quinta-feira, 22 de março de 2012

A PROPÓSITO DE UMA OPINIÃO SOBRE "A BRASILEIRA"



"A BRASILEIRA", O MODERNAÇO PIMBA.

 Pois. Eu devia estar aqui a fazer considerações sobre a ousadia da "recuperação" d' A Brasileira; a sua modernidade; o rasgo de designers ( como se diz agora em saloiês) iluminados. Em vez disso, venho falar-vos da incultura, da insensibilidade e do péssimo gosto de promotor e autores, pouco me importando os seus nomes sonantes. Nada tenho contra uma abordagem moderna e radical de um espaço como este, desde que seja feito com gosto, inteligência e um programa que compreenda o seu significado e sentido , reinventando-o no respeito - e até no aproveitamento económico! - do que ele representa, ou representava. "A Brasileira" era uma referência e um valor do património imaterial da cidade ( da univer-cidade). Nas suas cadeiras - por vezes desengonçadas, mas sempre confortáveis - passou o que de melhor houve nas ideias, na fraternidade, na descoberta que ia muito para além dos bancos da Universidade, na iniciação de muitos de nós, que procurávamos nestas paragens muito mais que a ilustração de cátedra, por ilustre que fosse. A Brasileira era muito mais que um café, era um lugar mágico, onde a vida parecia ter outra luz. Por causa das pessoas, evidentemente. Mas como separá-las do seu lugar de convívio? As nossas memórias fazem-se desta amalgama de afectos, recordações, momentos de descoberta, lugares iniciáticos. E era a partir destas evidências que um programa sábio de restauro e reformulação devia partir, tendo em consideração, sem reservas, do justo lucro e sustentabilidade do negócio de quem o empreende. Em vez disso tivemos a ignorância e a boçalidade arquitectónica, o descomunal balcão de vendas compra-e-vai-te-embora, o ridículo mobiliário não-chateie-que-não- temos-tempo-para-o-aturar. O plástico é o material exclusivo. De plástico as mentes que o conceberam. A memória dos nossos maiores, que habitaram este lugar, em vez de ser inteligente - e rentavelmente - lembrada, é expulsa. Bom senso e bom gosto, precisam-se. E uma alma grande, para perdoar." 
José Gabriel 
(Retirado com a devida vénia do Facebook)


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POIS…

 Vai-me desculpar esta minha intromissão de sapateiro a tentar tocar rabecão.  Como hei-de dizer, não conheço o subscritor deste texto, que, segundo diz, se chama José Gabriel, mas tenho para mim achar que está ser… algo injusto. Vamos lá ver se me consigo explicar, e, ao fazê-lo, coloco-me no lugar do Lúcio Borges, o dono da (nova) “A Brasileira”. Este homem, que conheço relativamente bem, é um bom profissional de pastelaria. Colocou o projecto num gabinete de arquitectos e, estes, venderam-lhe o que está consumado. Quer os primeiros quer o segundo estão no seu direito de opção? Claro que sim. Escolheram mal? Não sei. O gosto (pela arte) é algo intrinsecamente subjectivo, logo, escrevermos “incultura e insensibilidade”, como fez o autor, creio que, no mínimo –vai-me desculpar empregar o mesmo termo- é “saloiês”. Pode até argumentar-se que o chamado bom gosto terá uma base padrão, isto é, que agradará ao maior número de pessoas. Mas, mesmo assim, não creio que assista o autor do texto o direito de ser tão, tão, destruidor da obra realizada.
Tentando ser justo, se fosse eu o dono d’”A Brasileira” é certo que também não faria assim… mas acontece que não sou! E, em conformidade, respeito o que lá está. E mais: está muito bem! Está limpo, está fino, serve bem e tem um bom ambiente. Não tem nada a ver com a outra “Brasileira”, pois não? É verdade que não tem. Mas tinha que ter? Podia ter, mas não é obrigatório que tivesse –não podemos esquecer que a outra, a desaparecida, encerrou porque não era viável economicamente, como não são a maioria dos cafés históricos em Portugal. Pelo menos neste momento que laboram sem qualquer apoio de agentes culturais.
Gostos não se discutem. É óbvio!


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"Este livro que vos deixo" -um complemento..."

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa tarde,começo o meu pequeno comentário como o amigo Luís acabou:
«Gostos não se discutem. É óbvio!».
O sr.Gabriel tem a sua opinião,haverá outros que acham que a decoração é do melhor e mais bonito que viram.Outros,ainda,acharão que kitsch,outros «parolo»,outros avant-gard,etc,etc,etc.
A minha opinião acerca da decoração não interessa para o caso,agora se as pessoas achavam que iriam encontrar a velha Brasileira como a conheciamos,isso seria impossivel,por várias razões.Até pelo facto de as pessoas que lá trabalhavam na altura,já terem falecido,e as pessoas fazem parte dos locais,são parte fundamental de cafés,restaurantes,etc.
Achho é que o sr.Gabriel está a ser injusto,na medida em que se deve é felicitar o sr.Lúcio.Porquê?Pela ousadia de investir numa altura de recessão económica como a que vivemos.É preciso ter coragem,porque não sabe se o seu investimento vai ter retorno.Felicitar,também,por abrir um negócio numa artéria em que semanalmente encerra uma loja.Felicitar,ainda,por relembrar e abrir o seu estabelecimento no mesmo local onde existiu a OUTRA Brasileira.Portanto parabéns e boa sorte sr.Lúcio.
Abraço,Marco
P.S.:Não conheço o sr.Lúcio nem o sr.Gabriel,é apenas a minha opinião.