quarta-feira, 28 de março de 2012

UM SONHO QUE SE ESFUMOU







 Grávidas de força, com uma esperança no futuro inabalável, em 12 de julho de 2010, a Isilda e a Fátima eram a personificação do sonho realizado. Depois de muitos anos como empregadas em várias firmas comerciais, lançaram-se para a frente, tentando a sorte, em busca de um amanhã melhor. Mas a sorte, para além de estar cada vez mais refinada, não é para todos, é apenas para quem ela entende. Há quem diga que esta sorte, sobretudo no comércio, não passa de um esqueleto velho de uma ventura que já foi e que não quer nada com quem, legalmente, faz pela vida como estas minhas duas amigas e nossas colegas.
 O “Sonho Selvagem” morreu ontem. Sem grandes gritos de dor, feneceu como nasceu. Num dia apareceu, noutro dia desapareceu. Nascer e morrer, assim é a vida errante que todos levamos.
Com este sonho desfeito vai um pouco de todos nós. Em metáfora, é como se caminhássemos, a pé, em fila indiana ao longo de um deserto com um sol tórrido e demolidor e sem bússola. Os cantis dos mercadores estão quase todos secos de água. Num ou noutro ainda há uma ou duas gotas. Qualquer um dos caminheiros sabe que está no limite e não pode dispensar nada. De vez em quando, na longa fila, ouve-se um grito de desespero, foi mais um que caiu. Tudo indica que estes andarilhos caminham para morte certa. Mas o que fazer? Interroga-se cada um deles. Para trás não se pode andar. A única senda que resta é a esperança de encontrar um oásis. Mas ainda haverá oásis? Esta é a pergunta que cada um faz para si mesmo arrastando as pernas e levando à frente ondas de areia. Lá no alto, os abutres, cada vez em maior número, esperam calmamente o momento certo para saciarem a sua gula. É uma questão de tempo. O prémio é garantido.
Para além da esperança, o que resta a estes sendeiros? Depois de terem perdido toda a confiança no “homem-consumidor” e num Estado que os deveria apoiar e que os poderia salvar, o que lhes fica ainda? Uma fé inabalável em Deus? Mas Deus nunca esteve muito virado para quem compra e vende –basta lembrar a expulsão dos vendilhões do Templo.
Um abraço muito apertado, com muito respeito, para estas duas lutadoras, para a Isilda e para a Fátima. Um minuto de silêncio pelos seus sonhos não concretizados. Elas tentaram e lutaram como duas guerreiras da antiguidade. Resta dizer-lhes que outras janelas se abrirão perante estes tempos que vivemos. Que não desistam de sonhar.

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