Para quem não souber, digo agora que gosto muito de ler jornais. Mais ainda, gosto muito de escrever. Mais ainda, noutra vida o espírito que me conduz deveria ter sido jornalista.
Isto para dizer que tenho verdadeira fascinação pelos periódicos. Gosto de apreciar os títulos na capa, vou abrindo páginas até chegar aos anúncios. E quando chego aqui, sempre que posso, vejo quase tudo. Curiosamente, uma página de publicidade é sempre o espelho actual da sociedade. Lá se vê a crise do imobiliário, com imensas casas para venda, poucas ofertas de emprego e, em antítese, muitas, mas muitas, ofertas de sexo. Quem estiver atento, e quiser saber como vai a nação, abra um caderno de divulgação de venda de produtos de um jornal.
E porque estarei eu para aqui a perorar? Sei lá, se calhar a armar-me “aos cucos”, que é o que sei fazer melhor. Então é assim, acho, sem ter a certeza, que entre mim e o Diário as Beiras há uma espécie de cortina de vidro que impede que nos beijemos. Vá-se lá saber porquê. Nos primeiros anos da sua fundação, ainda o jornal era semanário, em quase todas as tiragens escrevia para lá. Hoje, passados quase vinte anos, ao ler as crónicas dessa altura, quase que me quebro todo a rir. Passando a imodéstia, por um lado, pela subtileza com que o fazia, sobretudo na tentativa de adivinhar o futuro, por outro, pelos imensos erros que por lá tenho nos textos. Aquilo parece um campo de trigo semeado em dia de vento “suão”.
Com o tempo, e já em diário, essa proximidade foi-se perdendo, talvez porque o jornal começou a não ligar muito ao seu leitor diário –falo daquele assinante que escreve para a coluna do leitor. Ora não publicava os meus desabafos, ora quando o fazia era tarde e já sem qualquer efeito prático. Algumas vezes enviei cartas ao então director António Abrantes a proclamar que, para além de ser uma falta de respeito por quem quer intervir na cidadania, era, acima de tudo uma falta de visão de quem dirige um jornal. Isto é, considerando que –e agora cada vez mais devido à crise económica, os jornalistas no terreno serão cada vez menos- um leitor que escreve pode perfeitamente ser o “repórter” de serviço na área em que se insere. Se os jornais tivessem visão bastava-lhes aproveitar este imenso manancial de “escritores” –saliento que como eu, há centenas, milhares, de pessoas que se prestam a desenvolver um gosto que, infelizmente, não puderam no seu tempo útil incrementar.
Depois vieram os blogues. E, meus senhores, diga-se lá o que se disser, para quem gosta e precisa de escrever todos os dias, este recurso foi a melhor coisa do mundo. Foi a independência total para milhares de pessoas e milhões no mundo inteiro.
E então o que acontece agora? Neste tempo da revolução dos blogues o que fazem os jornais locais? Pura e simplesmente vêm beber as notícias à página da Internet e nem uma referência ao local de onde surripiaram a inspiração. São assim uma espécie de falcões de voo rasante, pegam a presa, dão-lhe uma volta no ar, agitam, e chamam-lhe sua de direito. E até nas fotos acontece o mesmo. Na edição de hoje, o Diário as Beiras, veio ao meu blogue, retirou uma fotografia do faquir, na Rua Ferreira Borges, que eu tirei, edita-a na sua coluna de “ao postigo” e, no canto direito, assina “D.R. “
Estou chateado por isso? Vou processar o Jornal? Não senhor! Não há problema nenhum. Mas, dirá o leitor, se não há problema porque se queixa? Ora bem, vamos lá por partes, já por várias vezes, sempre que –poucas vezes- me ligam a interrogar se podem utilizar uma foto –e isto é transversal aos dois jornais da cidade-, eu respondo que não há impedimento nenhum, podem usar à vontade. Mas este “usar” à vontade, manda a ética jornalística que se coloque uma referência à fonte onde se foi beber, ou então “retirado da Web”. É o mínimo. Retirar um trabalho de outro e assiná-lo como seu é furto em jeito de plágio. E não é que não considere que todos prevaricamos. Quem escreve e fotografa anda sempre a beber o sangue da manada…como vampiro.
É que não fazendo nenhum apostolado e depois de vários casos em repetição como este, cá no meu interior, sinto-me uma espécie de prostituta que presta um serviço gratuito e, no fim, nem um obrigado sequer. Só isso e mais nada. Tenho para mim, que se só se copia o que é bom, portanto, nesse aspecto e dentro do meu amadorismo já até deveria ficar grato. Mas que querem? Em metáfora, sou uma puta refinada. Preciso que o menino que eu desmamei, a seguir, na noite de núpcias, antes de possuir a esposa com grande mestria, no intervalo de um longo beijo de amor, lhe diga: “querida, é graças à “putéfia Josefina”, que gratuitamente numa rudimentar alcova tudo me ensinou, que eu te vou demonstrar ser mestre nas lides do amor”.
1 comentário:
Não custa nada fazer referencia ao seu Blogue. Eu quando utilizo fotografias suas faço sempre referencia ou hiperligação.
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