Como certamente todos saberão, neste último fim-de-semana, sexta, sábado e domingo, realizou-se o “1º Campeonato Europeu de Futvolei”, no Fórum Coimbra. Foi parceira na organização deste evento a Câmara Municipal de Coimbra, através do Departamento de Desporto e lazer. Como cabeças de cartaz, estiveram presentes Paulo Futre, Joana Duarte, Pedro Teixeira e Andreia Rodrigues.
É natural que na primeira leitura, a frio, venha uma interrogação: “o quê? Agora a autarquia de Coimbra está apoiar, mais uma vez -tendo em conta que a grande superfície sempre teve as portas escancaradas da edilidade- o megacomércio?”
Numa segunda passagem, se nos dermos a esse trabalho reflexivo, colocando-nos no lugar do executivo, certamente e facilmente, a meu ver, chegamos à conclusão que, mesmo invocando o espaço privado do centro comercial, ao licenciar, outra coisa não poderia deixar de fazer. Já no tocante ao apoio é uma opção, mas também se compreende tendo em conta que, presumivelmente, muitos dos milhares de visitantes que aportaram a Coimbra não teriam ficado todos no planalto de Santa Clara e teriam descido à cidade.
Mas o que me levou a escrever sobre o futvolei não foi o apoio, ou não apoio, da Câmara Municipal de Coimbra. O que me levou a prender a sua atenção é tentar ir mais longe, muito mais longe, do que isso.
Por coincidência, também neste fim-de-semana foi anunciado na imprensa que em 2010, no ano passado, encerraram, em média, 100 lojas comerciais por dia. Além disso, e em consequência, até agora, neste ano, o comércio português perdeu 100 mil postos de trabalho.
Ora é precisamente nesta notícia, de morte anunciada, que o grande comércio, está atacar em força e esta primeira festa de futvolei mais não é o do que o tiro de canhão a anunciar as tropas de artilharia. Muitos mais e grandes acontecimentos irão surgir por parte dos bens organizados centros comerciais para atrair público e evitar mais encerramentos nos seus espaços.
É de ver que perante o que se passa, e sente, no comércio tradicional, é lógico que o comerciante de rua também estará muito preocupado e até estará a desenvolver esforços para lutar contra o “status quo” situacionista e o que aí vem. Será? Não, não, não e não. Os lojistas da Baixa da cidade de Coimbra não querem saber. Enterram a cabeça na areia como a avestruz, continuam a fazer o mesmo que sempre fizeram, e, ao sábado à tarde, ala que se faz tarde para ir cuidar do quintal ou dar um pulinho até à Figueira, que a vida é curta e estamos cada vez mais velhotes. Crise, a haver, hum!, isso deve ser lá para os outros da grande superfície. “Isto há-de mudar, se Deus Nosso Senhor quiser!”, pensa a maioria, num intervalo de atirar a linha e bóia nas margens do Mondego.
Se calhar estou a exagerar. Ai, de certeza, até porque quem me conhece sabe que sou um alarmista. Estou sempre a ver problemas onde não os há! Mas, desta vez, estarei mesmo a exagerar?
Quem é que consegue compreender que esta próxima “Noite Branca” –que estava planeada para ser no próximo sábado, 3 de Setembro- teve de ser adiantada para sexta-feira, pela Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, porque não havia profissionais do comércio interessados em aderir por… … ser ao sábado?
Estamos ou não a passar dificuldades? Não, na maioria, não estamos. Só para poucos, talvez –curiosamente aqueles que pensam e têm medo dos tempos que aí virão- os que continuam a lutar sem atirar a toalha ao chão.
Como estamos numa sociedade onde a culpa é sempre do outro -seja lá quem for, o ónus terá de cair numa qualquer vítima- é natural que nos próximos tempos se comece a culpar a Câmara Municipal por apoiar sucessos como este realizado neste fim-de-semana? A besta sou eu, está de ver!
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