Depois do atentado terrorista de hoje, em
Paris, cada vez mais as imagens deste vídeo –em que se tentará confundir um por
todos e todos por um- farão sentido para cada um de nós. Poderia ser escrito
assim numa qualquer grande instituição: Não
estão cá todos os que o são, como nem todos os que cá estão o são.
A Europa está de luto! Morreram pelo menos 12
pessoas e mais de 20 ficaram feridas. Infelizmente, não é a primeira vez! Em 11
de Março de 2004, na Estação ferroviária da Atocha, em Madrid, também num
atentado bombista, morreram 191 pessoas e mais de 1700 ficaram feridas.
Sem de modo algum querer legitimar esta
terrível mortandade, no meu entender, sobretudo sobre as mortes em Paris, temos
de ver este eclodir de violência a dois níveis. Num primeiro, poderemos
interrogar: é legítimo um órgão de comunicação social ridicularizar a fé e provocar
a ira de um grupo religioso em nome da liberdade de expressão? Se sim, esta
liberdade, que passa a ser absolutista e não relativa, é responsável pelas
mortes e, com o Estado a assumir as suas consequências, estas estão plenamente justificadas.
Se não, o jornal ou outros órgãos de imprensa no futuro terão de responder pelo
mal causado a inocentes e terão de sentar-se ao lado dos terroristas na justiça.
Porque há uma questão óbvia: há antecedentes e já todos vimos que estamos a
lidar com fanáticos religiosos. Ou seja, quem publica algo que sabe que vai
desencadear uma provável acção directa, em nome do bom senso, deve medir a sua
conduta. Por outras palavras, se eu tiver um vizinho marado e que explode de
irritação quando lhe atiro umas frases manda a prudência que tenha cuidado com
ele. Se tenho conhecimento do que pode estalar a violência em caso de incitação
é evidente que, mesmo sabendo que a lei me possa proteger a posteriori, para além de ficar por minha conta e risco sou também
co-responsável pela loucura intempestiva do meu confinante. Quero dizer,
portanto, que em nome da minha determinação estou a absolutizar, a radicalizar,
a liberdade, menorizando a do outro. Porque, notoriamente havendo dois direitos em conflito, ele, em nome da sua autonomia, tem
o seu (direito) de não ser ofendido –sobretudo quando o ultraje é do conhecimento
público. E neste caso do jornal francês, para acentuar, já em 2011 teve uma bomba a rebentar na redacção depois da publicação de um cartoon de Maomé.
Argumentar para quem desconhece
outros argumentos e está fechado à compreensão humanista é tempo perdido. Quero
dizer que arguir na condenação de que é extremista quem em nome de Deus mata é perder tempo. O problema tem de ser encarado não no efeito mas na génese, na
história milenar. Ora quem deve fazer isto mesmo é a sociedade que se arvora em
esclarecida e desenvolvida.
Depois há outras questões que se levantam: tal
como fizeram os Estados Unidos, já há vários anos que é preciso rever as
políticas de imigração na Europa. Porém, sem o radicalismo que se adivinha. Como
é de supor, agora, em todos os países do velho Continente, a direita vai tentar capitalizar
este acto tresloucado e, justificando-se neste atentado, vai intensificar a
vigilância e coarctar cada vez mais os direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos autóctones e estrangeiros. Por sua vez a esquerda, sempre tão
dogmática, defensora dos oprimidos e cega à realidade, vai acerrimamente pedir
defesa contra o extremismo e a favor dos que vêm de fora. A questão é saber se, do que
vai restar desta dialética de interesses ideológicos, sairá algo de fraterno e
proveitoso para as nações europeias e muçulmanas.
Mais ainda, se por um lado nunca
se evitará totalmente a guerrilha terrorista urbana, enquanto meio de revolta –já
que cada um de nós pode ser um perigo em potência. Por outro, creio, no caso da
Europa, mesmo depois do golpe mortal em Espanha, a Comunidade Europeia enquanto
responsável por 500 milhões de almas, como se nada acontecesse, continuou sem prevenção
nas políticas migratórias.
Uma coisa é certa: cada vez mais vamos continuar
a assistir ao sacrifício do que resta da liberdade, que tanto custou a
conquistar, e escolher a segurança –que aliás são medidas que já conhecemos
bem. Os atentados das Torres Gémeas, em 11 de Setembro de 2001, vieram validar
todo o securatismo no mundo.
Como se adivinha, como sempre e mais uma vez a
quente, vai haver exageros. Era bom que, acima de tudo, imperasse o bom-senso. Sem
deixarmos pisar a nossa cultura, num equilíbrio necessário, deveremos respeitar
os costumes de outros povos e, intrinsecamente, estar abertos a quem vier por
bem. Nada pode justificar a morte de cidadãos inocentes. Para quem mata com
ferros, com ferros deve morrer.
2 comentários:
Parabens pela coragem e lucidez. NADA pode justificar o acto cometido. Mas tanbém NINGUÈM deve desrespeitar e ridicularizar quem pensa e sente de modo diferente. Nestes momentos são, claramente e em minha opinião, co-responsáveis e fácilmente aproveitados por movimentos extremistas que põem em causa, diáriamente,a Liberdade que tanto custou a conquistar.
Muito obrigado pelo seu comentário. Um grande abraço.
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