Encerrou recentemente a Auto-Peças, no Terreiro da Erva. Esta casa, com mais de meio século, tal como o nome indica, dedicava-se à venda de peças de automóvel.
Se é certo que tudo nesta vida tem um fim, não é menos certo que quando o derradeiro é imposto pela natureza nada deveremos ter a reclamar. Mas já quando o final de alguma coisa, seja um projecto, seja um sonho, ou o fim de um estabelecimento, é provocado, se nós fôssemos verdadeiros cidadãos gritávamos bem alto: “ISTO NÃO PODE SER!”
Ora, afirmo aqui, este encerramento desta reputada e vetusta firma, Arrobas & Santos, Lª, foi fomentado. E por quem? Interrogará, você, leitor? Claro que está a pensar que é mais uma vítima desta crise estrutural e conjuntural que nos atravessa. É verdade, sim, também, mas não é tudo. Eu vou contar-lhe. Em Dezembro de 2009, vi entrar o dono desta firma pela minha porta dentro. Não o conhecia. Vinha pedir que o ajudasse. Como sabia que eu escrevia para os jornais, solicitava-me que denunciasse o seu caso… embora sem declarar a fonte. Como pode ler aqui, pedia-me que escrevesse sobre os muitos milhares de euros que as autarquias da zona centro lhe deviam. Como tinha quase uma dúzia de empregados, estava a ser muito difícil aguentar aquela casa que tanto lhe era querida e fazia parte da sua alma. Escrevi o texto no Diário de Coimbra e, fosse por isso ou não, lá foi recebendo qualquer coisa. Volta e meia vinha ter comigo a desabafar. Ainda no ano passado esteve aqui a falar da sua situação. Agora encerrou definitivamente.
Uma vez que este homem, na altura, me pediu para não expor a sua identidade, tenho algumas dúvidas de que o devo fazer agora, mas, uma vez que o seu objectivo, que era manter a loja aberta, se gorou, penso que ele não me levará a mal. Confesso, estou indignado. Será que, pelo incumprimento nos pagamentos, os muitos presidentes de câmaras deste país saberão o quanto estão a fazer mal a pequenos empresários como este? Tomarão consciência de quantas tragédias familiares estão a provocar?
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