quinta-feira, 8 de março de 2012

"POSSO DAR-LHE UM ABRAÇO, NESTE DIA DA MULHER?" (1)



 Se eventualmente se pudesse escolher o clima para a comemoração deste Dia da Mulher, quase de certeza que não se acertaria num Sol resplandecente como este que esteve hoje na cidade. Em especulação, pelo dia de luz e boa temperatura que convidava ao remanso, era como se o astro-rei estivesse ao lado da Equipa de Intervenção Social ERGUE-TE e das várias voluntárias e, em solidariedade, quisesse também abraçar os transeuntes.
Hoje, tendo em conta a celebração do Dia dedicado à Mulher, esta associação de inter-ajuda ao próximo, com sede no Largo das Olarias, no Edifício Azul, levou a efeito uma acção especial de sensibilização para a paz, a harmonia e de carinho pelo nosso semelhante: dar um abraço a qualquer anónimo ou conhecido, que transitasse àquela hora nas ruas da Baixa.
Seriam cerca 14h45 quando o grupo iniciou a sua missão humanitária na Rua Adelino Veiga. A Martinha, líder da equipa e responsável por este plano, iniciou o primeiro abraço. Como por acaso, como a simbolizar a humildade do gesto e que a acção não escolhia classes, credos ou profissões, calhou ser o Carlitos “popó” o primeiro a receber um efusivo aperto de alegria. A todos os transeuntes que passaram naquela rua do poeta morto, curiosamente, ninguém se negou a receber uma manifestação de amizade.
Fomos andando em direcção à Praça do Comércio e a motivação da equipa e voluntárias era bem patente nos seus rostos. A  Martinha, a Mónica, o Samuel, a Helena Lima, a Graça Santos, o João Duro, a Tânia Mendes, o Vinicius e a Mariana Pardal, na simpatia espelhada no brilho dos seus olhos, pareciam crianças à solta na calçada. Num raio de vinte metros só se ouvia soletrar: “posso dar-lhe um abraço? Hoje é o Dia da Mulher!”, repetiam em coro.
Nas Ruas de Ferreira Borges e Visconde da Luz, notava-se que, maioritariamente, as pessoas transitavam sisudas. Ao serem confrontadas com o apelo, paravam e, por momentos, vacilavam, quem sabe a pensar: “mas, o que é isto? Será para os apanhados?”. Mas esta indecisão durava escassos segundos, para imediatamente, a seguir, responderem: “claro… claro!”, e curvavam-se para dar e receber este modelo de concórdia. Claro que houve muitos transeuntes que não aceitaram. Colocavam as mãos em defesa e desviavam o rumo para o lado. Olhando os seus rostos sorumbáticos, alguns deles, homens e mulheres, com óculos escuros, dava para intuir que não estavam de boas relações com o mundo. Os últimos tempos não teriam sido bons para a sua vida. Provavelmente, se não estivessem a atravessar problemas graves, dariam e receberiam um abraço com espontaneidade. Simplesmente. Diz a psicologia, para nos entregarmos a alguém temos, obrigatoriamente de estar em paz com nós mesmos, e aquelas pessoas não estavam em pacificação com elas próprias. Mas foram poucas, muito poucas, as que recusaram um abraço. Houve outras, para compensar, que, perante a solicitação, respondiam: “um? Dois ou três!”, e esticavam os braços em sinal de bem-fazer e colaborar nesta iniciativa do Dia da Mulher. Outros ainda, depois de aceitarem, proferiam: “parabéns, muitos parabéns! É simplesmente linda esta acção!”
O momento alto, poderemos descrever assim, foi o abraço ao “homem-estátua” que, em pleno desempenho, interrompeu a sua performance para dar vários abraços. Foi bonito de ver. É muito provável que o Conquistador, dentro da igreja de Santa Cruz, no eterno sono dos justos, ficasse roidinho de inveja, mas não havia tempo. Quem sabe para a proxima?
Por escassas duas horas a Baixa foi um palco de humanidade, onde se lembrou que às vezes é preciso tão pouco para a inclusão e conciliação. Basta um simples sorriso para lembrar que, apesar da violência que anda no ar, tantas vezes contra a mulher, a maioria de nós, felizmente, procuramos apenas a paz e acreditamos todos no seu objecto enquanto a maior virtude do ser humano. E para a simbolizar, nada mais eloquente do que… “POSSO DAR-LHE UM ABRAÇO?”
Estão de parabéns toda a Equipa da ERGUE-TE e também todas as voluntárias. Para elas uma grande salva de palmas e, já agora: “POSSO DAR-LHE UM ABRAÇO?”


1 comentário:

Pedro Paiva disse...

Grande Homenagem!
Um abraço