sábado, 17 de março de 2012

"NÃO DIGA QUE FUI EU QUE DISSE!"



 “Psst! Psst!, Luís, você já viu como está aquela pedra?” –e aponta uma enorme pedra em forma de obelisco.  “É uma miséria! Sabe quem é que a arranjou há cerca de um ano? Foi o Carlitos “popó”! É preciso mandar concertar isto! Assim, está mal, não está? – Não diga nada que fui eu que lhe disse!”
Assim se me dirigiu hoje um comerciante da Praça do Comércio. Confesso, solenemente, que me irritam pessoas assim, mas o que é que se pode fazer? Nem vale a pena estar a gastar latim…


UM POEMA PARA O CARLITOS "POPÓ"

 

Sou o Carlos Alberto Duarte,
todos me conhecem na Baixa,
uns tomam-me como baluarte,
outros, como louco que encaixa
na senilidade do seu encarte;
Sou quase um vivo monumento,
na paisagem envolvente,
tenho um pressentimento,
que para muitos não sou gente,
sou coisa sem sentimento;
Mas eu sou pessoa que ama,
dentro de mim bate um coração,
olho para quem passa, para a dama,
para a viúva triste sem consolação,
que olhando para mim, exclama:
"olha, é um maluco que aqui vai,
caminhando nas ruas sozinho, 
pouco fala, parece que nunca sai
do Largo das Ameias, do cantinho,
pobrezinho, valha-o Deus, ajudai!”;
Ainda contrariamente ao pensar,
eu sou feliz com pouco ter,
basta-me apenas não chorar,
que me importa não saber ler,
ou não ter telemóvel para falar?;
Apesar de não ser religioso,
mas até sou um bom cristão,
tantas vezes sou caridoso,
dou um braço, dou a mão,
por alguém mais andrajoso;
Desconheço o ódio, pois então!
gosto de qualquer humano,
quando vou na procissão,
em passo solene franciscano,
julgam-me um igual na razão. 


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