Já tinham saudades minhas, não
já? Imagino! Há meses que não escrevo nada. E sabem por quê, sabem? Não sabem,
claro que não?! Como é que haveriam de saber?! Mas eu conto! As verdades, nem
que seja apenas para lavar a alma da lama, devem ser descarregadas. Quem nos
ouve –neste caso, quem nos lê- não liga peva, mas uma pessoa, como se estivesse
a fazer diálise, a purificar o sangue, fica muito melhor.
Fui enviado para a Síria como
correspondente de guerra do blogue Questões Nacionais. Há meses que deixei de
receber o “cacau”. Pedi ajuda às autoridades nacionais lá representadas, na
altura mas que já zarparam para cá, e nada. Quem me ajudou a passar aquelas
noites longas de calor foi a minha Habib –que significa em árabe “querido amor
e era a minha amante lá naquele país do Levante. Nesta “shahada”, como quem
diz, profissão de fé, o que me valeu também foi a música do Sami Yosuf, que na
falta de alimento para estômago lá me ia sustentando a alma. O problema foi que,
pela contínua falta de pilim, a paixão da minha Habib, como areia do deserto levada
pelo vento, foi-se perdendo. Resultado, abandonado por todos, sem cheta, tive
de me pôr ao caminho a pé descalço. Depois de atravessar o país todo a penates
lá cheguei a Israel todo doridinho. Ai coitadinho de mim! Nunca mais me vou
esquecer. Isto não se fazia nem ao maior inimigo do Passos Coelho, caramba! Cheguei
ontem a Coimbra. Apesar da pronta assistência de uma boa enfermeira israelita –ai,
por Alá!, até me passou pela tola ficar
por lá para sempre e ser cuidado por aquelas mãos delicadas-, os meus pés ainda
estão que nem um trambolho. Estão mais inchados, acho eu, que a cabeça do
ministro Relvas perante tantos dichotes no Facebook.
Dizia eu, então, que aportei
ontem à cidade. Mesmo “coxela” de todo, e com uma brutal carência de sexo –há três
meses que não vejo a padeira, como quem diz a minha Habib-, a primeira coisa
que fiz foi ir comer uma “sandocha”, de sardinha de escabeche, e beber um copo
de três ao “Mijacão. Isto é que era mesmo uma saudade. O que é uma mulher boa
ao pé de um prazer daqueles? Estava eu já na terceira sandes, agora de bifana,
porque a minha barriga estava mais necessitada que o Presidente Cavaco de uma
arruada de aclamação popular, quando recebi um recado escrito, através do “Carlitos popó”, do bandido caloteiro. Já viram o desplante do canalha? Já? -Ainda bem
que posso dividir consigo, leitor, esta mágoa que me consome todo, em frenesim,
como se fosse um ataque de caspa. Fogo!, há gajos que haviam de ser chicoteados
na praça pública, como eu vi lá na Síria por muito menos, caraças! Desenrolei o
papelucho e o que dizia aquilo? “Mais logo, apresente-se n’”A Brasileira”.
Promovida pelo Lions Clube de Coimbra, vai realizar-se a segunda tertúlia, e
última deste pico de verão, “no âmbito do Apoio da Candidatura de Coimbra a Património
Mundial da Humanidade. Assinado: Luís Fernandes, director do blogue mais
importante deste mundo e do outro”. Porra!, uma pessoa até se passa! Já viram
isto? Ai que nervos, meu senhor Deus! Que a fé e a paciência não se esgote nem
nos falte! Quer dizer, o vigarista não me paga, abandona-me lá nos confins da
Arábia Saudita, e agora manda-me fazer a reportagem? Como é que posso? Por um
lado nem dinheiro tenho para comprar uns sapatitos, mas por outro também com os
pés inchados, que mais parecem o João Moura, o presidente da Câmara de
Cantanhede, ontem junto ao Primeiro-ministro a inaugurar a Expofacic, como é que
posso?
Mas vendo bem as coisas, até nem
é por dinheiro, que isso já nem conta para nada. Uma pessoa ultrapassando o
meio-século deixa de olhar para os níqueis como a chave mestra do motor da
humanidade. Como um grande sábio, passa a ver as coisas com outra atenção. Passa
a preocupar-se mais com os pormenores, começa a inverter os valores da
sensibilidade, deixa de apreciar o global e passa ao ínfimo. É como se, numa
troca de géneros, quem sabe em castigo divino, passasse de homem para mulher.
Dizia eu então. Quero lá saber do
dinheiro para alguma coisa? Se não tenho grande farpela para me apresentar lá n’A
Brasileira, junto os doutores, eu quero lá saber?! Enfio a minha túnica, que
trouxe da Síria, enfio as minhas sandálias de Pedro, o Pescador, e lá vou eu.
Não posso falhar. De certeza absoluta que lá vai estar a minha diva de todas as
torres de Minerva deste mundo: a Clarinha Almeida Santos. Posso eu faltar sem
ver um sorrisinho daqueles? Nunca! Prefiro andar em jejum sabático de uma semana
sem uma côdea!
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