Depois de ser incumbido pelo
director do blogue Questões Nacionais para fazer a reportagem no hotel Dom Luís,
sobre a convocação geral de Jaime Ramos sobre a elaboração de um “movimento
para a criação de uma sociedade melhor”, estou a transpor a porta de entrada.
O porteiro, absolutamente a marimbar-se para a minha categoria de melhor jornalista do mundo, mirando-me ostensivamente
de alto a baixo, vendo que a minha farpela era tudo menos formal e já vira
melhores dias, lá deveria ter pensado que a Casa Abrigo de Coimbra era mais para
Norte, ali na Ladeira do Carmo. Como conde falido em fim de sistema monárquico,
ergui a cabeça com altivez e segui em frente como se estivesse à vontade e na
minha própria casa. Não passei cartão ao sujeito, e desci ao piso inferior. Foi
então que abri os olhos de espanto: é pá! Até fiquei vesgo com tanta gente! Com
uma grande mesa em quadrado, com cerca de umas seis dezenas de pessoas, aquilo
parecia uma assembleia das Nações Unidas. A presidir, naturalmente, estava o
convocador, Jaime Ramos, que, com palavras de incentivo à cidadania activa, entregou a todos os presentes um caderno, com vários itens, com o título: “Ideais
do Centro – discutir ideias, afrontar poderes, mudar o regime, salvar a
democracia”. Aqui eram apresentadas várias reflexões, como, por exemplo, “Ideias
básicas do Movimento”; “Quatro Ideais –Mais Liberdade; Melhor Democracia; Menor
desigualdade; Dignificar a Justiça”. A seguir eram apresentadas “Quatro Causas”
e o “Contexto Internacional”. E passou-se rapidamente ao debate entre os
congressistas que pedissem a palavra.
ESTÁ ENCONTRADO O PRIMEIRO
CANDIDATO À CÂMARA DE COIMBRA
Sentado à esquerda do líder do
pretenso movimento, o primeiro orador a fazer uso do seu tempo de antena foi
Carvalho Homem, conhecido professor universitário e defensor da causa
republicana. “Não basta mudar as moscas” –fazendo analogia com o livro de
intervenção política lançado por Jaime Ramos, há cerca de quinze meses. “Ideais
do Centro” levanta-me uma série de problemas”, disse. “ A Região Centro
desaparece. Desde que Barbosa de Melo –pai do actual presidente da Câmara
Municipal de Coimbra (CMC)- se afastou e Mota Pinto desapareceu a Região Centro apagou-se. A ideia do “Centrão” nem é
carne nem é peixe. Não se resolve a questão. O Jaime Ramos vai arrepender-se de
me ter convidado para me sentar ao seu lado. A criação de um movimento
político, assim a seco, parece-me suicidária. Já não seria assim se Jaime Ramos
se encontrasse disponível para um ensaio em forma de candidatura independente à
CMC, mesmo que fosse para perder. Creio que a estratégia teria outro elam.
Teria outro impacto. Assim, sem isso, vejo com dificuldade que as coisas possam
fluir. Há aqui gente preocupada. O desafio que é colocado ao cidadão livre é a
salvação da Pátria. A continuar esta partidocracia está tudo perdido. O
interior continua cada vez mais desertificado. Adeus SNS, Serviço Nacional de
Saúde, que vais de vela! O que se trata é o esforço que se coloca na salvação
da coisa pública, da Pátria. Não se assina uma ficha. Quem me conhece sabe que
sou professor. A Universidade de Coimbra concedeu-me a possibilidade de chegar
ao máximo da carreira. Eu vou consigo para onde você quiser. Mas é consigo, Jaime Ramos!”
E FALAM OUTROS ORADORES
Arnaldo, creio que médico, foi o segundo arguente. “Concordo
com o Jaime Ramos: a democracia está podre!
A seguir foi Victor Lobo: “Isto
não é democracia. A justiça tem de ter tribunais como já teve.
Para além destes, falaram Leitão
Couto, Norberto Canha, José Veludo, Rogério Pratas, Lurdes Cró, António Arnault,
Hélder Rodrigues, Pinto Gomes, Jorge Antunes, António Queirós, João Paulo
Mendes, Francisco Paz, Sá Furtado e Mariano Pego.
Tenho muita pena de, por falta de
tempo, não poder transcrever aqui o que foi dito. Verdadeiras pérolas de
oratória, digo eu!
ASPECTOS NEGATIVOS
Fazendo analogia, este acontecimento
pareceu-me as tertúlias sobre a Baixa de Coimbra, realizadas n“A Brasileira”, e
promovidas pelo Lions Clube de Coimbra. Ou seja, todos falam da mesma coisa que
anda na boca de toda a gente há vários anos. Dá a sensação de que se está a
fazer “chover no molhado”. Os oradores presentes, de peito cheio, parecem
descarregar o que lhes vai na alma e depois disso ficam aliviados. Aliás, houve
vários arguentes que logo que despejaram a matéria saíram a seguir.
Notei um elevado unanimismo em
torno de Jaime Ramos. Assistiu-se ali a uma homilia de fé em torno do redentor.
Mais uma vez se nota que as
televisões em Coimbra só relatam um evento se houver mortes ou caírem três
prédios em derrocada e de uma assentada.
ASPECTOS CURIOSOS
Quem esteve atento pode apreciar
verdadeiros desempenhos cénicos espectaculares, onde não faltou o gesticular
com as mãos à procura do tempo perdido e alguma performance ao estilo dos
tribunais americanos. Um mimo para quem se apercebeu.
ASPECTOS POSITIVOS
A possibilidade que foi dada a
todos de se poderem manifestar e dizerem o que lhes ia na alma.
ASPECTOS LARANJA/ROSA/AZUL
Foi de facto invulgar ver tantas
caras conhecidas, outrora, ligadas ao Partido Socialista. Também alguma
juventude ligada ao CDS/PP e, naturalmente, ao PSD. Estiveram presentes muitos professores universitários e vários advogados –por vezes chegou-se a pensar se não
estaríamos num pleito em pleno tribunal.
CONSTATAÇÃO E CERTEZA: O VOO DO
CONDOR
Deu para ver que, perante tão
fortes apoios, Jaime Ramos gera consensos em Coimbra.
Entre a imprensa presente, penso,
ninguém ficou com dúvidas de que o médico de Miranda do Corvo, ontem, fez a sua
primeira apresentação pública como candidato a candidato à edilidade de Coimbra.
Embora, saliente-se, houve quem apostasse no voo do condor, isto é, mais alto.
Muito mais alto.
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