sábado, 23 de abril de 2011

FELIZ PÁSCOA PARA TODOS

(IMAGEM DA WEB)




 Neste momento extremamente complicado para as Finanças Públicas e que o país está atravessar, gostaria de deixar uma palavra de esperança a todos quantos me lêem. Não porque esteja melhor do que a maioria- sou um pequeníssimo comerciante com imensas interrogações quanto ao futuro-, ou que, pelo discurso de homilia, tenha vocação para padre, mas, neste momento de grande aflição económica, que todos estamos a viver, quero acreditar que, embora leve tempo, iremos atravessar este mar revolto de incertezas.
A fé, mesmo sem se praticar uma religião, neste momento grave que estamos a sentir, é, tem de ser, o farol, a luz que brilha ao longe e nos alenta a seguir até ela. Já escrevi muito sobre este assunto. Já escrevi muitas histórias do tempo dos nossos pais. Eles viveram muito pior do que nós, sobretudo no período da Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, e logo a seguir. Passaram muita fome. Esses sim eram realmente tempos miseráveis que não têm qualquer comparação com os dias que correm. E se eles ultrapassaram essa fase desgraçada, onde a carência alimentar imperava, nós, com toda a certeza absoluta, passaremos também estas nuvens negras de pessimismo.
Todos sabemos que o que custa mais é subir, atingir o cume do desenvolvimento, no máximo bem-estar, e depois, paulatinamente, começarmos a descer para pior. Descer, vendo desaparecer tudo aquilo que conquistámos ao longo de uma vida de trabalho, este é o verdadeiro drama. Porque não chegando a um estádio de felicidade, desconhecendo-o, não é difícil aceitar o que de mal vem a seguir. O problema é termos vivido esse tempo áureo, termos apostado numa vida melhor, porque nos sacrificámos muito para alcançar. Esta minha geração de 1950/60, não é para me gabar, mas foi uma criação fantástica. Sem apoio financeiro de ninguém, partimos para a luta, acreditando que éramos capazes de fazer melhor que os nossos pais e, trabalhando dia e noite, muitas vezes sem sequer dormir, conseguimos fazer mais do que os nossos primogénitos. Esta minha geração, a meu ver optimista –exactamente o contrário dos seus geradores, que, talvez pela circunstância, era abatida e conformada-, quase a cair no utópico, fez imenso pelo desenvolvimento. É lógico –e falo por mim- tentou a ventura e, quase sempre em recompensa, a sorte sorriu. Houve vários factores que influenciaram. Hoje, como as coisas estão, não seria possível arriscar da mesma forma como o fizemos. Mas, estou em crer, embora com algum património adquirido e fruto de muita poupança, mesmo descapitalizados, se formos apoiados financeiramente, pudemos ainda fazer muito pelo futuro da Nação. Precisamos apenas de crédito para concretizar os imensos planos que continuam, como sempre, a bailar na nossa mente. Somos uma estirpe sonhadora. Talvez por esta facilidade de imaginar o impossível concretizámos e somos uma lição. Partimos sem nada, sem rede, sem ninguém a apoiar as nossas costas e a acreditar na nossa vitória. Esgravatando, subindo a corda a pulso, pondo as mãos na merda, fazendo “trinta por uma linha”, na maioria dos casos, saímos vencedores. Somos uma geração que a caminhar, sempre a trabalhar, desenvolveu as suas próprias vocações. Educou-se a si mesmo. Aprendeu música sem nunca frequentar um conservatório. Aprendemos a escrever sem nunca ter frequentado uma faculdade de Letras. Transformámo-nos em políticos sem nunca militar em partidos. Aprendemos a ver o Sol para além da bruma. Sabemos quantos grãos de milho tem um alqueire.
A começar por mim, somos um bocado convencidos? Vaidosos até? Se calhar! Mas isso é fruto do nosso orgulho em termos passado por cima do fogo e, mesmo queimando-nos, conseguimos dar uma vida aos nossos filhos muito melhor do que a que tivemos. E mais: de certeza muito superior à que os nossos filhos conseguirão dar aos nossos netos.
Tenhamos confiança de que se ultrapassará o vendaval que estamos a viver. É possível que tenhamos de abrir mão de um património que tanto custou a amealhar? Quase de certeza! Mas quem nada tem para vender estará muito pior. Tenhamos esperança no dia de amanhã.
Feliz Páscoa para todos.

2 comentários:

Palavras Soltas disse...

Como sempre os teus textos são primorosos e realistas.
Ao ler este, só me ocorre dizer:
Como eu te entendo....
Mia

Anónimo disse...

Caro amigo, obrigado por partilhar este texto excelente. É verdade que nós portugueses pessimistas por natureza, só sabemos dizer mal e à primeira aflição, valha-nos Deus e até o Diabo se é que ele possa ajudar! Várias vezes afirmo; sem ser jocoso com os fiéis; que poderemos ainda ter de fazer uma panela de sopa entre familias para matar a fome... espero que isso não aconteça, mas algo me diz que sim; lá está o pessimismo a funcionar. Num país de doutores, engenheiros, professores e sei lá mais o quê... vivemos a autêntica anedota europeia, em que viva o tacho, os compadrios e as cunhas, em que se dá pão e circo; bastante circo; para distrair o cidadão e o essencial fica por pesar: onde para o básico para a sobrevivência dos cidadãos deste país? Onde está a nossa produção alimentar? Querem fome... deixem andar! Ninguém quer como este texto bem afirma sujar as mãos, porque temos uma mentalidadezinha de treta onde só o canudo vale e quantos mais titulos espalhafatosos tiver melhor... é isso trabalho? Não, não é!!! Sujar as mãos, Deus nos livre, porque hoje todos se queixam da falta de emprego, mas quando oiço jovens que dizem que não saem de casa para ganhar 400 euros... algo está mal! O estado não tem dinheiro, as familias endividam-se, perdem casa, trabalho, bens pessoais, penhoras, os estudantes sem saídas, os idosos sem direito à saúde e medicação... bolas para tanta democracia! Vivemos uma hipocrisia em favor de alguns, pois o estado actual em que é que me representa? Em nada! Peçamos realmente a Deus que faça o milagre de nos tirar do buraco, mas como o próprio Jesus afirmou: de que me vale alcançar o mundo inteiro, se com isso perder a minha alma!? Hoje o medo não é perder a alma, é perder o TGV, a Ponte sobre o Tejo, o novo aeroporto... será que tenho dentes para roer tanto euro mal gasto e tanto betão e ferro? Bem haja meu amigo, Santa Páscoa e toca a abanar as consciências dormentes! Pe.Humberto