quinta-feira, 12 de julho de 2012

LEIA O DESPERTAR..



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA


Para além da coluna "Uma feira ameaçada", deixo também os meus textos "Dar voz aos hoteleiros da praça" e  "Rostos nossos (des)conhecidos: o "Carlitos popó".



UMA FEIRA  AMEAÇADA

 Conforme o protocolo estabelecido previamente e anunciado ao público, no passado sábado, cerca das 10h30, na Praça do Comércio, estava tudo pronto para a inauguração da “Feira de Artesanato e Sabores Tradicionais” que decorreu no fim-de-semana naquele recinto histórico. As “barraquinhas” estandardizadas, com grande apresentação e até com estore para o encerramento à noite, mostravam-se todas preenchidas e bem inseridas na paisagem. Tal como no ano transato, Barbosa de Melo, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, que apoia este certame, acompanhado com a esposa, a dar um toque de sublime diferença em relação ao seu antecessor Encarnação, não iria tardar. Havia um senão que estava a estragar aquilo tudo: a chuva. Um homem, aparentemente ansioso, andava para trás e para a frente de telemóvel ao ouvido: Carlos Clemente. Pelo gesticular, dava impressão que ralhava com São Pedro. Talvez porque eu estivesse longe, não deu bem para perceber, mas, como conheço bem o presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, até consegui adivinhar o que ia para ali, naquele diálogo a uma só voz. De certeza que o pobre santo estava a levar a maior “seca” dos últimos tempos, uma grande rabecada assim do género: “ó pá!, mas que é isto? Estás feito com a oposição, é? Pára lá com esta “remelisse” de “molha-tolos”, porra! Isto é uma injustiça, estás a ouvir? Ainda ontem esteve um dia de verão e hoje está a chover? Isto aqui anda mãozinha dos meus inimigos, só pode! Acaba lá com esta “merdice” de chuva que nem é chuva nem é vento e que só molha os jumentos! Estou à espera do Barbosa e da esposa. Estás a estragar os meus planos, carago! Isto não está certo! Agora escolhe, ou páras mesmo com esta coisa ou, então, na próxima Assembleia Municipal vou denunciar-te como inimigo da Baixa e a adepto defensor das grandes superfícies. Vai-te lixar, pá!, mais a tua insensibilidade! Homessa, sabes bem que isto até está bonito! E mais ainda, estás burro de saber que eu e a minha junta não podemos fazer mais por esta zona velha. É ou não é?”
A verdade é que aquela maldita chuva parecia mesmo ter sido encomendada pelos gajos que não topam o Clemente. Veio então o presidente da edilidade e mais uma vasta comitiva e o raio da “morrice” não dava tréguas. Enquanto Barbosa de Melo aproveitava para apertar a mão a um expositor –como se com este gesto quisesse dizer, “não esqueça que eu sou muito humano e tolerante, muito mais do que o outro, que nunca vinha até aqui inaugurar uma festa”- o presidenta da junta olhava o céu. Às vezes, com ar de ameaça, como se quisesse dizer: “ ou me fazes a vontade ou estás lixado comigo! Se não parares com esta maldita chuva, podes ter a certeza que para o ano não faço as fogueiras em tua honra no Largo do Romal”.
Ninguém se apercebia de que naquela praça velha, onde na Idade Média se teriam queimado fariseus e outros vendilhões e no Renascimento, na Inquisição, se chicotearam cristãos-novos por muito menos, estava a haver um brutal braço-de-ferro entre o “senhor das festas terrenas da Baixa” e o administrador de todas as águas do Universo. Quem iria ceder? Clemente não era de certeza! Parecia-me, não sei!
E então não é que passado pouco mais de uma hora a chuva parou mesmo? À hora do almoço, sentado ao lado da esposa de Barbosa de Melo e acompanhado pelo deputado Rui Duarte, assim de peito cheio –como sabia, que eu sabia, do seu saber, acerca das ameaças ao santo sofredor- ainda me atirou, assim como a querer mostrar-me a sua força incomensurável, assim meio a gozar: “olhe lá, ó Luís, acha que vai chover mais?” –claro que ele sabia muito bem que não iria chover mais porque o São Pedro, imagino, ficou completamente “borradinho” de medo das suas intimações.
A verdade é que a Baixa, no sábado e no domingo, esteve muito bonita e engalanada. Durante as refeições as várias agremiações da cidade ali representadas não tiveram mãos a medir a venderem os seus petiscos pantagruélicos, tal como “sopa da pedra” e “chanfana”. Até a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, teve lá um stande a negociar uns pastelinhos “crúzios”, de Tentúgal e outros tantos.
Por entre os visitantes e os trabalhadores, que de uma forma desinteressada se dedicam de corpo e alma às estas causas, o nosso embaixador para as questões culturais da Baixa e consultor da Unesco, “Carlitos popó”, media tudo ao pormenor. Pelos vistos, como não se me queixou, é mais que certo que estava tudo bem.



DAR VOZ AOS HOTELEIROS DA PRAÇA

 Conforme texto em anexo, neste último fim-de-semana, decorreu, na Praça do Comércio, a ”Feira de Artesanato e Sabores Tradicionais”. Largas centenas de visitantes acorreram à Baixa para presenciarem a atuação de vários grupos de folclore e provarem os pratos da nossa cozinha regional. Todos estarão de acordo de que estas iniciativas são positivas para esta zona de antanho ou nem por isso? Entendi, neste caso, dar voz aos três hoteleiros com estabelecimentos abertos dentro deste espaço público. A todos formulei três perguntas:
-Estas iniciativas são boas para a Baixa? –E para o seu estabelecimento é bom ou mau? –E a frequência das casas-de-banho?
O primeiro a responder foi Jorge Rodrigues, do restaurante Praça Velha: “estas iniciativas são de louvar. Devia haver mais atividades neste género. Trazem pessoas e dinamizam a Baixa.
É bom para o estabelecimento. Há mais gente, há mais consumo. É indispensável haver, na praça, wc’s montados para este efeito sempre que se realizem estes eventos. Nós, cafés e restaurantes, é que prestamos sempre este serviço público. Para além disso, é preciso tomar atenção à limpeza do recinto. Depois das festas, quase sempre, quem a faz somos nós.”
Armando Campos, do restaurante “A Taberninha”, disse o seguinte: “estas iniciativas são boas para a Baixa. Trazem movimento para esta zona. O problema é que há pessoas que só cá vêm nestes dias de festa. Fora disto nunca colocam cá os pés. Para o restaurante é bom. Hoje, domingo, e ontem, sábado, esteve muita gente.
Em relação às casas de banho, as pessoas pensam que nós somos obrigados a facultar o seu uso gratuitamente. Ninguém se lembra do elevado custo que significa para nós. Nestes eventos, que comportam um elevado número de visitas, obrigatoriamente devia haver sentinas improvisadas para o efeito. Sinto-me prejudicado. Sobretudo porque os utilizadores se sentem no direito de as frequentar sem consumirem nada. É evidente que não nego o seu uso a ninguém, mas sou um pequeno empresário e, como tal, sinto-me. Entram e não perguntam se podem servir-se ou não. Há neste procedimento uma implícita má educação coletiva. Uma forma arrogante por parte do público em geral. Acham-se no direito de entrar e sair sem um simples obrigado. É uma falta de respeito!”
Por último falei com João Rodrigues, do café “Pepe Kebab”: “estas ações são sempre boas para a Baixa. Acho que são! Nestes dias, trazem muita gente. Para o meu estabelecimento é sempre bom. Apesar de as “tasquinhas” fazerem um pouco de concorrência desleal. Porque é assim: que façam negócio, tudo bem, mas que paguem impostos! Nós pagamos por eles. A nós, que estamos estabelecidos, exigem tudo e mais alguma coisa. A nível de organização não está satisfatório.
Quanto às casas-de-banho, deveria haver sanitários para o público frequentador destes eventos na praça. Aqui ao meu lado, as sentinas públicas excecionalmente estão abertas por causa do cortejo da Rainha Santa, mas como se tem de pagar 20 cêntimos as pessoas rejeitam. Normalmente, quando aqui há festas, estão fechadas. Mais ainda, quando chego aqui de manhã, a seguir aos festejos, está tudo sujo e com o chão cheio de dejetos. É um problema! Muitas pessoas entram e vão à casa de banho, entopem a sanita, deixam papéis no chão. Sinto-me prejudicado, sobretudo, porque não têm respeito por ninguém.”
E sobre as críticas unânimes à falta de casas de banho privativas para o evento, o que pensa Carlos Clemente, o presidente da Junta de freguesia de São Bartolomeu, entidade organizadora, com o apoio da Câmara Municipal? Vamos ouvir: “as casas de banho estiveram a funcionar. E gratuitamente para os expositores até ao encerramento da feira. Lamento que um dos hoteleiros desta praça tivesse uma funcionária à porta dos seus sanitários a limitar o acesso a quem precisava de os usar. Um meu amigo até ia para jantar lá no restaurante, mas perante aquilo deu meia-volta e foi para o vizinho. Enquanto presidente da junta, juntamente com mais dois colegas do executivo e que tanto nos esforçámos para realizar este encontro, lamento profundamente a falta de colaboração de alguns operadores desta praça pelas dificuldades criadas.”





ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS

O “CARLITOS POPÓ”


Sou o Carlos Alberto Duarte,
todos me conhecem na Baixa,
uns tomam-me como baluarte,
outros como louco que encaixa
na senilidade do seu encarte;
Sou quase um vivo monumento,
na paisagem envolvente,
tenho um pressentimento,
que para muitos não sou gente,
sou coisa sem sentimento;
Mas eu sou pessoa que ama,
dentro de mim bate um coração,
olho para quem passa, para a dama,
para a viúva triste sem consolação,
que olhando para mim, exclama:
“Olha, é um maluco que aqui vai,
caminhando nas ruas sozinho,
pouco fala, parece que nunca sai
do Largo das Ameias, do cantinho,
pobrezinho, valha-o Deus, ajudai!”;
Mas contrariamente ao pensar,
sou feliz com pouco ter,
basta-me apenas não chorar,
que me importa não saber ler,
ou não ter telemóvel para falar?;
Apesar de não ser religioso,
mas até sou um bom cristão,
tantas vezes sou caridoso,
dou um braço, dou a mão,
por alguém mais andrajoso;
Desconheço o ódio, pois então!
gosto de qualquer humano,
quando vou na procissão,
em passo solene franciscano,
julgam-me um igual na razão.


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