quarta-feira, 1 de abril de 2009

BAIXA: UMA BOMBA NO TURÍBIO

(ERA UMA FOLHA AMARELECIDA E PARECIDA COM ESTA)


(ESTE É O PRÉDIO LEGADO PARA FUTURA "CASA DO COMERCIANTE")


Se hoje, por aqui, se interrogar quem é o maior comerciante da Baixa, provavelmente, não haverá dúvidas: é o Romeu, das sapatarias com o mesmo nome. Tem várias sapatarias na cidade, nos vários shoppings, e, também, outros estabelecimentos em várias cidades do país. Em resumo é um empresário de sucesso. Este “filho de peixe que sabe nadar”, para além de herdar os genes do pai –um comerciante da velha cepa desaparecido do mundo dos vivos há poucos anos, carismático e de personalidade forte. Quem o conheceu bem, diz que era um “agarradão”, que não perdia tempo a dar um tostão a um pedinte. Sempre com o aforismo presente, “amigos, amigos, negócios à parte”. Fruto da sua visão comercial e do muito trabalho, este homem, para além dos imensos prédios na cidade, deixou um império ao seu Romeu-varão de que falo hoje com bastante alegria.
O que se passa? Parece-me adivinhar na sua cara, leitor. Calma! Posso adiantar-lhe que é uma bomba, a notícia que aqui vou dar em primeira-mão.
Isso, vá torcendo as mãos de ansiedade. Gosto de fazer sofrer quem me lê. Que quer? Sou assim, e pronto!
Então lá vai. Ao que parece, segundo uma testemunha que me pediu para não ser identificada, o Romeu (filho), rebuscando velhas memórias do pai, encontrou uma velha folha de papel selado que rezava assim:

“Ao meu filho Romeu:
Meu querido e amado filho, como sabes eu sempre fui um viciado em trabalho, um workoolic, como se diz agora. Trabalhei tanto, tanto, que penso que só pelas minhas ausências notavas. Mal gozei a vida. Os meus, poucos, amigos reclamaram sempre deste meu “alcoolismo” pelo trabalho.
Como sabes, os meus (nossos) colegas comerciantes nunca me "gramaram". Falaram sempre mal de mim, “espetando-me facas nas costas”. Pudera, enquanto eu trabalhava todos os dias, incluindo os sábados, e até aos domingos nas grandes superfícies, eles queriam era “forrobodó”. Como sabes bem, aos três minutos para as 19 horas estão todos a encerrar as portas. Se preciso for, até põem os clientes na rua. Ao sábado é a pouca vergonha que tu sabes, meu rico filho: em vez de trabalharem todo o dia, não senhor!, fecham todos a porta e vão a correr para o “quintalito” semear uns feijões. Depois queixam-se das dificuldades. Uns pobres diabos, estes comerciantes do centro histórico. Mas que se há-de fazer? Vieram ao mundo para cantar o fadinho desgraçadinho. Mas eu tenho muita pena desta gente –não te admires, prefiro assim que o contrário.
Sabes, estou já “entradote” na idade, não sei se é por isso ou não, mas a verdade é que me sinto frágil. Sinto que, para além de dar emprego a muita gente e criar riqueza, nunca dei nada à sociedade. Então, hoje, nesta data, ordeno-te que cumpras integralmente a minha vontade no que te vou ordenar. Quero que, quando encontrares esta folha de papel selado -que não sei quando será-, disponibilizes gratuitamente, durante 50 anos, o prédio do Turíbio de Matos, de nossa propriedade, na Praça do Comércio, para ser transformado na futura “Casa do Comerciante”.
“Tenho dito”
(Assinatura bem legível)

Agora, imagine, se você fosse o Romeu (filho) o que faria? Pois é, seu safado –eu vi logo!- calava-se, não era? Pois, mas acontece que o primogénito Romeu não é como você. Vai daí, foi ter com o Armindo Gaspar, presidente da APBC, Agência de Promoção para a Baixa de Coimbra, e prontificou-se a cumprir integralmente a última vontade do pai.
O Armindo, meu amigo e bom rapaz, do seu metro e sessenta, parece ter crescido para um metro e noventa, completamente fora de si, cheio de contentamento, tratou logo de me ligar a dar a boa-nova. Mal sabia ele que eu já sabia. Mas também não me desmanchei. “Ó pá, já viste isto? Isto é uma bomba, diz-me o Gaspar com a voz meia “entramelada” pela ansiedade. Já que a Câmara Municipal não obrigou os donos do “Fórum Coimbra” a cumprir o acordo de construir a “Casa do Comerciante”, vou fazê-lo eu. Mas, faz-me uma coisa, não dês com a língua nos dentes, como é costume, que só amanhã vou convocar uma conferência de imprensa”, segreda-me o Armindo Gaspar.
Sinceramente, pensei, repensei, tornei a pensar, revirei a cabeça e disse cá para mim: não! Os meus leitores do blogue não merecem que eu guarde esta notícia só para mim. E, pimba! Cá está.
Isto é uma bomba, não é? Pois é!

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