MORREU O JAIME
Faleceu o nosso colega Jaime
Cruz. Tinha 61 anos feitos há poucos dias. Foi muitos anos empregado da Valise
e depois comerciante por conta-própria cerca de uma vintena de anos. No início
de 1990 estabeleceu-se no Centro Comercial D. Dinis, na Avenida Fernão de
Magalhães, em frente aos Bombeiros Voluntários. Talvez por que aí as coisas já
começassem a correr mal, no fim desta década, instalou-se na Rua Eduardo
Coelho, na sapataria Modelo. Mas o comércio, como máquina devoradora, sem dó
nem piedade, começava a fazer as primeiras vítimas e, em 26 de Janeiro 2009, o
Jaime claudicou. Nessa altura, para ver se chamava atenção pública para o que
estava a começar acontecer escrevi esta carta no Diário de Coimbra. Ninguém
ligou. Tal como hoje, como parvo assumido, continuo a escrever para que se
tenha atenção aos dramas sociais que estão à nossa porta. E, assobiando para o
lado, todos continuam a ignorar os gritos surdos de quem sofre e os meus
escritos que, de certo modo, tentam ampliar a solidão de tantos.
Mais logo, Sábado, pelas 9h30, as
cerimónias fúnebres terão início na capela mortuária de Nossa Senhora de
Lurdes. O Jaime, o nosso camarada de muitos dias, partirá para a última morada.
Parte da mesma forma que veio ao mundo, isto é, sem nada, pobre como será o
futuro de muitos de nós que continuamos a teimar na actividade de compra e
venda.
À família enlutada, esposa e
filhos, em nome da Baixa –se posso escrever assim- os nossos mais sentidos
pêsames.
NESTA HORA DIFÍCIL, O QUE DIZ A VIÚVA?
Como dei uma saltada ao velório para apresentar condolências,
tive ocasião de falar com a viúva –que a seu pedido não colocarei o nome. É com
o maior respeito pela memória do Jaime que vou transcrever a mensagem da sua
companheira de décadas. Faço-o em nome de quem, neste momento, sofre nesta
actividade mercantil. Exponho aqui o seu recado para que sirva para alguém. Para
que em nome de uma esperança falhada não se arraste e destrua tudo. Vamos ler:
“Estive casada, unida ao meu
marido, durante 30 anos. Fartei-me de o avisar: entrega a loja ao proprietário
e arranja um trabalho qualquer. Havemos de nos orientar. Mas ele nunca me ouviu
e foi tudo atrás. Há três anos perdemos tudo e separámo-nos. Depois de uma vida
de trabalho e muito sofrimento fui para casa da minha mãe. Não está certo!
Às mulheres, esposas de
comerciantes, eu digo: pensem nos filhos. É neles, nos nossos descendentes, que
devemos pensar. Quem estiver numa idade de pré-reforma e esteja com
dificuldades abandone o seu negócio quanto antes. Não adiem. Não morram
agarrados ao balcão à espera de dias melhores. Não vale a pena! Vai tudo, o
negócio, a casa de habitação, a família, a honra. Por amor de Deus tomem
atenção. Evitem sofrer como eu tenho sofrido!”
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