Espírito Santo, na Praça 8 de Maio, e Olímpio Ribeiro, proprietário da
barbearia Santa Isabel, na Rua Direita, e cognominado de “Engenheiro”.
O
“Tónio” é um daquelas figurantes
carismáticos que pululam na Baixa. Pessoas como ele são uma espécie de flores
silvestres que nascem e vivem numa área habitacional. Pela forma desligada, na
diferença, em consequência da sua leve demência imprimem uma marca
inconfundível e, talvez sem o notarem, são amados pela coletividade. Contudo, e
aqui reside a ambiguidade, enquanto deambulam pelos becos e ruelas das cidades
parecem ser ignorados. Quando se ausentam do meio habitacional, ou por velhice,
doença ou morte, todos parecem sentir a sua falta e mostram espasmos de dor
pelo seu desaparecimento. Já constatei este procedimento social várias vezes
aquando do sumiço de outros “cromos”
que nos deixaram na última década.
Por conseguinte já se entende a preocupação do
Jorge Martins ao pedir-me que escrevesse sobre o “encarceramento” do “Tónio Bombeiro”. “Tens de escrever sobre isto. A administração do lar onde está internado
o “Popeye” tem de ser sensibilizada para o deixar vir à Baixa de vez em quando.
Se assim não acontecer, ele vai morrer rapidamente. Sempre aqui viveu. Aqui é o
seu mundo.”
Olímpio Ribeiro, o “engenheiro,
vai mais longe, “Até entendo a decisão
tomada pelo primo –pessoa responsável pela sua administração, creio. Ele fez bem em retirá-lo para uma
instituição onde cuidem dele. Ele sozinho não estava bem e, além disso, às
vezes, bebia de mais. Mas o “Tónio” faz falta à malta! É uma figura típica e
carismática. Ele fazia recados para toda a gente desta rua. O “Tónio” é super-sério.
Espero bem que o deixem vir de vez em quando à Baixa. Ainda só foi há dias e já
sentimos a sua falta.”
ESSÊNCIAS GOURMET… DE UMA VIDA
Abriu há dias a “Essências Gourmet”, no Terreiro da Erva número 21, ao lado do
Restaurante Cantinho do Reis.
Transpomos a porta e, como se recebêssemos uma
aura espiritual pelo branco imaculado, somos abraçados pelos odores, pelas
essências da terra, que nos envolvem completamente. Para complementar, numa
abrangência de cordialidade e simpatia, recebe-nos a Helena Pereira com um
sorriso de candura familiar que nos faz acreditar que estamos no nosso meio. Nesta
bonita loja de produtos endógenos nacionais –“somente artigos portugueses”, sublinha a anfitriã- podemos apreciar
e adquirir biscoitos de vários sabores, chocolates, cerveja artesanal, azeite
biológico –Acushla, que ganhou vários
prémios-, mel, vinhos de vários pontos do país, conservas, compotas, sal
marinho e flor de sal –este, é um sal mais depurado, mais suave- e até algas
para fazer um salteado com vegetais. Para além tantas iguarias pantagruélicas,
podemos também adquirir sabonetes de leite de burra e muitas variedades de infusões,
chás, de muitos sabores.
Embora sem
experiência empresarial, Helena está muito satisfeita. “Tenho vendido e está correr muito bem”, enfatiza. O que oferecemos na nossa loja são artigos
diferentes dos que se encontram à venda em congéneres na cidade. Procurámos ser
um suplemento na oferta e não mais do mesmo. Para não entrar em colisão com
quem está, tentamos ser algo diferente.”
A Helena é professora -de Português e Inglês e
mestrada em Tecnologias de Informação e Comunicação. Agora a dar formação. Como é que um docente se envolve nas lides
comerciais? Interrogo. “Olhe, foi
assim: sinto-me pouco empolgada com o caminho que o ensino em Portugal está a
tomar. Dei aulas no ensino público cerca de 13 anos. A instrução, enquanto
formação necessária ao desenvolvimento humano, está muito degradada. Então, eu
e o meu marido gostamos muito de infusões, de chás, de plantas e frutos
silvestres. Como temos um amigo que tem um estabelecimento em Aveiro, o “Glory
Tea”, seguindo o seu exemplo, surgiu a ideia de abrir uma loja em Coimbra. Foi
assim que germinou a Essências Gourmet.”
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