(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
O Presidente da República, Aníbal
Cavaco Silva, acaba de promulgar as alterações ao Código do Trabalho. Comentadores
nossos conhecidos, como Medina Carreira, tipo Dom Sebastião de espada em riste
e saídos da bruma falaciosa para encher boias de praia, logo apareceram céleres
a comentar que estas alterações “são tretas”.
Do mesmo modo, do lado esquerdo
da ideologia política rugiram vozes e ruídos contra estas alterações –convém distinguir
a esquerda em dois vectores. Temos a pragmática, a constituída por empresários
de esquerda que, dando emprego a muitas pessoas, em face da queda da procura,
olham para estas mexidas como absolutamente necessárias. E depois temos a
esquerda filosófica, de laboratório, que, para além da empregada a dias lá em
casa em trabalho precário, nunca deu emprego a ninguém, que barafusta contra as
modificações que se avizinham.
Como ressalva de interesses,
convém dizer que sou liberal –e aqui talvez muitos leitores possam interrogar o
que é isso de liberal? Sem entrar em grandes preceitos históricos, diria que um
liberal está para as ideologias –esquerda ou direita- como um agnóstico está
para as religiões. Isto é, vai beber toda
a sua informação e saber às diversas fontes, podendo ter uma perna em
cada facção, mas não se vincula com nenhuma. Umas vezes, nas suas teses, pode
perfeitamente parecer comunista ou direitista, assim como ser católico ou
protestante. O que parece ser intrínseco é o respeito que tem por todas as
correntes de opinião.
Voltando às alterações do Código
de Trabalho, haverá algum empregador, com vários trabalhadores a seu cargo que
conteste estas mudanças? Duvido muito. Até mesmo incluindo no tocante aos
feriados. Se as pessoas dissessem o que pensam em vez de dizer o que os outros
querem ouvir –o chamado politicamente correcto-, afirmariam que temos todos
paragens a mais – e aqui junto os dias santos. Por exemplo, fará algum sentido,
sendo o país laico, por distanciação e respeito a todas as crenças, comemorar o
dia de Corpo de Deus? –Para além do Natal e Ano Novo, temos 6 feriados de
índole religiosa, por enquanto.
No caso da legislação laboral, pelo
menos quem tem funcionários, vendo a sua empresa a ir para o charco por falta
de vendas, e, na necessidade de despedir, sentindo-se impotente perante as
altas indemnizações, pode, com seriedade, não estar de acordo com estas
variações?
Declarar que, acima de tudo no
despedimento, vem colocar o trabalhador numa precariedade acentuada, sobretudo
porque se cai numa subjectividade alienante, é verdade. Mas já não era assim?
Posso falar sobre alguns demissões que se fizeram aqui no comércio há dois
anos. Foram para o Tribunal de Trabalho e, pelo menos num caso que conheço, um
trabalhador com 30 anos de casa levou zero de contrapartida financeira. Ainda
vou mais ao fundo da questão, dirigindo-me novamente a quem tem pessoas a seu
cargo, porque só estes sabem e sentem sobre o que se discute: por que razão, no
acto de despedimento, se tem de dar indemnização a uma pessoa que durante
décadas, em ressarcimento da sua força laboral, recebeu pontualmente? Mais ainda,
se o princípio fosse justo, nesse caso, então, quando um empregado se aposenta
também deveria levar uma parte. É ou não verdade?
Nestas questões laborais sempre
houve uma hipocrisia a cântaros. É certo que, não discuto que um empregado,
perante um patrono sem escrúpulos, possa ser a parte mais vulnerável, mas o que
estava a acontecer nos últimos anos é que alguns patrões, sobretudo de pequenas
empresas, porque não tinham verbas para pagar indemnizações, estavam a vender o
seu pecúlio para poderem manter os colaboradores. Conheço pelo menos um caso
aqui na Baixa em que a insolvência foi o único caminho possível.
Também não tenho dúvidas, tal
como hoje noticia o Correio da Manhã, de que estas alterações vêm beneficiar em
grande parte a grande empresa. Mas o que fazer? É o reverso de um verso que não
servia os criadores de emprego. Esta é a verdade.
A meu ver estas mexidas no código
laboral eram necessárias e o Presidente da República fez bem em dar-lhe prossecução
e não vetá-las –evitava era de fazer “show off”, hoje no jornal ”i”, vindo
avisar o Governo de que não quer mais mudanças laborais. Isto é uma espécie de jogar
em dois tabuleiros, primeiro dá ordem para chicotear e a seguir vai passar a mão
por cima do lombo do chicoteado, aliás, Cavaco já nos habituou a este
procedimento.
1 comentário:
O "Tuga" é terrível.
Passa a vida a dizer que não queremos fazer nada, só pensamos em festas e pontes...
Mas depois, numa altura de "aperto", se surge finalmente vontade de mudar, revolta-se e diz que assim é demais, que estão a alterar tradições profundamente enraizadas.
Aparecem logo os "Carnavais de Ovar" e os "Restauradores da República" que nem sabem ao certo o que comemoram.
Abraço!
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