OLHAR O HORIZONTE
Luís Braga é um comerciante,
na Baixa de Coimbra, da cidade,
encostado à ombreira, é figurante
numa rua que já foi da mocidade,
hoje é uma artéria de negociante
desmotivado e sem notoriedade,
escasseia o cliente, é preocupante
o silêncio envolvente de serenidade
só é rasgado por velho de ar pecante,
que, em lengalenga de sensibilidade,
apela em pungido de dor ao visitante,
ao fundo, uma concertina de verdade
debita um tema triste, meio agonizante,
como se rebobinasse tempo de saudade,
Luís Braga recorda quando era aspirante,
na tropa, militar, na praia da claridade,
não seguiu esta via profissionalizante,
hoje, arrependido, olha com fatalidade,
é tarde, a lua vai alta, é desgastante
estar à espera, numa imbecilidade,
de quem não prometeu vir, que desplante,
todos os dias se morre por inutilidade,
é um sentir envelhecer, tão irritante,
que consome a alma, é uma vacuidade,
Luís olha o horizonte, fixado, pensante:
“O que fazer? Este comércio é sufocante!”
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