sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O RUI QUER IR A ESPANHA









 O Rui Nóbrega é um artista muito querido de todos nós. Na Baixa, e provavelmente em toda a cidade, todos o conhecem. É escultor autodidacta. Trabalha em troncos de árvore, e deles faz imagens sacras e outras antropomórficas. Tudo o que venha à imaginação do artista.
O Rui não recebe nenhum subsídio de mérito cultural para continuar a trabalhar as madeiras e conseguir sobreviver. Para ir vivendo tem de malhar duro no formão na sua oficina na Conchada, na Rua Rego do Bonfim. E é claro que quando artista é pobre não tem dinheiro para viagens. E é pena porque o Nóbrega foi convidado para participar na Exposição Internacional das Artes, entre 20 de Setembro e 20 de Outubro, na Corunha, Espanha, para representar a nossa região centro.
Vai daí, porque a necessidade aguça o engenho, o Rui, há três semanas, montou estaleiro nas Ruas de Visconde da Luz e Ferreira Borges. Mas a coisa está a correr mal. Nestes cerca de 20 dias só ganhou à volta de 170 euros. É muito pouco ainda, diz-me a sorrir. “No mínimo preciso de 400 euros para o gasóleo, ida e vinda. Para o comer e dormir, lá me desenrasco, que tenho lá uns amigos que dão uma mãozinha. As pessoas adoram-me. Gostam muito de me ver aqui…tiram fotos…mas quanto à ajuda monetária é que é pior”.
Quando lhe pergunto se já contactou o departamento da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, diz-me que sim. “O vereador (Mário Nunes) conhece-me bem –até tenho muito boa impressão dele. Já fui mais que uma vez à Casa da Cultura, põem-me a mão por cima do ombro e dizem: “Ó Rui, parece impossível, então só agora é que você vem pedir uma ajuda? Você sabe que estas coisas têm de ser planeadas e orçamentadas no princípio do ano. Em cima do joelho não dá. Para o ano, logo no princípio, você apresenta-nos um projecto daquilo que pensa fazer durante o ano. Está bem?”
Então, e para o ano vais fazer isso, Rui? Interrogo. “como é que eu posso fazer planos de algo que não está nas minhas mãos? Eu sei lá quem me vai convidar para o ano?” - responde-me o Nóbrega numa interrogação lógica, dentro da sua honestidade que tão bem lhe reconheço, e fitando-me com os seus olhos claros.
E já contactaste o Delegado Regional de Cultura, em Coimbra, o António Pedro Pita? Interrogo. Olha que ele é uma pessoa sensível. Para além de agora estar ligado ao Governo, é um homem de Coimbra que sempre esteve ligado à cultura. Por acaso conheço-o. Já foste falar com ele? “Oh…oh…ele já aqui passou…até me deu um abraço…falei-lhe na ajuda, mas não me deu saída”.
Agora falo para si, leitor. Este homem deve mesmo ir a Espanha apresentar o seu trabalho. Você não acha que estar a pedinchar na rua para ir em representação do nosso país é uma vergonha? Diga-me com franqueza: não se sente envergonhado? Eu sinto. Ontem quando estive a falar com ele, senti-me também parte do problema e fiz a minha contribuição. Quando passar na Rua Ferreira Borges ajude-o. Faça isso. Por mim, por todos, sobretudo por ele.
Tanto dinheiro que é mal-gasto neste país, nesta autarquia, em coisas que não valem um pífaro, e não haverá uma porcaria de um subsídio de 400 euros para levar o Rui a Espanha? É uma tristeza…

3 comentários:

Anónimo disse...

Só uma dica, uma rádio local não poderá dar uma ajudazita? Apelando, por exemplo, às empresas da zona, afinal é tão pouco quem sabe não se solidarizam. Sim porque à espera das Câmaras ó meu amigo ele que se sente. e um NIB? ele tem um NIB? que tal posta-lo assim quem sabe grão a grão pudesse juntar o valor necessário. São só dicas eu sei, e se calhar já todas pensadas por si, e por ele...
Espero que o Nóbrega vá a Espanha, e que depois eu leia aqui o sucesso, aqui e nos jornais e telejornais, porque se fizer sucesso esses depois caem que nem tordos em cima dele.... é assim.

Anónimo disse...

Olha o Dr. Mário Nunes. É o verdadeiro artista da politica e cultura popular. Claro que não possui verba cabimentada, mas pode em qulquer reunião de Câmara propôr um subsidio ao artista Rui Nóbrega.
Veja-se a contradição:
Na última reunião de Câmara, foram aprovados 285.000 euros, para uma coisa que se chama Empresa Municipal de Turismo, cuja directora vai na lista do PSD para Deputada da Nação. Então não foi cabimentada no principio do ano? Claro que não se encontrava no Plano de Actividades para 2009. A desculpa do Vereador Mário Nunes é de facto de um verdadeiro artista, cujo reinado está felizmente a chegar ao fim. Pois quer dar-se bem com Deus e com o Diabo. Assim vai o apoio aos artistas de Coimbra.
Já agora os 130 mil euros para a ACIC, também foram aprovados em Dezembro 2008, no Plano da Actividades da C.M.C. para 2009?
Posso afirmar que não constava no Plano.
Palavras para quê!!

LUIS FERNANDES disse...

Obrigado a ambos por terem comentado. Quanto ao primeiro, que fala em um Rádio Local dar uma ajuda, há várias coisas que gostaria de clarificar: O Rui não me pediu para escrever. Embora eu lhe dissesse que tinha um blogue e que iria escrever sobre o assunto, provavelmente, olhou-me da mesma forma que tem olhado para os outros "mensageiros de cultura". Ou seja, se calhar, pensou assim: olha lá vem outro.
Depois, o senhor(a) não se deve lembrar, mas o Jornal as Beiras já fez uma reportagem sobre o assunto há cerca de 3 semanas, embora sem grande consequência, ao que parece. É certo que não falava nos contactos do Rui a Mário Nunes e António Pedro Pita. Digamos que aqui sou mais acutilante. É a vantagem de eu -contrariamente ao jornalista-, enquanto "opinador", poder tomar posição.
Vamos aguardar: enviei este meu texto para o Diário de Coimbra. Se for publicado, pode ser que tenha consequências. Acredito mesmo que sim.
Abraço.