segunda-feira, 9 de julho de 2012

PRECISA-SE DE APOIO PSICOLÓGICO

(IMAGEM DA WEB)



 A mulher que está à minha frente terá quarenta e poucos anos. O seu rosto tem um ar sofrido. Debaixo dos olhos, sem brilho e carregados de solidão, são patentes uma olheiras acastanhadas e acompanhadas com rugas estriadas. Pergunta-me: “pode comprar-me estas peças?” –Trata-se de uns objectos sem valor comercial. Tendo em conta o momento que vivemos, em que tudo perdeu interesse, em que tudo perdeu valor, mesmo assim, se estivéssemos na época áurea do apogeu comercial, aqueles artigos não valeriam nada. Respondi que não podia, porque também estou com dificuldades em vender. A mulher que antevi amargurada, como a dar-me razão na avaliação subjectiva, deu um profundo suspiro audível. Por momentos esperei, em quadro de Rembrandt, que aquela face de sofrimento se desfizesse em mil prantos de desespero.
Não é a primeira vez que acontece e já escrevi muitos textos aqui sobre este assunto, mas, nos últimos tempos, começa a ser recorrente este quadro de miséria. Estes cidadãos, para além da falta de dinheiro, têm fome. É preciso encaminhá-los. Era bom que a autarquia de Coimbra pensasse em criar na Baixa um gabinete de apoio psicológico. Normalmente, quando me apercebo da extrema gravidade destas pessoas, que me parecem a balouçar num limbo, entre o continuar nesta vida de desespero e um possível suicídio, peço ajuda à equipa da Associação ERGUE-TE, no Largo das Olarias. Mas esta associação, tal como outras, tem poucos meios para acudir a tantas solicitações. Ora então será que a Câmara Municipal de Coimbra, tendo em conta o momento terrível de aflição que tantas famílias estão a viver, não deveria criar, com urgência, um gabinete aqui na Baixa de interajuda a quem mais precisar? Podem deixar de se construir umas rotundas, ou menos uns painéis publicitários, mas salvam-se vidas, Esse, verdadeiramente, é o papel institucional de um executivo municipal.

(TEXTO ENVIADO PARA CONHECIMENTO À CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)

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