quinta-feira, 6 de agosto de 2009

AMOLADOR DE TERCEIRA GERAÇÃO







 Chama-se Carlos Manuel. Vem de Leiria para “amolar” os Conimbricenses. Gosta muito de Coimbra. Trabalhou 8 anos numa oficina ali para cima, que não sabe explicar muito bem onde fica.
Quando lhe pergunto se esta profissão em desaparecimento dá para viver, responde-me que "mal. Muito mal, mesmo. Mas, que quer? Tenho de comer todos os dias, não é? Como não recebo qualquer subsídio, tenho de “dobrar a mola”. Como quem diz, desgastar o metal das diversas facas, tesouras e outros objectos que servem para cortar qualquer coisa, nem que seja a casaca de alguém.
Diz-me o Carlos, a sorrir, que sempre que vem aqui para baixo, mesmo para o coração do centro histórico –porque habitualmente anda ou pelo mercado municipal ou pelos arrabaldes- pára ali ao pé da Igreja de Santa Cruz. Toca na gaita, volta a tocar, mas ninguém aparece. “certamente que a espada de D. Afonso Henriques deve estar a precisar de ser afiada, você não acha?”, interroga-me. Se calhar, lá vou respondendo, meio titubeante. Confesso-lhe que, apesar de estar na cidade há mais de 40 anos, nunca vi o “Conquistador” nem dentro nem fora do túmulo. Se calhar só voltará a andar por aqui quando for restaurada a monarquia… que é como fazem os políticos, enfatizo, encolhendo os ombros. Mas o Carlos nem liga aos meus desabafos… já lá vai a tocar a gaita-de-beiços, que amolador não pode perder tempo com líricos, parece dizer-me.

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