sexta-feira, 12 de agosto de 2011

PASSAR A FERRO SEM REMENDAR



 No meu tempo de adolescente, por volta de meados dos anos de 1960, numa época em que se vestia roupa usada e comprada ao vizinho -raramente se adquiria uma peça nova e quando acontecia assim, comprava-se dois ou três números acima que era para a roupa acompanhar o crescimento e dar para vários anos-, havia um princípio pregado a cravos de fogo: podia-se andar pobremente vestido, mas nunca roto. 
Antes de passar a ferro qualquer peça de vestuário, esta, era remendada e só depois seria vincada. Era comum encontrarmos na cidade qualquer puto com muitos remendos nas calças e na camisa.
É evidente que conto isto porque já sou velhote -isto é quase uma obsessão, estar sempre a chamar à colação uma época de pobreza que ficou mal resolvida na nossa mente- e também para me servir de introdução ao que irei escrever a seguir.
Já passaram 40 anos. Felizmente para todos nós -e escrevo isto com toda a convicção- esses tempos de extrema carência foram ultrapassados. Embora, saliento, não tenho a certeza se não regrediremos novamente quase até lá. A história nunca se repete de modo igual, mas circunstancialmente pode acontecer um quadro muito parecido. 
No entanto, apesar desta mudança abissal dos costumes, hoje perdemos essa qualidade intrínseca de mostrar mesmo como vivemos. É como se transcendêssemos o que somos e passássemos ao modelo que gostaríamos de ser.
Já muito se escreveu sobre isto, é o materialismo cultural em toda a sua pujança, puro e duro. Nos dias que correm temos vergonha de mostrar aos outros que estamos a passar mal. Procuramos por todos os meios apresentar uma realidade não correspondente.
Ora, veja lá bem o que eu para aqui escrevi só para mostrar que o que se fez aqui com estes bancos colocados em frente à igreja de São Tiago, em paradigma, são os tempos de agora. Pintaram-nos sem se preocuparem em repará-los. Está aqui implícito o querer dar uma realidade falseada. Já se sabe que foram pintados porque amanhã, naquela praça, começa a Feira das Cebolas, mas, parece-me que fazer isto não está bem. Não sei... parece-me! Escrevo isto com sinceridade. Às vezes parece implicância da minha parte.

1 comentário:

Jorge Neves disse...

Amigo Luis por acso ontem ao fim da tarde tirei umas fotografias a esses bancos e nada mais tenho acrescentar ao texto que escreveu.
Só vou publicar umas fotografias para memória futura.