sábado, 31 de janeiro de 2015
O COSTA, DE CÁ

O António Costa, de cá, é pintor nas horas
vagas e empregado de mesa no Café Santa Cruz a tempo inteiro –ou o contrário,
nem sei! O que sei é que nos tempos mortos e nos períodos inteiros não promete
nada que não possa cumprir. É um Costa de costado largo, simples mas agarrado a
velhos conceitos a que muitos teimam em chamar valores. Pode até pensar-se que
este Costa, que está nesta costa de terra calma e urbanizada, enfiou a boina
para se colar ao Syriza e, de peito feito
dizer que está ao lado dos gregos e contra a ditadura dos especuladores dos
povos europeus. Podemos pensar em tudo, lá isso podemos! Mas sobre o que
podemos e não podemos, sobre a Grécia, Espanha e outros tantos como nós que se
arrastam na berma do precipício existencial da pobreza, eu não conversei nada
com o Costa, deste lado da costa! Só quis mesmo deixar a sua fotografia
vanguardista.
EU QUERO LÁ SABER?!?
EU QUERO LÁ SABER?!
Quero lá saber se o “orgon avariou”,
se está Sol,
chove, faz frio ou nem tanto,
já me basta
a situação em que eu estou,
“desampare-me
a loja” e, portanto,
que vá chatear
quem o prendeu, algemou,
às grilhetas
da desgraça, do desencanto,
da cegueira,
da solidão que o prostrou,
que tenho eu
a ver, se nem sou santo?
Juro por Deus, se me saísse o
Euromilhões,
comprava logo
um “orgon” para o Cortez,
até lhe dava
uma casinha em condições,
custa-me
tanto ver isto! É uma estupidez!
É uma injustiça, vivemos no meio de ladrões,
Faz-me doer
o coração! Ai que malvadez!
Vou ali à
igreja, vou rezar contra os vilões,
é um
escândalo esta miséria do Cortez!
LEIA O DESPERTAR...

LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Esta semana deixo o texto "LUGARES QUE ENCOLHEM MAS PARA OUTROS NEM TANTO".
LUGARES QUE ENCOLHEM MAS PARA OUTROS NEM TANTO
Terça-feira, 20 de Janeiro, 21h30 na torre
sineira da igreja paroquial de Luso. Está uma noite fria e pouco agradável para
se andar na rua. Na vila, outrora princesa dos lugares turísticos, nem um café
está aberto. A “Flor de Luso”, ainda
com luzes acesas no interior e com as duas funcionárias a limparem o chão, já
não aceita clientes.
Coimbra, Baixa da cidade, na mesma noite e uma
hora depois, 22h30. O Café Santa Cruz, o único café tradicional do género, está
aberto ao público mas sem um único cliente. Três funcionários aguardam por quem
não prometeu vir.
Dá para perceber que, para a
maioria, os lugares habitados, nos últimos anos e por razões várias, encolheram.
Deixaram de ser pontos de encontro, de transição entre o dia de labor e a noite
de relaxe, para serem, simplesmente, a passagem direta do dia e acabar em casa.
A consequência para a economia será incomensurável mas os custos sociais com a
saúde, com neuroses, depressões e outras doenças do foro psicológico, serão
inimagináveis. Porém, para uma minoria, sobretudo alguns políticos, e nem é
preciso que façam parte do governo social-democrata basta defenderem a cor do
autarca político, a evidência, em golpe de mágica, transforma-se em milagre da
multiplicação.
Vem isto a propósito das declarações de Rui
Duarte, presidente da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista, em
declarações à Lusa, quando falava, na terça-feira da semana passada, “durante uma conferência, depois de, na companhia dos presidentes da Agência
para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) e da Associação para o
Desenvolvimento da Alta de Coimbra (ADAC), ter efetuado "uma visita de
trabalho a quatro estabelecimentos comerciais" daquela zona da cidade”.
Disse Rui Duarte: “a atitude
inovadora" adotada por alguns empresários, que "resistem nestes
tempos de grandes dificuldades", está a "contagiar" outros
investidores e a redinamizar o comércio e serviços no centro histórico de
Coimbra. O fenómeno deve-se ao
dinamismo de alguns investidores, mas também à intervenção da Câmara Municipal,
que tem vindo a adotar medidas de incentivo à fixação de negócios nesta área da
cidade, como a isenção da derrama para as empresas com volumes de negócio
inferiores a 150 mil euros por ano.” –retirado do jornal Público e também
publicado pel’O Despertar.
Ora, com todo o respeito que me merece Rui
Duarte, estamos perante o que vulgarmente se diz ver o Sol através da peneira. É preciso constatar que -para além da
isenção da derrama que, embora o voluntarismo da ação, por incidir num pequeno
grupo de empresas sujeitas a IRC o efeito de dinamização é residual- a
autarquia, até hoje, retirando as ornamentações e as festas natalícias, incisivamente
nada fez para melhorar o comércio da Baixa. Já escrevi, o estímulo do tecido
comercial está a ser feito unicamente pelos pequeníssimos comerciantes que,
vindo de outros lugares desertos, aterram na cidade na esperança de poderem
sobreviver à vaga crescente de desemprego que marca as suas vidas sem rumo. Por
isso mesmo estes pequenos investimentos são transitórios e, com toda admiração
por estas pessoas, salvo um ou outro, não trazem valor acrescentado à cidade.
Em média, se posso escrever assim, estas apostas simples duram cerca de seis
meses. Todos trazem consigo uma fé inabalável de que, nos pequenos negócios em
que investem, conseguirão um pequeno ordenado que lhes permita viver com
dignidade. Porém, a curto prazo, a realidade é dura de mais para poderem recuar
e saem pior do que entraram.
A MENTIRA CONVENIENTE
Quem está embrenhado na Baixa, e conhece o que
se passa, sabe que, maioritariamente, os pequenos negócios estão todos
rebentados e carregados de dívidas, quer seja hotelaria, prestação de serviços
ou comércio. Embora envoltos em nuvens de silêncio, os dramas estão ao virar da
esquina. Os envolvidos não falam dos seus problemas pela vergonha de se exporem;
os bancos, os que melhorem conhecem esta realidade, fecham-se sobre o sigilo;
os representantes dos comerciantes desapareceram, como é o caso da ACIC, e hoje
o comércio está órfão e sem voz para reivindicar seja o que for. Subsiste a
APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, que é isso mesmo, uma
entidade de promoção e, tendo como parceiro maioritário no projeto de
dinamização a Câmara Municipal de Coimbra (CMC), naturalmente que não se pode
esperar outra coisa a não ser a concordância; a classe política, da Praça 8 de
Maio, se, por um lado, desconhece completamente, por outro, também, porque dá
jeito, não faz nada para tentar saber –aliás, é minha convicção que, para
sacudir a água do capote, até culpa os comerciantes pelo estado caótico a que
se chegou. É assim que todos, a conviverem no mesmo espaço, vão apontando um
caso ou outro de sucesso –como na visita de Rui Duarte- e fingem que não se
passa nada. Chegou-se a tal ponto da fantasia –para não lhe chamar
esquizofrenia- que até a morte de muitos é valorizada e mostrada como motor de
recuperação. Triste fim, este!
MAS, AFINAL, O QUE PODE FAZER A CÂMARA?
Por força do licenciamento desbragado de
grandes áreas comerciais, hoje o centro histórico atingiu um tal grau de
esgotamento que parece já nada o fazer reanimar. É claro que todos sabemos que
há sempre modo de dar a volta. A questão é: como?
Começamos por entrar numa grande superfície
comercial com carro. Calmamente estacionamos a nossa viatura sem pagar um
cêntimo. Tudo está organizado. Em dias de grande fluxo há arrumadores
contratados a orientar-nos –na Baixa o
estacionamento privado, dentro dos parques, é demasiado oneroso e afasta
clientes. O parqueamento público, nas ruas, é desorganizado, com um caos
constante no “salve-se quem puder”, e sujeito a constantes multas da Polícia
Municipal. Com algumas vezes esta polícia civil a exceder-se em zonas de acesso
importantíssimas.
Depois de parar no shopping subimos aos andares superiores e entramos numa réplica de
uma antiga rua citadina. Para quem não esteja habituado, encontramos um
ambiente agradável tendo em conta a estação do ano. Verificamos que nem um
papel jaz abandonado no chão –as artérias
da Baixa são porcas e sujas. Não por culpa dos funcionários da Recolte, a firma
contratada para apanhar os pequenos detritos, que fazem o que podem. Os
resíduos de grande dimensão continuam a ser recolhidos pelos funcionários da
edilidade –o que, pela separação de funções, custa um pouco a entender. O
problema de ter uma cidade velha continuadamente conspurcada reside
essencialmente em, por um lado, haver poucas papeleiras e, por outro, não se
apostar na formação dos residentes porta-a-porta. É normal haver lixo espalhado
a qualquer hora na via pública. O próprio asfalto é pouco cuidado com buracos e
lajes salientes que causam acidentes regularmente.
Estamos sentados e com um chá à frente, no
piso da hotelaria da área comercial e rodeados de muitas pessoas, umas a consumir
e outras a passear –as artérias da Baixa
estão cada vez mais desertificadas sem transeuntes, durante o dia e a noite. E
os poucos que querem adquirir produtos não têm capacidade financeira para o
fazer.
Ainda na grande área, olhamos para as várias lojas
de marcas e reparamos que todas têm reclames em néon a anunciar a marca que lhe
corresponde, o que nos transmite luz, cor e vida –os estabelecimentos de marca praticamente desapareceram desta parte
velha da cidade e assim como os anúncios de néon. Esta parte histórica, nos
seus becos e ruelas, está transformada em autêntico ambiente de cemitério, acinzentado,
sem cor, sem luz e desprovido de vivência. Os laços que a ligam ao passado
parecem ser deliberadamente enterrados em atmosfera bafienta e de desprezo pela
história. À nossa volta tudo parece estar em derrocada e apagamento da nossa
identidade. Há um contínuo desrespeito pelos nossos antepassados que, com suor,
lágrimas, tanto sofreram para edificar todo este património construído.
Continuamos sem gente de barba na cara com políticas para a sua reconstrução. O
problema é que nesta capitulação, onde o esplendor fenece, ao mesmo tempo,
vão-se também as pessoas que aqui lidam para almejar a salvação.
O licenciamento de publicidade deveria ser gratuito. Apenas deveria ser
obrigatório a apresentação do projeto. Por incrível que pareça esta medida
camarária de captação de receita também contribuiu para a morte anímica desta
zona de comércio tradicional.
Reparamos que até na grande superfície
comercial há lojas encerradas, porém estão todas com painéis desenhados e a
mostrar uma fachada urbana –na Baixa há
lojas fechadas há décadas e prédios abandonados nas mesmas condições e sem que
a autarquia mova uma palha para alterar esta situação. E o que poderia fazer?
Nos edifícios danificados, depois de esgotados os prazos de intimação ao
proprietário, cimentar as portas e janelas, pintar a fachada e remeter a conta
ao dono. Nas muitas lojas abandonadas há vários anos deveria a edilidade
contactar os titulares legais e, através de benefícios fiscais, como isenção de
IMI, tentar que as cedessem gratuitamente a termo. Seguidamente a CMC deveria
adjudicá-las também gratuitamente para se desenvolverem projetos de artes e
ofícios tradicionais e que tivessem por objeto fomentar a animação, incluindo
“whorkshops”, trabalhos oficinais –a Grécia, para combater o esvaziamento de
grandes galerias em Atenas, está a fazer isto mesmo e com resultados excecionais.
Na grande superfície são proibidos animais –no Centro histórico, diariamente damos com
os pés em dejetos de animais espalhados na via pública. Apesar de haver
posturas, as sanções não são aplicadas aos irracionais que levam os congéneres
pela trela.
Enquanto condomínio comercial particular e
fechado, tudo na grande área comercial obedece a centralização organizada.
Desde os horários de abertura e fecho até à divisão de um estabelecimento, até
ao plano de festividades para o ano em curso, tudo é decidido pela organização –o plano anual de atividades na Baixa, da
responsabilidade da CMC, continua, há décadas, a ser uma manta de retalhos.
Chegando a haver duas alegorias no mesmo dia e hora e próximas uma da outra. Por
outro lado, há na Baixa dezenas e dezenas de prédios com os pisos superiores em
péssimo estado, sem moradores, e somente com acesso pelo estabelecimento.
Sabendo que foram aprovados e estão aí novos incentivos para recuperar o
edificado destas zonas, é urgente que a CMC negocie com uma entidade bancária a
concessão de crédito mais barato. Para além disso, deveria contactar os
confinantes e, servindo de intermediária, ajudasse a encontrar uma solução para
criar uma entrada única para os edifícios aparelhados e dar-lhes o uso para que
foram criados.
ESTAMOS ENTREGUES A
INÚTEIS
Faltam políticos de garra. Gente de tomates
pretos que pegue de vez nesta situação de miséria social. Esta administração
local ainda não mostrou o que vale e continuamos na mesma como a lesma. O que
este executivo e outros anteriores gostam é de mostrar grandes obras, que deem
no olho e sejam ovacionados –nem que seja em palmadinhas de hipocrisia. Como
num círculo, a volta é sempre a mesma. Os que vêm a seguir pegam sempre nos
projetos anteriores, mesmo que constituam desastres financeiros para o futuro. A
“teta da vaca” é enorme e dá para tudo.
O que interessa mesmo é erigir. Se o custo da sua manutenção for explosivo, não
importa, alguém vai pagar. O resultado destas políticas de esbanjamento são,
salvo exceções, desgraças para os cofres públicos. Porque não começam nas
coisas simples em que, se forem ideias bem pensadas e conduzidas, nem é preciso
gastar muito dinheiro?
O que se pede, já agora, é que façam o favor
de serem sérios. Não continuem a fazer de nós parvos. Quem por cá teima em
sobreviver sabe muito bem o que se passa. Estamos todos fartos de apanhar
poeira nos olhos. Não precisam de nos aldrabar para alcançar um lugar ao sol. Façam
o que devem! É pedir muito, não é? Pois é! Já vi que sim!
sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...
Red Head Tours deixou um novo
comentário na sua mensagem "LUGARES QUE ENCOLHEM MAS PARA OUTROS NEM TANTO":
Bom dia!
Sou de Coimbra e resido em Gaia (sendo que vou ao Porto bem regularmente, afinal moro a menos de 30 minutos a pé de S. Bento).
Vou ao centro do Porto e vejo animação de rua, prédios a serem requalificados. Vejo dois Centros Comerciais (Via Catarina e Porto Plaza) mesmo no centro de uma rua comercial além de haver a Fnac e outras lojas. E vejo rios de gente a caminhar ali.
E depois há a Rua de Cedofeita e outras ruas bem próximas arranjadas ou mais ou menos (excepção para o velho Bolhão que continua com os seus vendedores que dão sempre uma ajudinha).
Vejo publicidade da cidade e região lá fora, além disso os particulares têm tido um enorme papel na revitalização da vida diurna e nocturna da cidade, seja com lojas, bares, restaurantes diferentes.
Infelizmente, há dias, andava pela Baixa de Coimbra e via degradação e via muitas lojas nada atraentes (há as suas excepções). Mesmo a Românica que tanto me encantava em criança tem imensos brinquedos empilhados e o eléctrico parado (quando poderia ser dinamizado e publicitado).
E sim, a publicidade. O arranjo, o dinamismo do actual edil (é importante também, em Coimbra temos quem temos e pouco ou nada vemos)....
Coimbra precisa de se reencontrar com a sua região, com a indústria (que tem feito a ACIC?), precisa de se promover (feiras, Internet, etc)....
E é preciso atrair juventude para residir na Baixa a preços em conta, é claro, isso também atrai pessoas.
Cumprimentos!
Lino Galveias
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
FUI BLOQUEADO NO FACEBOOK
Acabei de ser bloqueado no Facebook. Não posso
postar temas na rede porque, alegadamente, abusei de qualquer coisa que não sei
o quê. É uma tragédia? Claro que não. Antes de haver este instrumento de comunicação
já vivíamos. Por isso mesmo, no meu entender, dar demasiada importância a esta “sanção” –sem acusação e condenação em
processo sumário e a fazer lembrar o livro “O
Processo”, de Kafka- é fazer o jogo do dominador. As coisas só têm valor porque,
individualmente, lho atribuímos. Se cada um de nós pensar que vivemos bem sem
um qualquer instrumento considerado essencial viveremos mesmo. As necessidades
assentam essencialmente na psico.
Quero dizer que fazem parte de um processo mental, consciente, na origem e nos
efeitos, e dos comportamentos humanos, físico e social. Tenho para mim que a
sociedade hodierna, com toda a brutal oferta, é muito mais adita do que a do
tempo dos nossos pais. Somos mais felizes? Duvido. Estamos transformados em
marionetas de um sistema que, criando teias psicológicas de regulação, nos
aprisiona pela mente. Devemos obrigatoriamente reagir. Temos de largar estas ilusórias
grilhetas e mostrar a quem gere os cordões que somos capazes de voltar à mesma
existência pacífica que anteriormente seguíamos.
Voltando ao que me aconteceu, naturalmente que,
enquanto presumível inocente, me resta indagar os motivos de tal decisão. E já
cumpri esses trâmites. Se admitirem que houve erro, muito bem, continuarei no
site. Se continuar o bloqueio, agindo como ofendido e gente de bem, cumpre-me
dizer adeus e até qualquer dia.
Tenho reparado que este tipo “acidente” ou “incidente” está acontecer a muito boa gente. Estou a lembrar-me de
um senhor que, embora não conheça pessoalmente é muito reconhecido na cidade, lhe
aconteceu o mesmo: o médico Rui Pato. Achei graça quando recebi um abaixo-assinado
para eu subscrever e direcionado à administração do Facebook. Não assinei. Cá
no meu interior até sorri pelo voluntarismo do autor, ao dar tamanha
importância ao Facebook. No meu caso, e não vá o mentor fazer o mesmo,
mantenham-se serenos porque declino tal intenção de solidariedade. Se cada um
dos bloqueados, tendo em conta que estão a ser objecto de uma arbitrariedade,
apagarem a sua página, em revolta, acredito que, no futuro, quem manda nesta
rede social vai pensar duas vezes. Há muito mais mundo para descobrir sem
estarmos no Facebook.
LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..." leia o texto "AUTOMÓVEIS NA FEIRA DE VELHARIAS" e "O OUTONO... E AS NOSSAS VIDAS";
e na rubrica "OLHAR PARA NORTE... "A ÚLTIMA ODISSEIA DE HOMERO"
AUTOMÓVEIS NA FEIRA DE VELHARIAS
A última Feira de Velharias, a primeira de
2015 -que se realiza sempre ao quarto Sábado de cada mês- primou pela inovação:
teve dois automóveis usados no seu recinto e no meio dos espaços cedidos aos
vendedores de usados e antigos. Há muito tempo que ando a pregar aos peixes que este certame precisa de uma volta. O
aborrecido foi que, apesar de alguns curiosos pretenderem saber o preço das
viaturas, ninguém sabia responder, o que, só por isto, somente, constituiu uma
violação dos princípios da arte de comprar e vender. Sublinhei “somente” porque, provavelmente, não
deixa de ser um gozo dos os proprietários das viaturas para as polícias
–Municipal e PSP. Se é certo que mesmo levando em conta os papelinhos no para-brisas
e teriam sido multadas, há aqui uma dose de ousadia, em provocação, e uma certa
ironia: mostra bem o estado a que a Baixa chegou. Qualquer um estaciona onde
bem lhe apetece e pronto! Quem vier a seguir que grame o monstro! Sobretudo a
Praça do Comércio e a Rua Adelino Veiga são mártires, alegadamente por
implicação dos comerciantes instalados. Não deixa de ser curioso que no “ancien regime”, como quem diz no mandato
do anterior presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Barbosa de Melo, alguns
membros da, na altura, então oposição, do Partido Socialista (PS), eram os
primeiros a lançar cobras e lagartos
contra a “incúria” da Polícia Municipal. Agora, para além do PS estar à frente
do executivo e alguns destes membros até estarem dentro da autarquia a ocupar
lugares de relevo, não se vê um movimento de um dedo para resolver esta
questão. Este pelouro tem uma vereadora, não tem? Porque será que não faz nada?
Não terá, no mínimo, uma palavra a dizer?
Ainda esta semana, no jornal O Despertar, dois
comerciantes da Rua Adelino Veiga apontam o dedo ao desleixo rodoviário, no
deixa-andar, que se passa naquela artéria de trânsito diurno proibido. Há
qualquer coisa que não bate certo! Ou antes pelo contrário. Já se sabia que,
pessoas como eu, só refilam contra o poder por não fazerem parte desse mesmo
domínio. Portanto, aos senhores da Praça 8 de Maio, façam um favor aos leitores,
que fazem o obséquio de seguir os disparates que escrevo, não me ofereçam um
lugar.

O OUTONO... E AS NOSSAS VIDAS
Depois de dias longos, plenos de luz e cor, prenhes
de temperaturas quentes e vitalidade de mais um verão, que, pelo bem ou pelo
mal, por uma recordação qualquer, ficou preso na nossa memória, pé-ante-pé e
com sapatinhos de algodão, eis que devagarinho vai conquistando o seu território.
Começa por cortar no espaço dos dias,
tornando-os mais pequenos e mostrando que tudo o que é longo, inevitavelmente, se
tornará pequeno. Depois, vai impondo um progressivo calor tépido e mais frio,
como a sensibilizar-nos para a necessidade de tomar atenção de que os calores
não são eternos, e a seguir a um período “caliente”,
inexoravelmente, virá um frio de rachar.
Aí está o Outono. Depois de um revestimento de verde, como plumas a cobrir uma ave exótica, as árvores do nosso encantamento vão ficar despidas. Iremos, quase sem querer, numa qualquer avenida, chocar com uma folha amarelecida que, antes de outras que se lhes irão seguir, tendo-se desprendido de um qualquer ramo, de um qualquer plátano, esvoaça ao vento, ziguezagueando, por entre transeuntes, uns mais apressados outro nem tanto, que irão pontapeá-la ou pura e simplesmente ignorá-la, e nós, feitos poetas de ocasião, segui-la-emos. E nela, prendendo o nosso olhar entre o subir e o descer, ao sabor do vento e de um tempo imprecisos e ocasionais, gostávamos de nos deixar ir.
Aí está o Outono. Depois de um revestimento de verde, como plumas a cobrir uma ave exótica, as árvores do nosso encantamento vão ficar despidas. Iremos, quase sem querer, numa qualquer avenida, chocar com uma folha amarelecida que, antes de outras que se lhes irão seguir, tendo-se desprendido de um qualquer ramo, de um qualquer plátano, esvoaça ao vento, ziguezagueando, por entre transeuntes, uns mais apressados outro nem tanto, que irão pontapeá-la ou pura e simplesmente ignorá-la, e nós, feitos poetas de ocasião, segui-la-emos. E nela, prendendo o nosso olhar entre o subir e o descer, ao sabor do vento e de um tempo imprecisos e ocasionais, gostávamos de nos deixar ir.
As andorinhas, feitas viajantes
pela força da natureza, começarão a fazer as “malas” e, deixando desgostos ou frustrados desenganos, abandonarão
os seus beirais que, durante escassos meses, foram os seus lares e ali
assistiram ao nascimento dos seus filhos. Nestes ninhos deixarão mil
recordações mas mesmo assim, aceitando esta partida como natural e símbolo de
partilha, irão levar aos povos do norte de África o mesmo chilrear e a mesma
alegria, viva e sonora, que nos presentearam os dias. Para a próxima Primavera,
sem pungentes lamentos, num eterno retorno, aí estarão elas, novamente,
pujantes de força e refarão os berços para os seus novos filhos e comporão as
suas existências.
Assim é a nossa vida. Tão cheia de calor, como um verão solarengo, inevitavelmente, teremos períodos frios mas, como na natureza, em vai e vem, as temperaturas quentes retornarão. E, se por motivos imponderáveis, nos tornámos andorinhas de trouxa às costas, aceitemos com a mesma naturalidade com que aqueles passarinhos acolhem o seu destino fatalista. Não tenhamos medo de voar em frente. Quem sabe se no norte não estará um outro futuro sorridente. Porque, avessos ao risco e acomodados, haveremos de ter medo do desconhecido e de abandonar o nosso beiral? Serão apenas as recordações que nos prendem? Valerá a pena continuarmos no aconchego cómodo do ninho, mesmo não nos sentindo amados e pouco reconhecidos, só porque tememos os ventos estranhos do incerto? Porque não voarmos até ao norte? Se não nos dermos bem, com a mesma certeza de que amanhã será outro dia e no próximo ano haverá outra primavera, como as andorinhas a gozar o prazer da mudança, começaremos de novo, de palha-em-palha, a construir um outro lar, uma outra casinha.
A natureza é tão pródiga nos ensinamentos. E nós, como folha solta que somos, a esvoaçar ao vento e sem saber onde vai cair e que quando tombar vai desaparecer em pó, continuamos a teimar que controlamos o destino e somos donos de tudo e de todos. Esquecemos que somos somente a possível soma entre a nossa determinação e outras vontades indeterminadas. Como “invisuais” que vêem mas não querem ver… não vemos! O resultado desta cegueira é uma tragédia para a humanidade.
Assim é a nossa vida. Tão cheia de calor, como um verão solarengo, inevitavelmente, teremos períodos frios mas, como na natureza, em vai e vem, as temperaturas quentes retornarão. E, se por motivos imponderáveis, nos tornámos andorinhas de trouxa às costas, aceitemos com a mesma naturalidade com que aqueles passarinhos acolhem o seu destino fatalista. Não tenhamos medo de voar em frente. Quem sabe se no norte não estará um outro futuro sorridente. Porque, avessos ao risco e acomodados, haveremos de ter medo do desconhecido e de abandonar o nosso beiral? Serão apenas as recordações que nos prendem? Valerá a pena continuarmos no aconchego cómodo do ninho, mesmo não nos sentindo amados e pouco reconhecidos, só porque tememos os ventos estranhos do incerto? Porque não voarmos até ao norte? Se não nos dermos bem, com a mesma certeza de que amanhã será outro dia e no próximo ano haverá outra primavera, como as andorinhas a gozar o prazer da mudança, começaremos de novo, de palha-em-palha, a construir um outro lar, uma outra casinha.
A natureza é tão pródiga nos ensinamentos. E nós, como folha solta que somos, a esvoaçar ao vento e sem saber onde vai cair e que quando tombar vai desaparecer em pó, continuamos a teimar que controlamos o destino e somos donos de tudo e de todos. Esquecemos que somos somente a possível soma entre a nossa determinação e outras vontades indeterminadas. Como “invisuais” que vêem mas não querem ver… não vemos! O resultado desta cegueira é uma tragédia para a humanidade.

A ÚLTIMA AVENTURA DA ODISSEIA DE HOMERO
Na penúltima segunda-feira, repentinamente,
Homero Cristina Serra sucumbiu. Num labor simples agrícola, a podar videiras,
uma intensa e derradeira dor no peito conseguiu o que nem uma mina pessoal, na
guerra colonial e ao fazer amputar-lhe uma perna, almejou: derrubar o homem de
vontade férrea, humilde, íntegro e amigo de tanta gente.
O Homero foi presidente da Junta
de Freguesia de Luso durante 24 anos, seis mandatos consecutivos a representar
o Partido Socialista, e, mais que certo, afastado pela impossibilidade legal de
se poder recandidatar.
Conheci o “Mero”, como era reconhecido por todos, desde criança. Ambos
nascemos na mesma aldeia, a sua amada terra de Várzeas. O Serra era um varziense de gema. Tema de algumas
conversas passadas entre nós, para seu profundo desgosto, nem sempre foi compreendido
pelos seus conterrâneos.
Pedi algumas pessoas que de perto privaram e
acompanharam o seu percurso pessoal e político que me dessem o seu testemunho
acerca do homem que sempre admirei. Um deles é o Luís Fernandes (Peças),
natural de Várzeas e a viver no Luso há muitos anos. “O “Mero” era um tipo de pessoa capaz de dar a camisa para o próximo,
enfatiza. Qualquer freguês, independentemente
da cor política, sendo rico, remediado ou pobre, que lhe pedisse um favor,
mesmo quase impossível, ele fazia tudo para acorrer ao solicitado. Era um edil
amado por todos. Ele era aquela pessoa que estava a liderar a Junta de Freguesia
para ajudar o próximo. Era o modelo do que entendemos como servir a causa
pública. Se não estivesse limitado pela lei e se voltasse a candidatar-se ganhava
outra vez. Quando havia uma obra na freguesia ele estava lá. Acompanhava e
trabalhava ao lado dos operários. Era um homem do povo, simples e sensível aos
problemas alheios. Ele não distinguia ninguém. Eu lidei muito com ele. Os
varzienses nunca entenderam a razão da nossa aldeia ficar para última na
requalificação. Não souberam compreender que ele queria fazer da nossa terra a
melhor de todas mas, para isso, era preciso esperar pela aprovação dos projetos
candidatos a fundos comunitários. O “Mero” dizia-me muitas vezes: “Várzeas vai
ser diferente. Tu vais ver!”. E foi mesmo! Está lá uma obra digna de levar o
seu nome.”
Sílvio Gomes Fernandes, outro amigo de Homero
Serra e que o conheceu bem, diz o seguinte: “Foi
a figura com mais destaque nesta terra, dos burriqueiros –do Luso-, depois do
25 de Abril. Foi o melhor presidente da Junta de Freguesia de sempre.
Dificilmente, de quem vier a seguir, alguém ocupará o seu lugar com o mesmo
espírito de missão. Era um homem do povo. Muito dado e que vivia para resolver
os problemas dos outros. Era muito bem recebido em todos os lugares da
freguesia. Que eu conheça, não tinha inimigos pessoais. A haver seria a nível
político. Tinha uma frase muito engraçada para os designar: chamava-lhes
“caceteiros”.
Outro amigo que o conheceu bem foi o José Duarte
Moura. Ao meu pedido, respondeu assim:
“Não vai haver outro presidente da Junta como ele. Naturalmente que já foi
substituído e outros virão mas têm outros interesses calculistas, pessoais e
políticos. O “Mero” era diferente. Era a simplicidade em pessoa. Estava ali
para ajudar e nunca para medir as pessoas pelo que representavam na coletividade.
Não discriminava quem quer que fosse. Era amigo até do inimigo. Vou sentir
muita saudade dele e acredito que muitos mais sentirão o mesmo. Foi num choque
muito grande!”
Nesta homenagem singela ao homem simples, em
meu nome, em nome de milhares de fregueses, constituídos por lusenses,
varzienses e povoações limítrofes, que acredito sentirem o mesmo, para a
família enlutada um abraço de solidariedade nesta hora de tão grande
sofrimento. Para o “Mero”, em sua
memória, nesta despedida sem avisar, uma grande salva de palmas!
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
A ARTE E MANHA DO TESO
Há dias, na tasca onde almoço diariamente,
apreciei o desenrascanço, o desembaraço,
de um sujeito que conheço aqui das ruas, por me cruzar várias vezes por ele.
O homem entrou com cara granítica,
de mau humor, e chamou pela dona do estabelecimento. “Estou muito aborrecido, sabe?” –interrogou. Vieram-me dizer que a senhora contou que eu estou aqui a dever uma conta
grande. É verdade? Quanto muito, creio, serão uns dois euros! Aliás, ainda não
paguei porque estive internado no hospital. A senhora soube? Dê-me um copo, se
faz favor!” –ordenou. E a mulher deu. “Com
franqueza, não está certo! Quem ouvir até há-de pensar que não pago as minhas
contas! A senhora sabe que eu sou certinho, não sabe?” –a patroa, meia
encavacada pela audácia do homem, lá ia dizendo que sim, que ele era sério, e
que não mandou recados e que quando falava era de olhos-nos-olhos.
O homem acabou de beber o vinho do copo e
perguntou: então, diga-me quanto lhe devo agora? “Dois euros e cinquenta”,
respondeu a visada. “Está bem, então
aponte aí que amanhã ou depois pago. E faça o favor de não mandar mensagens a
ninguém! Eu sou muito sério! Que diabo!?!”
"ESTADO SOCIAL DEBATE-SE EM COIMBRA"
"Na próxima quinta-feira, dia 29 de Janeiro, o Estado Social em 4 países europeus vai estar em debate em Coimbra na Faculdade de Direito."
COMPAREÇA!
O PSICOPATA

A noite passada estava fria. Faltava pouco
menos de uma hora para a meia-noite. O velho estava de joelhos no chão da
calçada a rasgar as calças com declarada fúria e uma ladainha imperceptível. Ao
seu lado um saco plástico que embarrigado conteria não se sabe o quê. Era um
homem com cerca de 65 anos, magro, altura média e cabelos brancos atados em
rabo-de-cavalo. Primeiro parei ao seu lado e avaliei a situação. Durante uns
segundos, talvez minutos, tentei apreender o que o motivava aquela raiva. Como
não entendia a sua linguagem arrastada tomei-o como estrangeiro. Avancei então
para o cumprimento e oferta de auxílio: boa
noite! Precisa de ajuda?
Ele continuou a lamuriar até que
levantou os olhos na direcção dos meus. Pensei para mim que estaria embriagado
ou drogado. Continuei a tentar estabelecer um diálogo e percebi que falava
português. Ao mesmo tempo que lhe estendia a mão para o ajudar a soerguer-se e
perguntando o que se passava. Ergueu-se mas tombou imediatamente para trás e
teria caído de costas caso não o agarrasse no limite. Amparei-o e encostei-o a
um carro ali estacionado. Com uma mão a segurá-lo ia falando com ele para tentar perceber o que
se passava e interroguei se precisava que o levasse a qualquer lado, mas o
homem não seguia o meu raciocínio e parecia não ouvir. Entredentes, com a voz
entaramelada e em aparente sofrimento, repetia: “deixe-me, vá-se embora! Sou perigoso! Mato qualquer um com a maior das
facilidades! Não consigo controlar… é uma potência que sinto cá dentro, um
desejo de matar” –ao mesmo tempo com a mão direita encostada à minha barriga,
creio que com dedos amputados, fazia o trejeito de premir um ilusório gatilho –numa
estranha forma de ser, sempre que encontro um personagem estranho sou tocado
pela curiosidade e sou atraído como mosca pelo mel. Salta cá de dentro o meu
lado de "escritor", ou talvez "psicólogo" –que teria sido noutra vida, quem sabe?-
e, perante um quadro assim, procuro perceber o lado obscuro do humano.
Imediatamente intuí que tinha ali à minha frente um exemplar raro.
Provavelmente um psicopata, uma pessoa com um transtorno de personalidade
anti-social, alguém que tinha noção de que não conseguia evitar o mal mas esta
percepção criava-lhe uma terrível angústia bipolar. Por pouco tempo e sem ter
ideia do perigo que corria, imaginei estar perante um Annibal Lecter –o personagem
criado pelo escritor Thomas Harris e passado a filme com o nome de “Silêncio dos Inocentes”, de 1991.
Continuei a ouvir as frases entre-cortadas do
homem. Reparei que tinha o nariz achatado, de boxeur, e no centro, na cana, tinha
uma pequena cicatriz. Numa espécie de diálogo de surdos, ao mesmo tempo, ia
perguntando se já matou alguém ou esteve preso. Na resposta, entrecortada em
gemidos, ouvia: “deixe-me, eu sou
perigoso… eu não controlo esta potência que me vem cá de dentro… esta vontade
de matar!”
Foi então que ele estendeu as mãos
em direcção ao meu pescoço. Talvez porque estivesse à espera, ou não,
desviei-me e fiquei com as suas mãos agarradas à minha roupa. Uma no ombro e
outra na minha camisola junto à gola da camisa. À distância de um braço, sentia
a tensão e a força que o homem exercia sobre o meu corpo. De repente dei por
mim a calcular o que poderia fazer naquela circunstância. Perigo não corria,
sou ágil, pratico uma arte marcial e sinto-me em forma. E mais, no mínimo ainda
me consigo entender com um velho e presumivelmente bêbado. Para minha defesa, agredir
o homem ficou para última decisão –até porque não sou capaz de o fazer sem que
alguém o faça primeiro. A minha primeira determinação foi tentar safar a minha
camisola nova que me tinha custado um dinheirão há pouco tempo. Optei pela
palavra de apelo à calma. Tenha calma,
que não lhe quero fazer mal! Tenha calma!, repetia até à exaustão e durante
minutos que pareceram uma eternidade. Até que consegui livrar-me das suas
garras. Virei costas e deixei lá o presumível monstro a falar sozinho. Como se
não entendesse por que o abandonei, o homem apelava: “ó vizinho, ajude-me! Ó vizinho!”. Com o meu coração a bater
fortemente, continuei a ouvir o apelo do animal em jeito de homem até ao virar
da esquina onde me embrulhei na escuridão.
LEIA O DESPERTAR...

LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "DEVE & HAVER DE UMA BAIXA QUE TEIMA EM RENASCER", deixo também a crónica "A RUA DO DESRESPEITO TOTAL"; "PEPE RÁPIDO À SOLTA NA BAIXA"; e "O QUE SE PODE FAZER COM ISTO? QUE JUSTIÇA É ESTA?".
DEVE & HAVER DE UMA BAIXA QUE TEIMA EM RENASCER
Óbitos: Em final de Dezembro morreu a Casa Sousa, na Rua Adelino Veiga e com frente para o Largo
das Ameias. Silenciosamente como os velhos que estão fartos de viver nesta vida
sem eira nem beira, e querem dar o último suspiro sem darem nas vistas, assim,
igualmente, se apagou este ponto de venda que, durante muitos anos, fez parte
do roteiro comercial da zona histórica. Este reputado estabelecimento de
tecidos a metro e outros têxteis, estaria ali implantado e por lá fez vida
durante cerca de vinte e poucos anos, foi substituir, na altura, uma loja de
ferragens que já vinha de outra, a da “Viúva
Alves Vieira”.
Transferências: A Fotografia Coimbra, um conhecido
estabelecimento de reprodução de imagem, situada há décadas no número 49 da Rua
Adelino Veiga, um pouco recuado e fora de vistas, passou para o 47 e com
visibilidade para todos os passantes. Agora, para além de continuar a oferecer
o seu saber na arte de retratar, vende também adereços para convidados de
casamentos e noivas. Agostinho Monteiro, o gerente, foi-me adiantando: “a fotografia morreu mas eu nego-me a
fazer-lhe o funeral. Foi por ela que eu vivi tantas e tantas décadas e dediquei
o meu amor. Por isso mesmo quero continuar com ela todos os dias mesmo sabendo
que já não respira. Foi por ela que me transferi para aqui, tentando resistir.”
Nascimentos: Na Rua da Sota, número 42, por trás do Hotel Astória, nasceu recentemente o “Sonho de Unhas”. Com as suas cores de
rosa suave no salão onde vai crescer, é um bebé muito talentoso ligado à beleza
e à estética e que a mãe, a Inês Silva, colocou neste mundo, da Baixa, de
braços abertos. Naquele salão prodigioso onde as maravilhas acontecem há vários
serviços disponíveis como, por exemplo, unhas de gel, gelinho, verniz gel e
serviços gerais de manicura. Para além de um trabalho de excelência, os preços
são uma agradável surpresa. Pode fazer marcações e visitar a sua página no
Facebook.
Com todo o contentamento da vizinhança, pela
originalidade, deu à luz recentemente na Rua da Fornalhinha, número 11, o atelier José Art. O pai do menino é o José Rosa, que é licenciado com o
curso superior de artes plásticas, e vem da zona da Mealhada na procura de novos
horizontes. Na sua oficina, para além de vender obras de arte, dá aulas de
pintura, promove whorkshops
temáticos, cede o espaço para exposição a outros artistas, realiza restauros em
pintura sobre tela, arte sacra, em madeira e faiança, e, para além disto,
produz e vende bijuteria artística.
Com um grande abraço de boas vindas, nasceu
recentemente, na Rua do Corvo, número 82, ao lado da Ricarlina, o Leão da Serra. Os progenitores do valente de juba são a Isabel Esteves e o
Pedro Batista, um afetuoso casal que veio da Covilhã em busca de outra
perspectiva e que pela sua natural bonomia captam imediatamente a nossa
simpatia. Na sua loja vendem produtos endógenos da região de qualidade
certificada. São tantos, tantos e tão bons, que até sinto dificuldade em enumerá-los
como, por exemplo, os pastéis de cereja da zona do Fundão. Desde o mel, doces
variados, queijo da serra, enchidos de fazer estalar o palato e até aos vinhos
serranos, à ginjinha em copo de chocolate e, ai senhor!, aquele licor de castanha
que eu lá bebi! Que poção mágica espetacular!!
Andava o espírito de Natal envolto em nuvens
dezembrista de amor pela Baixa, com o Menino Jesus a espreitar, quando a Vânia
Dias e a Soraia Pimentel mostraram a todas as mulheres de boa vontade, no rés-do-chão
do Centro Comercial Visconde, na Rua Visconde da Luz, o seu Visconde Nails. Neste bonito
estabelecimento, cheio de luz e cor, todos os seus clientes têm um serviço
personalizado de unhas de gel, manicura normal, pédicure, extensão de pestanas,
depilação de buços e sobrancelhas. Com ênfase, como alguém que sente que está a
fazer tudo o que pode, diz-me a Vânia que “felizmente
está tudo a correr muito bem. Estamos a caminhar em direção a um futuro que,
com o nosso esforço e apoio dos nossos amigos, esperamos que seja profícuo.”
A RUA DO DESRESPEITO TOTAL
Os mais velhos certamente se lembrarão que a
Rua Adelino Veiga, até há cerca de uma vintena de anos, foi a mais importante
artéria comercial da Baixa. Progressivamente foi decaindo, decaindo até a um
estertor incomodativo. Os motivos apontados para este definhamento são vários. Uns
apontam que foi o encerramento de grandes casas comerciais como a Fetal, o Saul Morgado e as Modas Veiga
–o Veiga transferiu a sua marca registada para a Rua Eduardo Coelho onde se
encontra de pedra e cal. Outros, com mais consistência, repetem que tudo teria
começado com a abertura da saída lateral da Estação Nova para a Rua António
Granjo e, ao mesmo tempo, a mudança das paragens de autocarro do Largo das
Ameias para a mesma rua do Mini Preço.
Sem colocar de lado todas as premissas, invocam os donos da segunda teoria que
o resultado final nos últimos anos, numa desertificação contínua para o
arruamento do Poeta Popular, foi
catastrófico para todos quantos lá fazem pela vida.
Como um mal nunca vem só, nos últimos tempos
esta via passou a ser uma “autoestrada”,
nas palavras de Agostinho Monteiro, comerciante ali implantado há muitas
décadas e a lutar por uma dignificação necessária e legítima e que deveria ser reconhecida
pelas autoridades competentes. Diz Agostinho, “é uma vergonha o que está acontecer! Apesar de ao fundo da rua haver
sinalética a proibir o trânsito, depois das 10 da manhã, isto é uma Scut, estrada
sem custos para o utilizador. Durante todo o dia passam aqui automóveis a
grande velocidade. Sempre que saio da minha loja, para não ser atropelado, sou
obrigado a colocar a cabeça de fora. Alguns comerciantes da rua são os próprios
a prevaricar e outros da Praça do Comércio fazem o mesmo em completo
desrespeito por quem aqui trabalha. Já falei com agentes da Polícia Municipal
(PM) sobre este abuso e aconselharam-me a fazer um abaixo-assinado. Há uns
meses passou aqui o Presidente da Câmara Municipal, Manuel Machado. Para além
de lhe mostrar o nosso problema e no momento até passar um automóvel, falei com
ele e até agora nada foi feito. Tudo continua na mesma como a lesma! Para que
servem os pinos que custaram tanto dinheiro ao erário público e até foram
colocados na sua anterior governação –por volta do fim do milénio- e estão inativos? Estamos para aqui
abandonados. Ninguém nos liga! É um desânimo o que estão a fazer connosco!”
António Brito, outro reputado comerciante na
Rua Adelino Veiga e que pela sua antiguidade conhece até as pedras da calçada
pelo nome, afina pelo mesmo diapasão: “o
dinheiro que gastaram –cerca de 16 mil contos, hoje 80 mil euros- não valeu nada! Num desprezo total, são os
próprios comerciantes, desta rua e da Praça do Comércio, que fazem tábua rasa
do sinal de trânsito de proibição colocado lá à frente. Estamos para aqui desprezados.
Olhe que até com a falta de luz levamos. Ainda ontem mostrei à minha mulher a
escuridão reinante. Sinto-me a lutar contra o vento. O meu sentimento,
confesso, é de desalento. O que tenho de fazer para ser ouvido? Até já liguei
para a PM por causa de uma viatura que esteve aqui estacionada todo o dia, ninguém
apareceu. Com franqueza, estou tão cansado de tudo isto que até me faltam as
palavras!”
“PEPE RÁPIDO” À SOLTA NA BAIXA
Na segunda-feira, dia 5, pelas 16h30, Adélia
Cardoso, de cerca de setenta anos de idade, descia calmamente as escadas do
Gato, junto ao Largo da Portagem, foi quando um indivíduo, esguio e de pé
ligeiro, por trás lhe arrancou a carteira e se colocou em fuga pela Travessa do
Gato, lateral à Rua Sargento Mor. Segundo testemunhas que presenciaram o roubo,
era um tipo novo –uma senhora espectadora teria mesmo visto as suas feições
porquanto o sujeito esteve parado anteriormente junto a uma montra-, de cerca
de vinte e poucos anos, magro, vestido com calça larga e blusão azul-forte.
Segundo uma testemunha com quem falei, “foi tudo muito rápido. Eu vi-o subtrair a
carteira à senhora e enquanto andei cerca de cinco metros, o ladrão, perseguido
por um rapaz que não conseguiu acompanhar o seu passo, percorreu cerca de
cinquenta e em direção ao Largo do Romal.”
Posteriormente, a carteira com os
documentos seria encontrada na garagem do Hotel Oslo. Foi a gerência deste
estabelecimento hoteleiro que fez a comunicação.
João José Cardoso, filho da
vítima, passado cerca de uma hora, juntamente com a mãe apresentaram queixa na
2ª Esquadra da PSP. São dele estas declarações: “foi um auto perfeito. O agente perguntou se a minha mãe precisava de ir
ao hospital. Ela respondeu que não. Ele tomou nota da ocorrência, na
participação, e mais nada! Foi como se tivéssemos ido a uma repartição pública.
Em juízo de valor, senti que o polícia recebeu a participação como se fosse uma
banalidade. Como se, anteriormente recebesse muitas mais e este caso fosse o
seu diário.”
Este seu desabafo de João Cardoso pode parecer
algo contraproducente mas não é. O indivíduo, que apelido de “Pepe Rápido”, alegadamente tem andado
por aqui, a dar várias palmadas a
particulares e a comerciantes. O método é sempre o mesmo: pega em correria o
que pode e desaparece. Está de ver, portanto, que é um passarão conhecido e que se move muito bem por estas ruelas
estreitas. Embora os prejudicados não apresentem queixa, pelos valores
despicientes em causa, já vários sentiram a sua mão ligeira.
Já há uns anos para cá, tirando o pequeno
tráfico, felizmente a Baixa, de dia e de noite, é segura. Por conseguinte este ladrãozeco esguio e bem-sucedido, para
além de borrar a pintura, parece que
anda a fazer pouco das brigadas à civil da PSP. O que é que se passa?
O QUE SE PODE FAZER COM ISTO? QUE JUSTIÇA É ESTA?
“Maria”, filha única, é uma moçoila linda que ainda não soprou as
quarenta velas. Os seus olhos eloquentes, para onde quer que se fixem,
expressam luz e espiritualidade. Mora numa terra próxima do mar há cerca de uma
dúzia de anos e, depois de um casamento falhado, desde quando se prendeu de
amores pelo seu atual companheiro. Desta paixão nasceram dois rebentos que são
o âmago da sua existência, a projeção de si mesma, um agora com 12 anos e outro
com metade.
Com o passar dos anos Maria depressa se
apercebeu que o reservatório do seu amor tinha um fundo duvidoso. Ora a trocava
por outra, ora o afeto, tão presente nos primeiros anos, desaparecia como nuvem
em quente verão. Para além disso, trabalhar para custear as despesas da casa
era um esforço impossível para a sua débil vontade. Sendo as relações um
universo entrelaçado que só subsiste pelo apoio contínuo, naturalmente que
aquela ligação passou a ser tudo menos de firmamento. E as primeiras cominações
do homem para a mulher, como ervas daninhas a emergirem de um pântano de águas
turvas, começaram a surgir a todo o momento. Da verbalização à prática foi um
pulo e Maria começou a sentir na pele as pancadas que lhe esmagavam o corpo e
dilaceravam a alma. A ameaça de abandonar aquela vida de martírio começou a germinar
na sua cabeça e a tomar forma na sua boca. A resposta do opressor foi afogar-se
em álcool e recorrer a chantagem, na advertência de lhe retirar os filhos. E
Maria foi aguentando aquela tortura física e mental. Mas toda a atrocidade para
quem a recebe tem um limite. Com o tempo, mesmo bebendo diariamente o veneno
que a torna quebradiça, sem nada fazer por isso, a vítima vai fortalecendo,
deixa de sentir a dor, e vai criando uma revolta que a há-de fazer sair do
círculo que a mantém prisioneira.
Sendo a casa de sua propriedade e fruto do
anterior enlace, há cerca de dois meses mudou para outro quarto e passou a
dormir com o filho mais novo. Foi o desencadear de novas ações violentas. Há três
semanas, pouco depois do Natal, a meio da noite e toldado pelo etílico, o
companheiro irrompeu pelo quarto e, à frente do filho mais novo, violou e pela
força obrigou a mulher a manter relações sexuais. Foi o clique que faltava para
acender um rastilho de uma bomba que se adiava em explodir. E Maria foi
apresentar queixa na PSP. O dominador foi contactado e sinalizado pela polícia
e em resposta aumentou a pressão sobre a companheira, retirando-lhe os cartões
de crédito e o telemóvel. Entretanto submeteu a mulher e os filhos a entrar no
automóvel e, sobre ameaça de morte, obrigou-os a acompanharem-no a uma vidente
numa localidade com praia e ali próximo. Em desespero de causa, a “raptada” conseguiu contactar a mãe e
contar-lhe o perigo e a aflição que juntamente com os seus filhos estavam a
correr. A progenitora contactou a PSP e foi montado um cerco na sua vinda. Para
além do inquérito aberto, foi imediatamente aconselhada a sair com os filhos da
casa familiar –lembra-se que a habitação está em seu nome. Enquanto o tirano se
mantém em casa, foram morar para junto de uma família amiga. Durante duas
semanas esta prole desfeita viveu um calvário sem precedentes, sobretudo pela
liberdade de movimentos do déspota que, para além de tentar resgatar os filhos
na escola, continuou a intervalar com a mulher juras de amor e ameaças de
morte. Pergunta-se, como estará a mãe, avó dos miúdos, a viver toda esta
situação? Como estarão as duas crianças a passar por tudo isto?
Esta semana, sobre o âmbito da APAV,
Associação de Apoio à Vítima, secretamente, abandonou a cidade onde viveu os
últimos anos e partiu para local desconhecido para todos e mesmo para a sua
própria mãe. Interroga-se outra vez: perante esta partida como fica a mulher
que pariu esta mártir? Que sentimento de revolta será tomada esta mãe para com este
sistema que pouco faz para neutralizar o dominador e impõe demasiados
sacrifícios a quem apanha por tabela este padecimento? Que justiça é esta? Que
deixa o opressor em liberdade, na casa que não é sua, e penaliza a vítima a transferir-se
de mochila às costas e a desmanchar tudo desde laços familiares até largar o
seu emprego de funcionária pública?
Só para lembrar e segundo o último relatório
do Observatório de Mulheres Assassinadas da União Mulheres Alternativa e
Resposta (UMAR), na última década morreram 398 mulheres vítimas de violência
doméstica. Dizem os relatórios que é causado pelo ciúme e dificuldade em
aceitar a separação, mas também por falta de intervenção imediata por parte das
autoridades.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
FALECEU HERMÍNIA LOUREIRO

Partiu esta noite para a eternidade Hermínia
Loureiro, uma vetusta e respeitada moradora da Baixa. Embora passasse algumas
vezes por ela não tinha muito conhecimento com esta reputada senhora –isto, de
certo modo, para justificar a minha ignorância de mais informação. Sei apenas
que era viúva de Alfredo Misarela Loureiro, alegadamente um grande antifascista
e que também amava a Baixa como poucos. Hermínia, de 90 anos de idade, era mãe de Helena Loureiro e
avó da Raquel. Estas sim, mãe e filha, conheço-as a ambas. São pessoas sensíveis
e com uma personalidade bem vincada na actividade política, da Baixa e da
cidade.
O velório de Hermínia Loureiro
realiza-se hoje e amanhã na igreja de Nossa Senhora de Lurdes, em Montes
Claros. Do pouco que sei, o funeral será na quarta-feira e terá como destino a
Figueira da Foz.
À Helena Loureiro e ao marido, Joaquim
Rodrigues, à Raquel Misarela e ao filho Tomé e a todos os familiares, nesta hora de
dor e acentuado sofrimento, em nome de todos quanto estimam esta família, os
nossos sentidos pêsames e um grande abraço de consolo e solidariedade.
sábado, 24 de janeiro de 2015
AUTOMÓVEIS NA FEIRA DE VELHARIAS
Hoje a Feira de Velharias, a primeira de 2015
-que se realiza sempre ao quarto Sábado de cada mês- primou pela inovação: teve
dois automóveis usados no seu recinto e no meio dos espaços cedidos aos
vendedores de usados e antigos. Há muito tempo que ando a pregar aos peixes que este certame precisa de uma volta. O
aborrecido foi que, apesar de alguns curiosos pretenderem saber o preço das viaturas,
ninguém sabia responder, o que, só por isto, somente, constituiu uma violação dos
princípios da arte de comprar e vender. Sublinhei “somente” porque,
provavelmente, não deixa de ser um gozo dos proprietários das viaturas para
as polícias –Municipal e PSP. Se é certo que mesmo levando em conta os
papelinhos no para-brisas e teriam sido multadas, há aqui uma dose de ousadia, em provocação, e
uma certa ironia: mostra bem o estado a que a Baixa chegou. Qualquer um estaciona onde bem lhe apetece e pronto! Quem vier a seguir que grame o
monstro! Sobretudo a Praça do Comércio e a Rua Adelino Veiga são mártires, alegadamente por implicação dos comerciantes instalados. Não deixa de ser curioso que no “ancien
regime”, como quem diz no mandato do anterior presidente da Câmara
Municipal de Coimbra, Barbosa de Melo, alguns membros da, na altura, então
oposição, do Partido Socialista (PS), eram os primeiros a lançar cobras e lagartos contra a "incúria" da
Polícia Municipal. Agora, para além do PS estar à frente do executivo e alguns destes
membros até estarem dentro da autarquia a ocupar lugares de relevo, não se vê
um movimento de um dedo para resolver esta questão. Este pelouro tem um
vereador, não tem? Porque será que não faz nada? Não terá, no mínimo, uma palavra a dizer?
Ainda esta semana, no jornal O Despertar, dois
comerciantes da Rua Adelino Veiga apontam o dedo ao desleixo rodoviário, no
deixa-andar, que se passa naquela artéria de trânsito diurno proibido. Há qualquer coisa
que não bate certo. Ou antes pelo contrário. Já se sabia que, pessoas como eu, só refilam contra o poder
por não fazerem parte desse mesmo domínio. Portanto, aos senhores da Praça 8 de
Maio, façam um favor aos leitores, que fazem o obséquio de seguir os disparates
que escrevo, não me ofereçam um lugar.
ABRIU A LOJA PORTUGAL MOEDAS
Depois de uma remodelação intensa ao espaço
anteriormente ocupado pela desaparecida Foto
Gaspar, na Rua Visconde da Luz, número 62, abriu hoje o Portugal
Moedas. Neste moderno estabelecimento pode encontrar-se praticamente tudo
quanto esteja ligado mundo do coleccionismo. Desde notas e moedas nacionais, estas, cunhadas no princípio da nossa identidade, passando por todos os reinados da
Monarquia, desde Afonso I -1128 a 1185- até D. Manuel II -1908 a 1910- e após, já
na República, chegando aos nossos dias, até mais remotas, dos séculos I e II
Antes de Cristo, e conhecidas Hispano-romanas ou Ibéricas. Os instrumentos de
troca, da representação fiduciária das ex-colónias, são às centenas e divididas
em muitos álbuns. Naturalmente que o universo da filatelia não poderia ficar
esquecido e os selos ocupam uma grande estante nesta bonita loja. Noutra ainda, os
postais, as medalhas e os manuscritos antigos e diverso material de apoio
parecem pedir ao coleccionador para os levar consigo. É um museu interactivo em
que cada acessório, moeda, nota, subscrito, manuscrito, é um relato da história
antiga e contemporânea. Uma boa notícia, pelo meu conhecimento da área, posso
afirmar que os preços, no geral, estão muito abaixo dos valores indicativos de
mercado. Reparei também que foi um investimento de monta, sobretudo em
segurança. Desde portas blindadas até a um sistema de video-vigilância sempre
ligado, 24 sobre 24 horas, nada ficou no acaso. Muito interessante, sem dúvida!
Quem nos vai falar deste sonho tornado
realidade é o seu mentor, o Luís Filipe Costa Vieira. “A numismática, as moedas, e a notafilia, as notas, cédulas e bilhetes,
sempre foram a minha paixão. Claro que fui alargando para o coleccionismo em
geral. Isto é genético, o meu avô e o meu pai também foram tocados por este
bichinho. Já há muitos anos que, aos fins-de-semana, fazia feiras. Também para
aumentar a minha colecção, comecei a comprar e a vender nas de rua, que são
generalistas, e depois fui evoluindo até só frequentar as temáticas como, por
exemplo, a Feira Internacional de Lisboa. Até que o destino me presenteou com
um outro caminho. Até ao princípio do ano passado, em que me desliguei do
cargo, fui director industrial numa empresa de iluminação decorativa. Então, comecei
a idealizar abrir um negócio meu e que estivesse ligado ao coleccionismo. Pensei em
Aveiro mas, como tinha aqui em Coimbra muitos clientes e alguns deles começaram
a desafiar-me para abrir cá, acabei por lhes fazer a vontade. Acho que fiz bem.
É uma área de mercado que está pouco explorado em Coimbra e, por isso mesmo,
tenho a certeza de que constituo uma mais-valia para a Baixa, venho apenas
complementar, e não fazer mal a ninguém. Aproveito a oportunidade para convidar
os leitores a visitarem o meu espaço. Tenho a certeza de que não se
arrependerão. Deixo também os contactos: o telefónico, 239152755/938406867; o e-mail,
geral@portugalmoedas.com.pt e
o blogue www.portugalmoedas.com.pt
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..." leia o texto "A SOCIEDADE DE PAPEL"; e na rubrica "OLHAR PARA SUL... "A RETIRADA DAS ORDENS"
A SOCIEDADE DE PAPEL
Em jeito de introdução poderia começar por
questionar que semelhanças existem entre os chefes de governo e chefes de
Estado e os adquirentes do jornal satírico Charlie Hebdo e os presidentes das
câmaras envolvidas no projeto do Metro Ligeiro de Superfície e muitos apoiantes
deste transporte alternativo para a cidade de Coimbra e zonas limítrofes? Sem
entrar em grandes análises, para já, constata-se: todos estão a favor. Mas a
favor de quê?
Vamos primeiro observar o comportamento dos estadistas
que se dirigiram a Paris à manifestação –incluindo o nosso primeiro-ministro,
Passos Coelho. Foram por ir. Porque parecia mal não estar presente e era
politicamente incorreto não fazer parte de uma demonstração de 1,5 milhão de
pessoas. Poder-se-ia pensar que estavam ao lado dos islamitas, ou dos
terroristas, ou que eram neutros –hoje não se pode mostrar neutralidade. Por
cá, no parvalhómetro, ser neutro é
sinónimo de fraqueza. Ou se é preto ou se é branco! Já nos bastou Salazar com o
“nim” na Segunda Grande Guerra.
Então, numa hipocrisia facilmente
desmontável, cerca de meia centena de grandes políticos viajou para a capital
francesa beijar a mão ao presidente Hollande e dar um beijinho a Merkel e foi
fotografada em grupo e a dar a impressão que encabeçava a manifestação de
repúdio pelo atentado. Veio depois a saber-se que nunca estiveram junto do povo
anónimo. Ou seja, a enganar todos os seus eleitores representados e a
comunicação de todo o mundo, estes “Maria-vai-com-as-outras”
nem mentir souberam. Por outras palavras, nunca estiveram preocupados com o
terror urbano mas apenas com os seus interesses de imagem e pessoais.
No tocante aos adquirentes do periódico, que
sofreu o atentado e que se colocou nas bancas de França e do resto do mundo numa
edição de 3 milhões em vez dos habituais 60 mil exemplares que rapidamente
esgotou e deu origem a uma nova tiragem, os que os moveu foi o interesse
egoísta por pensarem que cada jornal deste número especial poderá vir a valer
muito no mercado –é de admitir que esta paixão súbita e assolapada acabe em
acusação de culpa e repulsa e dê em afastamento e encerramento do jornal a
médio-prazo. A atenção e sensibilidade sobre a tragédia que se abateu sobre as
famílias enlutadas e sobre a Europa resumiu-se a uma conveniência rasteira e
maneirinha.
Na parte que toca aos apoiantes do Metro -e
levando em conta o Diário as Beiras,
de 14 último, em que se publicita a notícia do Governo em considerar o anteprojeto
insustentável-, passando pelos presidentes das Câmaras Municipais de Miranda do
Corvo, Lousã e Poiares e seguidos de Jaime Ramos, líder do Movimento Cívico
Miranda e Lousã, de Rui Duarte, presidente da Concelhia de Coimbra do PS, e de
Vladimiro Vale, membro da distrital do PCP de Coimbra –incluindo a autarquia
conimbricense, que não era referida no jornal- todos estão a favor da solução
que se arrasta há quase vinte anos, desde a constituição da empresa Metro
Mondego. Mesmo sabendo que as suas orientações são dogmáticas, impossíveis de concretizar
na atual conjuntura económica e de colocar em prática, nenhum deles, quer
autarcas e líder do movimento quer representantes partidários de oposição ao
Governo, abdica do seu papel na defesa do anterior plano ferroviário. É uma
espécie de tudo ou nada! O resultado final desta teimosia, com mais uns previsíveis
anos de arrastamento em estudos e pareceres, afigura-se mesmo sem óculos.
Os líderes, europeus e de outros continentes,
que estiveram presentes (sem estar) na arruada de Paris, perante a
possibilidade de se transformar a Europa num cenário de ferro, fogo e lágrimas,
respondem da mesma forma: ou tudo ou nada! É uma espécie de luta entre Dom
Quixote e os moinhos de vento. Como se através da defesa de uma classe de
cartoonistas, provocadora e instigadora de violência, qualquer Estado tivesse
meios humanos e técnicos para erradicar a resposta bombista e suicida de
pessoas que estão dispostas a morrer pela causa em que acreditam.
A relação entre uns e outros constata-se no
descarado interesse pessoal e na obsessão pelo inexequível. Todos reconhecem a
impossibilidade pragmática mas acreditam que a sua teimosia, para além de os
manter à tona da visibilidade política, mais tarde ou mais cedo, lhes trará
frutos. Porque ninguém está preocupado com o futuro da sociedade. Cada um tenta
safar-se. Pelas suas decisões políticas de poder, estão fartos de saber que o
cidadão é uma mera marioneta ao sabor das suas cabeças pensantes e sai sempre
prejudicado, mesmo com o estafado argumento de que estão em jogo vidas humanas
e necessidades básicas de sobrevivência.

A RETIRADA DAS ORDENS
Mais que certo, eu deverei ser o único a
debruçar-me sobre as notícias vindas a lume, na imprensa, sobre a abertura de processos
de irradiação que tem por fim a retirada do Grande Colar da Ordem do Infante
Dom Henrique atribuída a Carlos Cruz e a Grande Ordem do Infante Dom Henrique a
Jorge Ritto. Como se sabe foram os dois condenados em 2010, e estão a cumprir
pena, por pedofilia no Processo Casa Pia.
Provavelmente, porque estão transformados em
proscritos pela sociedade, ninguém perde um segundo a especular sobre este
assunto. Pela tipificação dos crimes de que foram acusados, creio, haverá uma
certa unanimidade quer nas penas aplicadas anteriormente quer em tudo o que de
mal lhes venha a acontecer. Ou seja, passou a haver uma legitimidade universal
para outras sanções que venham a ser desveladas. Portanto, se eu estiver certo,
em conformidade com o pensamento global, as retiradas destas comendas estão
perfeitamente justificadas perante a vox
populi, a voz do povo. E até porque, segundo o Diário de Notícias, sendo
inédito, o início dos processos de irradiação decorre da Lei das Ordens
Honoríficas Portuguesas que, segundo o diploma “tenham sido condenados pela prática de crime doloso punido com pena de
prisão superior a três anos.”
Acontece que, no meu entender, esta decisão é perfeitamente
contraditória, iníqua e consubstanciada numa lei absurda, caduca e sem sentido,
e extravagante, enquanto especial –como disse, já sei que ninguém vai perder um
minuto a refletir e a rebater a minha questão.
Antes de continuar, vamos ver o
que é a Ordem do Infante Dom Henrique. “É
uma ordem honorífica portuguesa, criada a 2 de Junho de 1960 aquando do V
Centenário da morte do Infante Dom Henrique e reformulada e alargada
em 1962, que visa a distinguir a prestação de serviços
relevantes a Portugal, no País ou no estrangeiro ou serviços na
expansão da cultura portuguesa, da sua História e dos seus
valores.”
Pelo enunciado da Wikipédia, dá para ver que
tal dignidade “visa distinguir a prestação
de serviços relevantes a Portugal (…)”. Ora, logicamente que esta
distinção tem um efeito retroativo. Isto é, o laureado teve de fazer algo de
notável para lograr tal exceção –e aqui, evidentemente que não discuto se os
detentores mereceram ou não. Se foi entendido que os dignificados granjearam a
solenidade pelos feitos e lhes foram concedidas, no mínimo, são ridículos os
argumentos invocados para mais tarde vir a ser-lhes retiradas com base numa
condenação dolosa. Tomar esta decisão negativa é como se o ato magnífico desenvolvido
pelos honoríficos, em face de uma pena de prisão, fosse completamente
desvalorizado e nunca tivesse existido. Quero dizer que uma ação que mereceu a
mais altíssima distinção leva consigo também uma alta dignidade do Chefe de
Estado que a concede em nome do País. Ao retirar essa respeitabilidade está-se
também a esvaziar, a caricaturar a honra da Nação. Há menções honoríficas atribuídas
por feitos declarados assombrosos que, mesmo sujeitas à dúvida, depois de
declaradas nunca deverão ser retiradas. Recuando na história do final da
Monarquia, no provérbio “foge cão, que te
fazem barão”, em que se atribuíam títulos nobiliárquicos por tudo e nada, A
acontecer a remoção, é pior a emenda que o soneto. Corre-se o risco de, no
futuro, as comendas atribuídas não serem tomadas a sério por achincalhamento
geral. Porque vejamos, uma condecoração não assenta num contrato social para o
futuro –como, por exemplo, a atribuição de um visto de residência ou
nacionalidade a um estrangeiro e que lhe pode vir a ser confiscado por mau
comportamento. Não é solicitada pelo requerente. É presenteada ao consagrado
sem que ele a pedisse e por isso mesmo, no singelo ato de dar pela distinção,
transporta uma áurea de elevação, transcendência e misticismo. É um prémio
entregue, de per si, por algo
extraordinário que o cidadão desenvolveu e mereceu no momento. A sua conduta
futura não pode vir, de modo algum, desviar-lhe a nobreza que assim foi
considerada no momento. Quando eu era miúdo, lembro-me, havia uma lei natural
entre nós: o que sem ser pedido é dado
nunca pode ser retirado.
Ainda há mais, se aceitarmos pacificamente
esta decisão renasce outra interrogação: porquê retirar apenas as comendas a
alguém condenado a prisão? E porque não fazer o mesmo a outros que, através dos
lugares que ocuparam institucionalmente, se locupletaram ou conduziram o país
para desastres económicos e cujas consequências, indiretamente, nos vão custar
a todos milhões de euros? Uma pena de prisão, independentemente do crime
cometido, merece mais valor que um cataclismo financeiro?
É lógico que ninguém me vai responder mas,
mesmo assim, ouso interrogar: isto não é tão, tão tão, comezinho e ridículo?
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