Já há muito tempo que não escrevo
uma peça jornalística. Quando andava enrolada com o director do blogue, o Luís
Fernandes –não devem conhecer, e ainda bem para vós, que o gajo não interessa
nem ao menino Jesus-, havia sempre serviço de exterior. Muitos de vocês não
sabem, mas, mal acabei a faculdade, fui estagiar lá para a redacção. Era mais
que certo aquilo não ser grande coisa, mas está tudo tão difícil, que não fui
de modos e aceitei. Quer dizer, é melhor confessar já, quando vi o gajo, houve
qualquer coisa que me tocou, sei lá, senti-me estremecer. Foi uma atracção
imediata. Sei lá, foi assim como se eu conhecesse o tipo de outra vida passada.
Corei tanto que, agora mesmo, há distância de 5 anos, ainda sinto as minhas
faces ruborizadas e as pernas a tremer. Ainda hoje me pergunto o que vi naquele
“cinco mil reis de gente”? De meia-idade, uma barriga mais saliente do que devia,
baixote e de cabelos brancos. Meu Deus, eu devia estar completamente “passada
dos carretos”. Bom, por este passar do tempo, não é bem assim. Por um lado eu
era virgem –lá na Faculdade tive vários candidatos a tentarem agriculturar o
meu corpo. É certo que até apalpavam a fruta e queriam comê-la, está de ver,
mas não me inspiravam confiança. Eram jovens agricultores sem experiência de
hortícola. Eu queria alguém com traquejo, que tivesse a alma calejada pelas
estrias do tempo. Talvez por isso nunca alinhasse com putos. Bem, tenho que
confessar: sempre gostei de homens mais velhos. Dizia o Sigmund, (Freud) lá nas
suas teorias psicanalíticas, que esta inclinação é uma projecção fixada no pai.
E, conhecendo-me, tenho de confessar que o raio do homem sabia do que escrevia,
é verdade sim.
Então, mal entrei lá para o
blogue, através dos olhares lascivos do malandro, senti-me um animal selvagem
preso numa reserva de caça. Sabia que se pretendesse fugir, que nem era o caso,
bastava o captor estender o braço. Escusado será dizer que passado menos de
trinta dias já misturávamos os nossos suores num caldinho de emoções. Ai!, e se
eu gostava! É certo que me sentia uma marafona, com toda a sua carga de estigma
associado, mas eu queria lá saber? Uma miúda com vinte e poucos anos quer é
gozar o dia, no “carpe diem”, como sói dizer-se. Epicuro é o seu Sol redentor. Aquele
homem, para mim, era um mestre nas artes do amor. Ele lia a minha alma como se
eu fosse um livro aberto. Tantas vezes me levou a ver o mar. Dentro do carro, em
frente ao imenso oceano azul, agarradinhos um no outro, beijávamo-nos
sofregamente como se não houvesse amanhã. Outras vezes, sem que eu contasse,
oferecia-me uma rosa vermelha. Ainda hoje me pergunto como é que este “malaqueco”
conhecia tão bem a alma feminina! Se calhar, sei lá, em outra vida, teria sido
mulher! Só pode mesmo ser assim. Nenhum homem normal tem tamanha sensibilidade.
Outras vezes, sem que eu esperasse, compunha-me um poema e, como se espalhasse
sementes ao vento, polvilhava-me com aquelas rimas soltas em doçura de amor. E eu,
como iceberg sobre intensa canícula, derretia-me toda. Ai, meu Deus! Eu estava
apanhadinha. Só tinha olhos para o estafermo. Quantos olhares de homens
carecentes de amor me lançavam na rua e eu renegava? Bem, modéstia à parte eu
era –e ainda sou- o mais nobre exemplar de beleza criada pela natureza. Não me
venham falar em artistas de cinema. Elas, ao pé de mim, são assim apenas uma
sombra passageira de um modelo ultrapassado.
Só para ficarem com uma ideia.
Tenho 1,70 de altura, cabelos negros caídos pelos ombros, azeviche, em retrato
de cigana. Um rosto amendoado, com duas maçãs não muito salientes mas que
apetece acariciar com as costas de uma mão. Dois olhos negros, com meio brilho,
alternado umas vezes em longos solilóquios introspectivos, outras vezes numa
esfusiante alegria. Tenho um nariz aquilino, pequenino, como se fosse obra de
um barrista renascentista. Como se fosse pouco, um pequeno sinal negro, como
marco vinculativo, divide toda a minha expressão facial. O meu pescoço é longo,
tão longo, que parece convidar os homens a torná-lo mais curto em carícias
manuais e compridos relampejos linguísticos. O meu tronco é modelado em
curvilíneos desfiladeiros suaves. Dois montes, erectos, provocantes ao olhar
masculino, saltam à vista –claro que faço por isso nos meus longos decotes
generosos. A minha cintura é de 36. O andar inferior –como quem diz, creio ser
até superior, porque todos os homens querem descer à terra-, do meu corpo, é um
paraíso ambulante, uma libelinha que flutua esvoaçante a cortar o vento. Tenho
duas coxas roliças suportadas por duas pernas lindas, nem muito magras, nem
muito cheias, que parecem ter saído do pincel de Miguel Ângelo, num intervalo, a
decorar a capela Sistina. Sou assim uma espécie de divindade mitológica
materializada. No fundo deste monumento afrodisíaco, dois pés pequeninos são a
glória de toda esta heroicidade carnal.
Já vêem então como nem foi muito
difícil eu assentar praça, em estágio, cá no blogue. Mas se é verdade que os
primeiros tempos foram de encantamento, a verdade é que, mutuamente, com o
correr dos dias, aquelas linhas fluídicas foram lentamente caindo, não de
velhice mas sim de cansaço. É certo que eu também já tinha o estágio feito. A partir
de ali, estava pronta para um embate frontal de um qualquer amor estranho e impossível.
Tinha a rodagem feita e pronta a lançar-me à estrada. Já não tinha mais nada a
aprender. Embora já estivesse farta de comer sempre a mesma fruta, ele parecia
continuar a gostar. Gostar… gostar não é bem o termo. Quem conhece os homens,
como eu, sabe muito bem que, para eles, uma relação se divide em paixão, amor,
saturação e posse. E quando chega a esta fase já é o tudo ou nada para não
perder a propriedade. Mas eu não estava nessa. Isso é que era bom! Resultado,
aos poucos, como um barquinho de papel que colocamos nas águas de um rio em
direcção ao mar, fomo-nos afastando progressivamente.
Por tudo isto estranhei, ontem, o
mastronço ter-me ligado para ir fazer a reportagem do “Jazz na Praça”. Palavra de
honra, se não fosse este “bichinho” que me corrói as entranhas –gosto de
escrever, o jornalismo é a minha paixão- eu queria lá saber daquilo? Até
porque, monetariamente, isto não dá dinheiro. A imprensa arrasta-se pelas ruas da
lama e amargura. Deixei de exercer esta minha antiga profissão. Agora sou
empresária em nome individual. Dedico-me ao “escort”. É uma maravilha. Quando
toda a gente se queixa da crise… eu não tenho mãos a medir…e corpo, é claro! E
mais, só trabalho para o mercado interno, que está como se sabe?! Mas tenho
bons clientes, e fidelizados. Querem é, de facto, um atendimento personalizado.
Isso já sei! Quando estou com eles não me posso virar para mais ninguém. Mas
sou bem paga. Lá isso sou!
Voltando ao “Jazz na Praça”,
porque a conversa é como as cerejas, uma pessoa começa na primeira e nunca mais
acaba, aquilo até estava animado. Bem sei que o Carlos Clemente, o presidente
da junta de Freguesia de São Bartolomeu, esperava mais pessoas. Na apresentação
de “A Sítio de Sons”, com a excepcional voz de Joana Espadinha, estiveram cerca
de uma centena de pessoas. O chato daquilo foi na primeira fila estarem cerca
de uma dúzia de cadeiras reservadas aos VIP, certamente a vereadora da Cultura,
da Câmara Municipal, Maria José Azevedo, e, se calhar, ao director do blogue, Luís
Fernandes, e ninguém lá pôs os pés. Bolas, é chato! E também há uma coisa: há
mesma hora, a cerca de 80 metros em linha recta, nas Escadas do Quebra Costas,
estava também a decorrer um espectáculo de Jazz, promovido sobre o lema “Jazz
@Quebra”, que é semanal.
Digam-me lá? Como é que se continua
a fazer animação na Baixa sem qualquer planeamento. Admite-se isto? Ora bem, só
posso entender pelo facto de a vereadora da Cultura não ter assessores à altura.
Pode ser isso. É ou não é? Se fosse esse o caso, juro pela minha mãezinha, para
ajudar, e imbuída em espírito de entrega ao serviço público, eu até interrompia
o meu trabalho –que também é de assistência aos mais necessitados. É bom não
esquecer.
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