quarta-feira, 13 de junho de 2012

O GRITO DO DESESPERADO

10 FOTO LUIS FERNANDES AA
(IMAGEM DA WEB)



 Quem gostar de apreciar o comportamento humano, nem que fosse uma vez na vida, deveria ir a uma sessão pública do executivo de uma câmara municipal. Do ponto de vista sócio-psicológico é qualquer coisa de fantástico. Se estivermos com atenção a tudo o que nos rodeia, desde o piscar de olhos sorrateiro, de desejo, de todos os homens presentes para a funcionária que passa; para o olhar de conluio entre dois executivos; para os vereadores que em plena sessão deglutam um lanchinho como se estivessem no Parque Verde do Mondego.
Ali, naquele grande palco de desespero para alguns, podemos assistir a um pequeno empresário, atrofiado em dívidas, perdido nos labirintos burocráticos, ofender declaradamente o presidente da autarquia –já assisti, aqui em Coimbra, a vários manifestações de desesperança, quer no tempo de Carlos Encarnação, quer nesta última sessão, com Barbosa de Melo. Podemos ver ali, como quem esteve presente e pode constatar nesta última segunda-feira, a obsessão de uma idosa pelo cumprimento dos seus pontos de vista e que, começando por utilizar as palavras em calúnia, prossegue no seu “tempo de antena” por fazer oferta de uma “prenda” ao presidente –no caso de um saco plástico em defesa do ambiente e acaba a ler um poema –quer dizer, no que conseguiu ler, porque via mal e as frases, como pessoa com naco de carne atravessado na garganta, saíam em supetão. E perante tudo isto, em face da vetusta idade da munícipe, o executivo por inteiro, deu algum desconto e aceitou tudo aquilo como algo próprio de uma comunidade. Foi bonito de ver, apesar de tudo.
Mas, e é por isto mesmo que escrevo, estas sessões públicas precisam de uma grande mexida e com o envolvimento de todos os intervenientes. Vou deixar algumas ideias:

Por parte do EXECUTIVO CAMARÁRIO não pode continuar a dar a estas manifestações públicas uma ideia de favor ao munícipe –assim no género: “vá lá!, diga lá o que o traz por cá, depressa que só tem dez minutos, e vá lá à sua vida!”.
Estas cerimónias de participação política dos cidadãos não podem ser marcadas para as 17 horas e começarem às 18. Depois, inevitavelmente, falta o tempo para ouvir quem se desloca ao hemiciclo –porque continuamos a bater na mesma tecla: todos apregoam a participação pública do cidadão, mas, depois, quando alguém quer participar, não lhes é proporcionada essa possibilidade. Ou seja, nota-se um formalismo exagerado, às vezes até alguma provocação de arrogância, um ouvir por ouvir sem ouvir nada. É palpável o clima de tensão entre “eu”, pessoa anónima, e “vós”, senhores do poder, assentes em pedestal.
Estas realizações, que ocorrem uma vez por mês, não têm dignidade para o cidadão que ali se desloca para expor os seus problemas ou de outros.
Estas sessões abertas ao público deveriam ser transferidas para o Salão Nobre da Câmara Municipal e deveriam começar impreterivelmente às 15 horas e prolongar-se toda a tarde só para ouvir o “civitas”. Para além disso, se verdadeiramente se está interessado em captar a participação política de todos, convide-se, todos os meses, o cidadão anónimo a assistir a estes desabafos para parlamentares –a impressão que se tem é que não se está interessado na participação popular. Os pregões lançados ao vento são apenas para “inglês ver”. A acção não mostra a continuidade do apregoado.
Por sua vez, por parte do executivo, deveria ser criada uma unidade de missão unicamente para responder atempadamente aos problemas que ali são levados –nesta última sessão um dos intervenientes queixou-se de só passado mês e meio lhe darem resposta ao assunto que levou em fevereiro –No meu caso levei um assunto em Fevereiro e não recebi resposta. Só fui contactado depois de me inscrever para esta sessão.

Por parte da IMPRENSA LOCAL nota-se um péssimo serviço público à comunidade. Os dois diários da cidade, Diário de Coimbra e Diário as Beiras, a meu ver e colocando de lado um pouco os custos, deveriam afectar uma página inteira, no dia seguinte, para noticiarem as intervenções públicas. O que está acontecer é escolherem um acaso mais saliente e não publicam mais nada sobre o que se lá passou. Com este comportamento, iníquo e contrário ao serviço público que deve estar inerente a um jornal local, contribuem para o apagamento dos problemas particulares e, ao não darem eco ao seu grito, tacitamente, estão a fazer o jogo do poder. Bem podem estes órgãos de informação avocar os custeios da edição, mas, este óbice, não pode constituir o entrave para a divulgação pública dos problemas que afligem os munícipes. Durante muitos anos, sobretudo com o surgimento dos canais privados de televisão, a imprensa foi para os portugueses o novo milagre da aparição. Actualmente até a TV está a apagar-se e a perder o poder de intervenção pública de outrora. É preciso mudar este novo (mau) paradigma que está a afogar o grito do desesperado.

Por parte do PÚBLICO EM GERAL é preciso intervir. É necessário ter a coragem de, quer na defesa dos seus problemas, quer na de outros, erguer a sua voz. Vão às sessões do executivo, Vão às assembleias municipais. Digam de viva voz o que vos vai na alma. Participem, em nome de todos, em nome dos que hão-de vir um dia. Deixem o vosso nome gravado nas actas da Câmara Municipal de Coimbra.

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