Morreu Manuel de Oliveira, o mais antigo
cineasta em exercício. O cinema, pela perda deste grande realizador português, está
de luto. Pela teoria da compensação, de que a seguir a um dano segue-se um
benefício, o teatro português está a renascer das cinzas. Basta ver as imensas
peças na arte cénica que, acompanhadas de lágrimas de crocodilo, estão a surgir
de todos os quadrantes políticos. Grandes desempenhos, sobretudo da direita já
que esta ideologia adora os bons profissionais que, apenas imbricados na sua
arte, não se metem na política e que não fazem ondas. A ala conservadora ama
este modelo de português “santo da casa
não faz milagre” em que é menosprezado cá dentro e venerado lá fora. E
sobretudo pela projecção identitária: porque vindo do mudo –como tantos
personagens partidários que conhecemos bem- transforma-se num ícone do sonoro.
Igualmente como estes figurantes, que até entrarem na política tinham uma vida
a preto e branco e depois passaram ao arco-íris, até nisso Oliveira é o seu
ídolo. Além de mais, a direita gosta da etnografia,
do “Pintor e a Cidade”. A recompensa por
tanta similitude é todos os que não levantam cabelo serem trasladados e repousarem eternamente no Mosteiro dos Jerónimos.
A esquerda, porque não alinha muito em contos
de meninos milionários e talvez
porque os dez dias que Oliveira esteve preso pela Pide não fazem do indivíduo um
revolucionário do contra, não vai muito na ilusão. Além de mais o homem da câmara de
filmar colaborou na revista de cinema Movimento
ligada à Mocidade Portuguesa Feminina:
Boletim mensal. E também por que, entre o “passado e o presente”, não alinha muito bem com a memória histórica já
que lhe traz à recordação trocadilhos mal digeridos, não se mostra muito
esfuziante com este ressurgimento abrupto do teatro e prefere manter-se “nim”. Por
“O Acto da Primavera” só conhece a Primavera
de Praga. No entanto, “Aniki-Bobó”
deixa que pensar no fascismo dos anos trinta e transversal à Europa e, com o
tempo, até pode ser que venha a idolatrar o grande cineasta. Teatro nem com “Sapato de Cetim”. A esquerda odeia “Canibais”, mormente o grande capital. Mas
vamos com calma!
O conservadorismo em Portugal
está de parabéns. Pelo manifestado esgar de dor e contorcionismo está a mostrar
ao povo que a tradição ainda é o que era. Sim senhor! Pelo menos durante uns
dias e umas noites, coincidindo com a Páscoa, esquecemos o estertor do senhor dos Passos, n”A Caça”, e o aventureirismo do Costinha,
da “Canção de Lisboa”. Durante três dias -dois de luto nacional- vamos todos assistir numa televisão
perto de nós às mais pungentes manifestações teatrais de sofrimento e angústia
plasmadas em máscaras sofridas de nada vezes nenhum. Nestas coisas, e como manda
o costume, o povinho na sua habitual hipocrisia e “Non, ou a Vã Glória de Mandar”, agora também não esquece os imensos
filmes que (nunca) viu de Manuel Oliveira. Ah grande Nação! Lá diz o povo, há
males que sempre vêm por bem. Valha-nos "O Quinto Império"!
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