Deveria ter cerca de meio século de vida aproximadamente. A Vidrocarmo foi até há dias a maior marca de vidros e molduras em Coimbra. Fundada, creio, pelo senhor Marques no início dos anos de 1970, chegou a ter à volta de quatro dezenas de empregados por alturas de 1980. Encerrou há dias compulsivamente por processo de falência desencadeado por credores.
E O QUE É QUE SE PASSA COM OS BENS DEIXADOS NO ESTABELECIMENTO?
Ontem, fui alertado por um cliente desta casa para este encerramento. Em desespero, contava-me que tinha contratualizado um determinado trabalho, deixando uma obra, e agora não conseguia contactar o último gerente, Raul Marques. Como não consegui falar com o ainda responsável pela Vidrocarmo, fui ao Terreiro da Erva saber informações de vizinhos. Ao que parece, é de facto verdade. Nos últimos dias é um corrupio de gente a tentar saber das suas coisas deixadas para arranjo na firma agora extinta por falência.
Conheço bem o empresário Raul Marques, mas não tenho o seu contacto. Se acaso ler este meu texto, peço-lhe, em nome da honra de um comércio que já teve muita dignidade, que, dentro das suas possibilidades, tente honrar os seus compromissos com os seus clientes, nomeadamente entregando, sobretudo, os bens deixados à sua guarda de valor sentimental incalculável, como fotos, pinturas e outros bens.
O QUE É SE ESTÁ A PASSAR COM ESTES COMERCIANTES?
Como todos sabemos, até há poucos anos, esta classe de comerciantes a que pertenço era estimada e respeitada. A palavra de comerciante –pelo menos de uma maioria- era lei. Ainda me lembro quando para atestar uma qualquer verdade se recorria ao carimbo de dois profissionais deste ramo. Hoje, deste tempo de memória, desta honra e dignidade, já pouco resta.
Por aqui, pela Baixa, há um pouco de tudo. Há estabelecimentos que encerram e, como este que refiro em título, e que não entregam os bens aos seus legítimos proprietários. Há também comerciantes que arrendaram espaços com uma renda exorbitante, deixaram de pagar há mais de um ano, encerraram-nas e, ainda por cima, não entregam a loja ao legítimo proprietário. Isto é alguma coisa? Admite-se uma coisa destas? Será que estas pessoas -alguns continuam a exercer aqui na Baixa- merecem ostentar o título de comerciantes? Uma coisa é o falhar. Todos falhamos –e não se pense que eu, que escrevo, estou a armar-me aos cucos e tenho a mania que sou melhor do que qualquer um, nada disso, falho como todos. Já outra coisa é não cumprirmos com a nossa palavra porque não foi possível, mas temos obrigação de dar a cara. Sabe-se que, qualquer um de nós, por muito sério que seja, só cumpre quando pode, mas, mais uma vez refiro, humildemente, todos, temos obrigação de encarar a pessoa com quem estamos em falta e mostrarmos a nossa incapacidade e impossibilidade de cumprir. Haja bom senso. Em nome dos nossos antepassados, não destruamos, em meses, um passado digno e de respeito que levou décadas, séculos, a construir.
Sem comentários:
Enviar um comentário