Modéstia à parte, eu sou muito
justo. Sempre fui. Aliás tanto, tanto, que até me lembro de, em criança, a
minha mãezinha que Deus guarda a bom recato, e no Céu –por que ela era igualzinha
ao filho, e para almas puras e bondosas como nós, só temos mesmo é lugar no
paraíso-, me dizer: “ai, Toino tu és tão justo, rapaz! Davas mesmo um bom
advogado, mas, que queres, tem lá paciência, não posso fazer nada, não há dinheiro
nem para fazer cantar o cego, Anacleto" –era o tocador lá da minha aldeia,
certamente não conheceram.
E então, adivinho nesse olhar,
interroga vossemecê, porque estou aqui com este palavreado, tipo ladainha de
rua, que até parece um pedinte que está aqui todos os dias à minha porta?
Fácil. Muito fácil! Eu, como já disse, sou muito justo –aliás, ainda outra vez,
até me esquecia de dizer, a minha graça deveria ser Justiniano ou Justo, por
exemplo. Sou tão justo, tão justo, que até já se questiona o facto da deusa da
justiça –Thémis, filha de Urano (Céu) e de Gaia (Terra) e esposa de Zeus, não
deviam ter conhecido, certamente- ser mulher e não ser um homem à minha imagem
e semelhança.
Bom passando à frente, que o
tempo é curto e eu sou muito modesto e não gosto de estar a falar das minhas
virtudes, dizia eu, então, que sou muito equitativo. Ora, no prosseguimento
deste valor, não posso deixar de admirar a rapidez com que a Câmara Municipal
de Coimbra mandou desmanchar o pombal que erigiram a semana passada ali na
Praça 8 de Maio, por causa do festival europeu de ginástica e que esteve a
decorrer na cidade. Hoje de manhã já tinha levantado ferro. Claro que, está de
ver, só posso entender esta rapidez assim à custa dos “trabalhadores” romenos.
Até consigo imaginar a pressão, em escarcéu, que, durante estes dias e em que
se viram privados dos seus assentos, estes estafados lutadores fizeram na
autarquia. E, quanto a mim, com toda a razão –mas como já o escrevi aqui, e ali,
logicamente que não vou repetir.
Mesmo assim, como gosto de
atribuir a cada um o que é seu, não posso deixar de enaltecer este feito
extraordinário. É que não estamos habituados a tanta eficácia. Não sei se
consigo ser claro!, mas tamanha eficiência até incomoda uma alma pura como a minha.
Onde é que já se viu uma coisa assim? Só hoje, oficialmente, será o encerramento do
festival e esta noite foi totalmente desmantelado. Isto não fantástico? Será
que teria sido pela mão do homem? Isto é tão raro que até se me varre cá na “cachimónia”
que poderemos estar perante um milagre da Rainha Santa, ou, quem sabe, uma
tentativa de corrupção por parte da padroeira. Sei lá?! Pensem comigo. Este
mausoléu estava a 10 metros da igreja de Santa Cruz. Logo o milagre caía que
nem uma luva. Por outro, no primeiro dia da procissão, no Largo da Portagem, o padre
desta igreja, Jesus Ramos, clamou fortemente contra o Governo e contra este
sistema económico vigente. Ora, em face disto, quem nos diz que não foi uma
graça para tentar calar o senhor vigário? É ou não é? É que andam muitos sacerdotes e
bispos -vejam bem o D. Januário a chamar corrupto ao Governo- a levantar
cabelo. Por conseguinte, em silogismo, se a hierarquia da igreja não gosta é
óbvio que os santos estarão ao seu lado. É ou não é?
Como é que eu, sendo justíssimo
como sou, poderia calar isto? Diga-me… diga-me?!
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