sábado, 1 de agosto de 2009
FIGUEIRA DA FOZ: O VENDEDOR DE SORRISOS
Estou sentado na praia, em Buarcos. Como brisa suave, vinda do norte, começo a ouvir ao longe umas frases engraçadas, em jeito de slogan publicitário: “só tenho três! Só tenho três! Aldrabão sou eu… e não minto assim!”.
Começo a reparar que, à medida que o vendedor se aproxima com novos trechos publicitários, “bolacha americana! Quem comer duas faz amor toda a semana”, as pessoas ao meu redor, inevitavelmente, ensaiam um trejeito de riso.
O homem está agora à minha frente. Tem pouco mais de um metro e sessenta de altura. Ao ombro a tradicional lata da bolacha americana, encimada por uns olhos desenhados a sorrir a fazer lembrar o “Noddy”. Todo vestido de branco, com as calças arregaçadas pelo meio da perna, um boné na cabeça, e o rosto adornado com uns óculos de aros amarelos, fazem dele um “dandy”, um personagem elegante e refinado, nos gestos e sobretudo na graça imanente que, sem grande esforço, brota da sua imagem, ao mesmo tempo acompanhado pelas estudadas rábulas de “stand up comedi”. Ele é um comediante em potência.
É o Paulo Almeida, tem 48 anos, e percorre as areias finas da Figueira da Foz há 34 anos. Começou nos caramelos e pinhoadas, vindo a enveredar pelo fabrico e venda de bolacha americana, tal como o pai o fez durante muitos anos. Já o avô era vendedor ambulante nas praias da Figueira, confidencia-me.
“Se comprar o “Noddy” faz “nodismo”, interrompe a nossa conversa, lançando este grito às pessoas em volta, como se me dissesse que vendedor tem de trabalhar e não pode perder muito tempo. Adora esta praia da Figueira, diz-me. “Eu podia ir para uma outra qualquer, mas é nesta que eu nasci, é aqui que gosto de estar”. Quando lhe pergunto se, enquanto vendedor “sui generis”, que pelas suas graças faz sorrir toda a gente, é estimado por todos, responde-me: “sabe, há sempre quem não goste de nós –é a vida. Há invejas. Apesar de eu estar licenciado, há sempre alguém que nos quer prejudicar”. E como? Interrogo. “São pessoas inseguras que até nesta simples venda de bolacha acham que lesamos os seus interesses. Querem acabar connosco. Já fizeram desaparecer os vendedores de gelados. Talvez se sintam ofuscados…não sei! Felizmente que o comandante da Polícia Marítima é uma pessoa sensível. Sei, e sinto, que está sempre ao nosso lado”, confidencia-me enigmaticamente.
“Às vezes, por esta ignorância das pessoas, falta de reconhecimento, ou talvez ganância, vou-me abaixo. Claro que tenho de rapidamente recobrar: é a minha vida. O que eu mais quero é poder fazer o que gosto. Prefiro andar a vender as minhas bolachas livremente, sem ninguém me aborrecer, ao melhor prémio do totoloto que me saísse. Pois! Assim é que sou feliz”.
Pega na lata do “Noddy”, despede-se, e, rapidamente, lança ao vento novas frases: “quem comprar uma bolacha habilita-se a vários prémios: uma radiografia via satélite; uma máquina de lavar roupa à mão ou então uma viagem a Fátima…a pé” –e, como se estivesse num grande palco, começa a rir sem parar, a bandeiras desfraldadas.
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1 comentário:
Já o ouvi na praia de Buarcos. Fez-me sorrir!
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