sábado, 22 de agosto de 2009
BAIXA: CHINESES RESISTEM À SEMANA-INGLESA
(ALGUNS TURISTAS OPTARAM POR SE SENTAREM NO CHÃO. REALMENTE É MELHOR ESPERAREM SENTADOS PELA ABERTURA DO...PANTEÃO NACIONAL)
É sábado, o relógio marca as 14H00. O sol, como a convidar à indolência, está a pique. Provavelmente estarão cerca de 30 graus. Na Rua do Corvo, uma artéria estreita, das mais emblemáticas do comércio tradicional, onde até há cerca de duas décadas estavam concentradas praticamente todas as lojas de tecidos a metro, talvez por estarmos em plena “silly season”, tem apenas um estabelecimento aberto a meio da rua: uma loja de artigos chineses.
Paralela a esta artéria, está a Rua da Louça –que já se apelidou Rua de Tinge Rodilhas-, assim chamada definitivamente, a partir de 1942, por deliberação camarária, por até meados do século XX ali estarem concentrados muitos estabelecimentos de louças. A partir dos anos de 1950, progressivamente, estes estabelecimentos foram dando lugar a uma grande heterogeneidade de comércios. Por volta de 70, do mesmo século, era possível encontrar ali todos os ramos de indústria e comércio, desde alfaiataria até pronto-a-vestir, armazéns de mercearia, de azeite, ferragens, ourivesaria, etc. Hoje, às 14 horas, se exceptuarmos o Pinto & Filhos que está também virado para a Praça 8 de Maio e uma tabacaria, nem um único estabelecimento estava aberto ao público.
Na praça 8 de Maio, um grupo de cerca de uma vintena de turistas, aparentemente, junto às portas da Igreja de Santa Cruz, parecem oferecer preces aos santos para que esta se abra. Em vão. Presumidamente todos partiram em semana-inglesa. Neste antigo Largo de Sanção estão abertas duas lojas de tabacaria. Prosseguimos para a Rua da Sofia. Estão abertas algumas (poucas) lojas dentro do shopping Sofia, incluindo a florista na entrada. A meio da rua está uma tabacaria aberta.
Recuamos e entramos na Rua Visconde da Luz. Aqui o cenário está composto. Estão abertos a Pétala, a Calzedónia, a Intimissimi, o Armazém Americano, a Pull and Bear e duas lojas à entrada do shopping Visconde, a Enjobonarte e a Trapos Woman.
Também, a seguir, na Rua Ferreira Borges, como a respeitar o autor do primeiro Código Comercial Português, vários estabelecimentos têm as portas abertas. Estão a Mango, a Papelaria Cristal, a Optimus, a Lanidor, a Charles, a Parfois, The Body Shop, a Capicua 303, a La Forêt, a Bijou Brigitte e, a meio da rua, uma loja de…chineses, recentemente aberta.
Na entrada do Arco de Almedina, estão abertas duas lojas, uma de artesanato, com o mesmo nome do arco, e o livreiro Ricardo.
Prosseguimos agora em direcção ao Largo da Portagem. Aqui, no largo do "mata-frades", estão abertas a Bertrand e uma loja de artesanato, a funcionar no antigo espaço do Novais.
Descemos as Escadas do Gato e entramos na Rua de Sargento-mor. Nesta artéria, a mostrar que também resiste, está o João, na Retrosaria Zig-Zag.
Na Praça do Comércio, hoje, por ser o quarto sábado do mês, está a decorrer a Feira de Velharias, conjuntamente com a Feira das Cebolas. Apesar de muito público aqui presente, só duas lojas mostram a vocação para o trabalho: a RR-maison e, nos antigos Marthas, uma loja de…chineses.
Vamos andando. Entramos na Rua Adelino Veiga. Tudo encerrado, excepto…uma loja de…chineses.
Vamos agora visitar a Rua da Sota…só a loja chinesa do Yan está aberta.
Entramos na comprida Avenida Fernão de Magalhães, só o Bazar Jiang está aberto…chinês, obviamente.
Cortamos à direita e entramos na Rua das Padeiras. Estão abertas a Orquídea Silvestre, a Júlia, uma loja de arranjos de costura e duas lojas de…chineses. Ali ao lado, na Rua da Gala, uma loja aberta…de chineses.
Prosseguimos agora para a Rua Eduardo Coelho. Duas lojas resistem estoicamente: a perfumaria Balvera e a representante dos sapatos da marca Ecco.
No Largo da Freiria, está aberta a loja de velharias e antiguidades o Encanto da Freiria.
Em jeito de balanço, pode dizer-se que até poderia ser pior. Sem contar com os chineses, estavam abertas 35 lojas.
Os estabelecimentos chineses, no total de 8, dentro do coração da Baixa, estavam todos abertos. Estes trabalhadores imigrantes, como a darem uma lição a quem estiver disposto a recebê-la, mostram que, de certeza absoluta, apesar do esforço físico, a semana-chinesa, de filosofia oriental, do ponto de vista social será mais rentável e gerará maior felicidade do que a semana-inglesa, ocidental, epicurista e virada para o ócio.
Cada um extrairá a conclusão que quiser. Eu extraio uma: temos muito que aprender com este ancestral povo. Digam lá o que disserem. Eles, chineses, não vêm para a Europa para aprenderem nada. Através da sua humildade –não falo de cor, conheço aqui vários-, através da sua elevada educação, do contentar-se com o que têm, com a sua entrega ao trabalho, enquanto instrumento para alcançar o prius da dignidade, mostram muito daquilo que realmente valem. Daqui, do meu cantinho de insignificância, vai um grande abraço de admiração para este povo oriental.
Quem não concordar comigo faça o favor de dizer o contrário, mas justifique. Não é dizer mal, gratuitamente, só por dizer.
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