"Há dois anos, frequentei um curso de fotografia promovido pela Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra, orientado pelo fotógrafo Vítor Garcia. Não fui aluna exemplar, mas aprendi muito. Uma das coisas que aprendi foi que pouco ou nada sabia acerca do assunto. Também conheci pessoas interessantes, nomeadamente a Cristela Bairrada. Comecei pela fotografia, mas não é este assunto o motivo desta minha intervenção matinal e sim os Bombeiros Voluntários de Coimbra e a sua associação. Fiz-me sócia na altura e fiquei com um carinho imenso pela instituição, sedeada na Avenida Fernão de Magalhães, que dia 15 de Abril comemora 123 anos. O presidente, o Dr. João Silva (que não me encomendou o sermão) está a tentar por todos os meios captar a atenção dos cidadãos para as dificuldades por que passam os bombeiros. Aos meus amigos peço-lhes que fiquem atentos às próximas iniciativas que venham a ser promovidas com o intuito de os ajudarmos. A vida não está fácil para muitos de nós, mas estou certa de que uma boa soma de boas vontades poderá fazer a diferença! Bom dia para todos." -Iolanda Castro, no Facebook.
Ao ler o seu texto, Iolanda, dei por mim a pensar nesta estranha cidade. Uma urbe pomposamente apelidada de “Cidade do Conhecimento” e constituída na sua génese por doutores e engenheiros. Confesso que detesto os estereótipos, mas, em boa verdade, caio sempre neles. Quando encontro os chamados “coimbrinhas” “passo-me dos carretos”. Arvoram-se em donos de uma verdade que nunca foi, estão sempre a pôr abaixo planos inovadores. Não direi que esta casta detestável seja nova. É muito possível que Luís de Camões quando escreveu os Lusíadas, e no seu Canto IV se refira aos “Velhos do Restelo”, no fundo, bem no fundo estivesse a pensar nestes “coimbrinhas”. São fingidos como o raio que os parta. Comparecem sempre para onde são solicitados, sobretudo quando se trata de obras de solidariedade. Como moldura de uma reserva moral purista e exegeta, marcam presença, mas estão ali, não numa posição proactiva, mas para pôr abaixo, para derrotar quem pense diferente deles. Especulando um pouco, vamos imaginar que há uma qualquer ideia nova. Pois estes “coimbrinhas” em tudo encontram dificuldades. É no dar o primeiro passo, porque assim assado e cozido, é no segundo, porque parece mal, pode-se partir uma perna, depois pode não vir o 112, ou o médico ter cara de trombeiro, ou a ambulância ter um furo a caminho do hospital. No entender destes “coimbrinhas”, para não correr riscos, o melhor, mesmo o melhor, é não fazer nada. E assim, não fazendo nada, vão continuando a roer nos subterrâneos de uma cidade… que não faz nada. Às vezes dou por mim a pensar que este modelo Camoniano é muito mais do que parece. É certo que é uma extensão de todos nós que amamos a cidade e, no fundo, talvez por a estimarmos de mais, acabamos por escravizá-la pela nossa intolerância e reduzimo-la a uma visão maniqueísta, dividida entre o bom e o mau. Às vezes dou por mim a pensar que este “cromo”, este figurino, é encomendado. É como se fosse um fantasma, uma alma perdida que esvoaça no nosso meio. Detesto esta figura. Irrita-me e tira-me do sério.
E porque é que comecei a escrever este sermão se ninguém mo encomendou? Interrogará. Não sei, talvez para tentar justificar o insucesso com que João Silva, esforçando-se a bater a todas as portas, dá uma volta sobre si mesmo e vem de mãos a abanar. O “coimbrinha” de que escrevo nunca está disponível para participar. Apenas dissimula que está. Pobre cidade de espíritos acomodados!
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