(IMAGEM DA WEB)
A mulher que está à minha frente
terá quarenta e poucos anos. O seu rosto tem um ar sofrido. Debaixo dos olhos,
sem brilho e carregados de solidão, são patentes uma olheiras acastanhadas e
acompanhadas com rugas estriadas. Pergunta-me: “pode comprar-me estas peças?” –Trata-se
de uns objectos sem valor comercial. Tendo em conta o momento que vivemos, em
que tudo perdeu interesse, em que tudo perdeu valor, mesmo assim, se estivéssemos
na época áurea do apogeu comercial, aqueles artigos não valeriam nada. Respondi
que não podia, porque também estou com dificuldades em vender. A mulher que
antevi amargurada, como a dar-me razão na avaliação subjectiva, deu um profundo suspiro audível. Por
momentos esperei, em quadro de Rembrandt, que aquela face de sofrimento se desfizesse em mil
prantos de desespero.
Não é a primeira vez que acontece
e já escrevi muitos textos aqui sobre este assunto, mas, nos últimos tempos,
começa a ser recorrente este quadro de miséria. Estes cidadãos, para além da
falta de dinheiro, têm fome. É preciso encaminhá-los. Era bom que a autarquia de
Coimbra pensasse em criar na Baixa um gabinete de apoio psicológico.
Normalmente, quando me apercebo da extrema gravidade destas pessoas, que me
parecem a balouçar num limbo, entre o continuar nesta vida de desespero e um
possível suicídio, peço ajuda à equipa da Associação ERGUE-TE, no Largo das
Olarias. Mas esta associação, tal como outras, tem poucos meios para acudir a tantas
solicitações. Ora então será que a Câmara Municipal de Coimbra, tendo em conta
o momento terrível de aflição que tantas famílias estão a viver, não deveria
criar, com urgência, um gabinete aqui na Baixa de interajuda a quem mais
precisar? Podem deixar de se construir umas rotundas, ou menos uns painéis
publicitários, mas salvam-se vidas, Esse, verdadeiramente, é o papel
institucional de um executivo municipal.
(TEXTO ENVIADO PARA CONHECIMENTO À CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)
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