O SENHOR ADOLFO REIS (3)

Dei de chofre com ele hoje, à hora do almoço, na Rua Visconde da Luz. Chama-se Adolfo José Reis, tem 54 anos. O que me chamou a atenção foi o cartaz, “SOS –PRECISO DE TRABALHO”.

Se é uma forma de marketing, isso não sei, nem me cabe aqui fazer juízos de valor. Pelo menos ele afirmou-me que não. Precisa mesmo de trabalho, alegou. “Quem me dera trabalhar. Tenho carta de condução de pesados. Farto-me de correr para o centro de emprego. Dão-me a direcção de empresas, vou lá, mas a resposta é sempre a mesma: querem gente mais jovem. Depois mandam-me aguardar, mas nunca me chamam”.

O senhor Adolfo foi serralheiro, mas fazia qualquer coisa, o que aparecesse. “Ai senhor, tomara eu… Tanta saudade tenho eu de trabalhar! Sabe? Daquela sensação de me sentir útil e prestável. Entende? Durmo na rua, ando para aqui aos caídos. Pareço uma coisa que não presta para nada! Depois, como não tenho condições para me arranjar melhor, vou-me abandalhando… os dentes… está a ver? –E elabora um sorriso, certamente sem ter nenhuma vontade. Assim, com este aspecto, quem dá emprego?”.

Quando o interrogo se é contemplado com o RSI, Rendimento de Inserção social, diz-me receber 187 euros. Diz também que já esteve na Casa-Abrigo de Coimbra a dormir mas, como andou lá à “batatada” com outro indivíduo, teve de vir embora. Agora está a viver na rua. E comer? Interrogo. "Vou comer à Cáritas, à Rua Direita". Conclui.