sexta-feira, 2 de março de 2012

BAIXA: ESTES PINOS DÃO-ME CABO DA TOLA


 Hoje, os dois jornais diários da cidade, os Diário as Beiras e o Diário de Coimbra (DC), noticiam que, ontem, uma carrinha de gelados, para além de ter ficado presa num pino junto à Câmara Municipal, viu o depósito de combustível ser roto e ter ficado impossibilitada de circular.
Embora o DC catalogue esta situação de algo insólito, a verdade é que não é. Há demasiados casos idênticos e acontecidos aqui na Baixa.
Já o escrevi aqui mais do que uma vez, estes pinotes estão subaproveitados. Clarificando um pouco a história, este mecanismo de controlo à distância foi implantado no Centro Histórico, por volta de 1999/2000, pelo executivo do então edil Manuel Machado. O seu custo total foi cerca de 80 mil euros. A sua função era constituir uma barreira que impedisse os automóveis de circularem livremente nas ruas estritas e praças fora do horário estabelecido, e sobretudo durante o dia. Nessa altura foram distribuídos cartões aos moradores de livre-acesso, o que veio desvirtuar a boa intenção do projecto. Isto porque, uma vez que os residentes tinham cartão, durante o dia, entravam e saíam quando lhes apetecia, o que, naturalmente estava mal e criava mal-estar. Por outro lado, numa discriminação pouco entendível, os comerciantes não tinham direito a ter a tal vinheta para entrar ou sair quando precisassem para abastecer os seus estabelecimentos. O horário anunciado em placas junto às entradas principais era e é, de livre-acesso, durante a manhã, das 08 às 10h00, e durante a noite, das 20 à 01h00. Estão colocados nas Ruas da Louça, Simão de Évora, da Gala, das Padeiras, Adelino Veiga, das Azeiteiras, dos Esteireiros, de Sargento-mor, Ferreira Borges, junto à Câmara Municipal e junto aos antigos Armazéns Amizade, no Bota-abaixo.
Como é natural –porque ninguém gosta de restrições-, desde o inicio, estes artefactos foram mal aceites por todos, incluindo moradores, estes que tinham cartão de acesso, e comerciantes, que não tinham. Ou seja, um mecanismo que é fantástico, uma vez que, se funcionasse devidamente, seria um meio de segurança contra assaltos nocturnos e libertaria a Baixa de circulação motora e de carros estacionados nos largos e ruas estreitas, foi sempre ostracizado e até algumas vezes vandalizado –por exemplo, no antigo Armazém Amizade, junto aos vendedores ciganos, nunca se conseguiu que o pino ali implantado estivesse a funcionar devidamente. Por obra e graça do Espírito Santo foi sempre abatido.
Com o tempo, por parte da autarquia, foram sendo desprezados e raramente lhe foi dada uma utilização correcta e para aquilo que estavam vocacionados. Hoje, certamente conforme a disposição de quem comanda os “sempre em pé”, umas vezes estão em cima, na maioria estão em baixo. Nunca ninguém sabe o que irá acontecer amanhã. Contra a segurança dos estabelecimentos, durante a noite estão sempre em baixo –nos vários assaltos nocturnos dos últimos anos a lojas, se estivessem na sua função de erectos, provavelmente, não teria acontecido à maioria, sobretudo a perfumarias.
Então, chegados a este ponto, numa espécie de balanço, o que é preciso fazer para lhes dar dignidade, devolvendo-lhes eficácia, e não fazer deles notícia pelas piores razões?
Vou elencar algumas premissas que considero essenciais:

1-      Colocá-los a funcionar estritamente nos horários em que estão anunciados. Apesar do rigoroso cumprimento, em caso de alguém ficar preso dentro do perímetro, dar um quarto de hora de tolerância, fora disso e sempre que seja detectada uma viatura dentro deste espaço de liberdade limitada –mesmo de morador ou comerciante- deve ser multada;

2-      Averiguar quem vandaliza e agir em conformidade, nomeadamente com mão-pesada;

3-      Distribuir cartões aos comerciantes com lojas na zona para poderem carregar e descarregar durante a noite, e fora do horário convencionado, se dele necessitarem.
Distribuir cartões aos moradores para poderem estacionar durante a noite e saírem a qualquer hora durante a noite se disso precisarem.
Fora disso, respeitarem, tal como todos, o horário diurno. Isto é, durante o dia não poderá nunca este espaço reservado estar a ser utilizado por qualquer um destes dois grupos como estacionamento;

4-      Colocar sensores em cada pino, ou uma câmara, para que não aconteçam acidentes iguais ao de ontem e outras vezes já anteriormente.

Não se sabe se será castigo divino ou maldição, mas, comparando com a ineficácia e pouca funcionalidade das câmaras de videovigilância, parece que tudo o que a autarquia investe para melhorar a segurança, a tranquilidade e o trânsito na Baixa, dá sempre em “águas de bacalhau”. Será azar, falta de visão, permeabilidade aos grupos, ou incumprimento do objecto para que estes produtos foram criados?
Talvez valesse a pena pensar nisto. É que, tal como agora neste acidente com a carrinha frigorífica, depois andam todos com o credo na boca. Às tantas é mesmo maldição! Se calhar, é mesmo! Abrenúncio! “Vade retro”, Satanás!


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