Se com a minha sensibilidade à
flor da pele tantas vezes me sinto tocado por um qualquer quadro simples do
quotidiano, imagine-se passar na Rua Ferreira Borges e dar, de caras, com a representação
de duas deusas do amor, imaginativas de Afrodite, como é que eu fico? Naturalmente,
ansioso e em “pele de galinha”. Como repórter de trazer por casa, tenho de ir
bisbilhotar. Então, quem são? O que fazem aqui?
Aqueles raios solares do meio-dia
eram a Ayaly e a Maya. São dois “transformers” –segundo a Wikipédia, um “Transformista
é uma pessoa que veste roupas usualmente próprias do sexo oposto com intuitos essencialmente artístico-comerciais,
sem que tal atitude interfira necessariamente em sua orientação
sexual.”
Segundo as suas declarações, estão
há cerca de dois anos em Coimbra e são estudantes na Universidade de Coimbra. Hoje,
por força de um concurso de fotografia da Revista Cais e do Banco Espírito
Santo (BES), estão “transformadas” exactamente para serem retratadas na Baixa.
A intenção desta prova concursal, promovida pelo BES e pela Cais, é discutir as
questões de género.
Lá lhe fui perguntando, em
comparação com o Brasil, como acham a sociedade conimbricense perante a diferença,
isto é, como reagem, e, em coro, responderam: “no nosso país de origem é mais
fácil. Lá os governos estão apostados em dar apoio a espectáculos de transgenerismo,
e ao fazê-lo estão, implicitamente, a contribuir para uma outra forma pública de
ver. Ajuda a que se derrubem tabus e barreiras sociais. Lá, no Brasil, as
pessoas da rua olham-nos nos olhos e falam connosco”. Quer dizer, intuo eu, que
se não aprovam também não desaprovam. Se não gostam também não ostracizam. Respeita-se
a inclinação sexual de cada um.
“Aqui, sobretudo em Coimbra, não
se investe em “shows” de travestismo –que é diferente de transformismo- ou
outras formas alternativas. A consequência, talvez pela falta de divulgação, é
que o transeunte olha para nós rapidamente e desvia o olhar. Ninguém fala
connosco”. Parece-me entender que as pessoas apreciam apenas a aparência e não
querem saber de mais nada. Assim como se olhassem para um marciano que viesse à
terra em turismo sexual.
Então, Ayaly e Maya, façam o
favor de visitarem a Baixa mais vezes. Divulguem o vosso trabalho, mostrem-se
como são. Uma cidade é tão mais rica quanto maior for a sua diversidade. Voltem
sempre e obrigadas.
2 comentários:
Bellíssimo!!!
Obrigado a ti pelo carinho e desculpa qualquer desatenção, pois ficou um pouco difícil estar concentrada com os pés doloridos.
Sinta-se livre para ver nossas novidades no facebook:
Ayaly Fox ou Maya Pappillons.
Como minha madrinha linda disse!
Muito obrigada mesmo!
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