Maria das Dores Alyfarag –viúva de
Mohamed, um egípcio falecido há uma década e muito reconhecido no Centro
Histórico- está inconsolável. Já viu o que me está acontecer? Pedi a minha
renovação de licença especial de vendedora ambulante e na Câmara Municipal não
ma reformaram. Veio indeferida. Até agora, sempre foi renovada de três em três
meses. Olhe que estou a vender aqui na Baixa há cerca de 30 anos. Eu e o meu
marido estivemos, até ele morrer, ao cimo das Escadas de São Tiago uma vintena
de anos e aqui em baixo, na Praça do Comércio, estou há uma década. Se não me
permitirem estar aqui a vender o que vai ser de mim, senhor? Não tenho outro
qualquer rendimento.
Só faço isto. Se me retirarem
este meio-sustento fico numa situação de miséria. Tenho 53 anos, com a crise
que estamos a viver, onde vou arranjar trabalho? É daqui que tento arranjar
dinheiro para pagar a minha renda de casa de 267 euros, mais os gastos
acessórios. Para além disso, ainda tenho de ajudar a minha filha. Isto está
certo, senhor? –e as lágrimas começam a balouçar nas suas órbitas… caem, não
caem.
E O QUE DIZEM OS OUTROS
VENDEDORES?
Sheik, um outro vendedor ao lado,
quando confrontado com a possibilidade de também ele quando pedir a sua licença
não a ver renovada, ficou surpreendido: “Em Abril fui à Câmara e renovaram a minha licença. Agora, ao que parece, alteraram o procedimento. Não está certo! Se o Regulamento da Venda Ambulante foi modificado não tive conhecimento. Como vendedor interveniente dever-me-ia ter sido comunicado para que pudesse pronunciar-me sobre este assunto."
Em torno da Igreja de São Tiago
estão sete famílias a vender. Anildo Mota, de origem brasileira, um pintor de
rua com obra feita e conhecido por todos quantos frequentam esta zona velha,
nem quer acreditar: “não pode ser, pá?! Não nos podem fazer isto. É a nossa
vida e a da nossa família que está em causa. Em Portugal… é fantástico! Numa
altura de agonia financeira como esta que estamos a viver, que nem sequer temos
dinheiro para comprar pão, mandam-nos embora. Não pode ser!”
O QUE PENSAM OS COMERCIANTES DA
PRAÇA?
Maria da Conceição, proprietária
da Casa Confiança, ao tomar conhecimento desta medida administrativa, disse o
seguinte: “é gente boa. Habituamo-nos a vê-los ali. A mim, a sua presença aqui não me
afecta absolutamente nada. Eles devem continuar, mas, e isto já deveria ter
sido feito há muito, a edilidade deve mandar substituir aqueles plásticos
anárquicos por umas tendas brancas –assim do género dos guarda-sóis das
esplanadas- e harmonizar a paisagem. Como está não dá prestígio à Baixa.”
Sandra Soles, da papelaria Lobo,
diz o seguinte: São todas pessoas muito boas. Não nos criam qualquer problema. São
pacíficos. A sua permanência aqui na praça é já uma mais-valia. Estamos
habituados a vê-los ali. Dão mais vida ao conjunto monumental. Acho é que devem
trocar aquelas “traquitanas” de ferros com plásticos com uma tendas bonitas,
talvez brancas, não sei.”
Uma outra senhora comerciante na
praça, mas que pediu o anonimato. “Gosto deles. São boa gente. Deveriam era
vender mais artesanato e venderem menos dos produtos que eu também vendo, mas,
pronto, o que é que se há-de fazer? Temos todos de comer, não é? Aqueles
plásticos é que não engrandecem a paisagem. A Câmara deveria mandar que
colocassem umas tendazitas brancas, está ver?”
E O QUE DIZ O PRESIDENTE DA
JUNTA?
Carlos Clemente, presidente da
Junta de Freguesia de São Bartolomeu, perante esta inevitabilidade, comentou: “não
concordo com a forma desorganizada como estão instalados os vendedores
ambulantes na Praça do Comércio. A junta de freguesia a que presido já
solicitou à Câmara Municipal, mais que uma vez, uma forma de serem criadas
condições dignas aos vendedores. Como está, não engrandece ninguém, nem a zona,
nem o comércio em redor, parece-se mais com uma feira da ladra. Por outro lado,
é entendimento do executivo a que presido que estes vendedores devem vender
mais artesanato, pelo menos maioritariamente, para não fazerem concorrência ao
comércio tradicional instalado –que, como se sabe, tem custos muito mais
elevados. Mas, essencialmente, o que está em causa é que se deve dar alguma
dignidade a estas pessoas. Com aqueles plásticos, com aqueles ferros, em frente
a um monumento nacional, assim não é nada!”
1 comentário:
Hoje pelas 7H45 da manhã quando cheguei à Praça Velha,a Maria das Dores veio ter comigo muito triste e a lamentar-se que a Câmara Municipal não lhe tinha renovado a licença que pediu no dia 30 de maio para poder vender na Praça Velha e que o seu colega Anildo, artista plástico, que pinta quadros na rua lhe a tinham renovado no inicio de maio. A Maria das Dores perguntou-me se eu sabia o que se passava e o que podia fazer.
Como ainda era bastante cedo, resolvi ir ao encontro do meu colega defensor da baixa e contei-lhe o sucedido, e se ele queria escrever algo sobre isto,já que eu não tinha trazido o meu portátil.
Acabamos de beber café e lá fomos os dois falar com os vendedores ambulantes da Praça Velha e com alguns comerciantes das redondezas.
Confirmo, embora não seja preciso o confirmar, tudo o que está escrito neste artigo é a mais pura verdade e realidade.
Eu como Vogal Independente da Assembleia de Freguesia de São Bartolomeu,já levantei esta questão dos vendedores da Praça Velha, mais especificamente no que diz respeito às barracas ou bancas de venda.Estão completamente desenquadradas na paisagem de uma das mais belas Praças de Portugal, a Junta de Freguesia tambem e mais que uma vez já informou a autarquia em relação a este assunto, e posso afirmar para que não exista nenhum tipo de ataque politico ou pessoal ao Presidente da Junta de Freguesia, que nem o executivo nem o Presidente está contra os vendedores ambulantes na Praça Velha, não os querem empurrar dali para fora, mas sim que sejam melhoradas as suas condições de venda, com umas tendas mais apropriadas para o local.
Também concordo que os vendedores ali erradicados deveriam fazer mais artesanato .
Jorge Neves
Vogal Independente Assembleia Freguesia São Bartolomeu
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