Ontem, cerca das 20h30, na saída
de Coimbra-Norte, da auto-estrada A17, que liga a Figueira da Foz à cidade do
Mondego, de três máquinas automáticas de cobranças de bilhetes, só uma estava a
funcionar devidamente, mas muito lentamente. Ao que parece, duas delas, não
liam os cartões de crédito e aparecia no visor “Cartão inválido”. Como deveria
ser por direito, nenhum funcionário estava presente para apoiar os automobilistas
em apuros.
Para fazer face a esta situação, com
cerca de 120 viaturas em espera, uma senhora funcionária da Brisa, recebendo
queixas de todo o lado, como uma madalena dentro de um oráculo, chorava
copiosamente.
A minha testemunha, que me contou
indisposto com esta situação, é belga. Nas suas palavras de irritação,
comparando com o nosso com o seu país, num cocktail de emoções, misturavam-se
uma enorme indignação, solidariedade e pena por ver o sofrimento daquela
funcionária lavada num mar de lágrimas. Segundo as suas declarações, as
pessoas, em longas filas, discutiam de viva voz com a mulher. Esta, lá iria
dizendo: “desculpem, estou sozinha. Não posso fazer nada!” –aparentemente, parecia
estar petrificada com tudo aquilo e ter medo de tomar uma decisão. Quem sabe
por receio de perder o emprego?
“Não pode ser! Não pode ser! Nunca
mais vou esquecer a tristeza daquela senhora funcionária da Brisa. Foi
incrível!”, repete, quase em êxtase, este meu amigo completamente irritado.
Este meu depoente esteve nas
longas filas entre 15 minutos a meia-hora. “Por entre as viaturas viam-se
pessoas a gesticular. Um carro com brasileiros estava pura e simplesmente fora
de si porque ficaram presos junto à máquina e não podiam retroceder. A loucura
andou à solta ontem à saída de Coimbra-Norte”, diz-me.
Por momentos vale a pena pensar
onde conduz este desenvolvimento, assente total e exclusivamente no digital? É
preciso questionar para onde caminhamos. Que sistema selvagem é este que
empurra pessoas para o desemprego e para a falência? É este futuro, que já é
hoje, que queremos para todos?
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