domingo, 10 de abril de 2011

A SESSÃO SOLENE DOS BOMBEIROS VISTA PELO "OLHO DE LINCE"





  Estava eu ontem descansadinho, sentado na esplanada do Café Santa Cruz, com o auscultador do meu transístor de pilhas no ouvido, a ouvir o discurso do Sócrates na Exponor, quando, assim meio esbaforido, chega ao pé de mim o Adelino Paixão. Com seu ar “apancadado” e de falar meio titubeante, divido num arfar de cansaço: “senhor doutor…senhor doutor…vá…depressa ao escri…tório. O chefe quer vê-lo…imedia…tamente”. Antes de prosseguir, gostaria de ressalvar que o Adelino trata qualquer burro como eu por doutor. É assim como se dissesse: “ó minha besta…dá-me aí uma moeda. Não podemos esquecer que o Adelino, que é uma figura típica da cidade, tirou o curso de "cravanço" com o “Taxeira”, o Raul dos Reis Carvalheira.
E lá fui eu para a sede do blogue Questões Nacionais para falar como o director, o Luís Fernandes.
-Bom dia, chefe –não sei se estão a ver…dito da mesma forma que o Adelino Paixão me chama doutor.
-B’n dia! –é mesmo assim. Aliás, é sempre assim. O gajo é tão agarrado que até poupa nas sílabas. Deve ser por ser tão forreta que não me paga o salário há mais de um ano…mas isso não é para aqui chamado. Desculpem, que estava a desabafar.
-Então, diga! O que é que se passa? O Adelino chegou ao pé de mim que parecia o Paulo Portas a correr para o Governo.
-Ó “Olho de Lince”, faça um favor à minha paciência: “deixe-se de merdas, sim?”
-Ó chefe desculpe, não sabia que estava sem humor. Aliás, eu estava distraído. Deveria saber. Porque o humor é mesmo só para inteligentes.
-Quê?? O que é que disse?...
-Nada…nada…desculpe. Falava aqui com os meus botões.
-Ah…bom?! Olhe, chamei-o aqui para ir amanhã, de manhã, em reportagem aos Bombeiros Voluntários de Coimbra…
-Amanhã…domingo?!
-E depois? O que é que tem…por ser domingo?
-Nada…nada. Ou melhor, não sei se sabe, mas é trabalho extraordinário…
-Quê?! Trabalho…quê?...
-Pois…vendo bem as coisas, se nem o ordinário você paga…Olhe, deixe, eu amanhã vou lá estar. Isso cheira-me a gajas boas. Além disso, aquilo, por lá, deve ser só gente “finesse”. Quem sabe não arranjem um lugarzito de assessor…ou coisa assim!
Então, fui para casa a pensar no assunto. Estava com um grande problema. Os sapatos, aqueles que comprei no ano passado nos chineses, tinham um grande buraco por baixo, na borracha a imitar sola, e por cima, no plástico –que aquilo nunca foi couro- estavam tão maltratados que até desafiavam soco –até me faziam lembrar a cara do Jerónimo de Sousa, se me é permitida a metáfora. Espero que o camarada não leia isto.
E olhando para as minhas calças, estava na mesma. Pobre, maltrapilho e sem dinheiro.
Comecei a pensar, às tantas, amanhã, lá no quartel, tirando os políticos, vai tudo de farda e com medalhas reluzentes ao peito. E se eu levasse a minha farda da tropa? Até era boa ideia. Até poderia calçar as botas…que até são tipo “Doc Martens”.
E assim fiz, hoje por volta das 11 horas da manhã, lá estava eu no quartel da Avenida Fernão de Magalhães. Reparei que estava de cara lavadinha, como se tivesse levado uma plástica ou uma grande "maquiage" à base de rosa. Está bonito, sim senhor!
Logo à entrada foi um gozo, só queria que vissem, as bombeiras mais novas todas as bater a pala cá ao rapaz.
Lá entrei. Ena pá! Montes de gente conhecida. Lá estava o Miguel Júdice, que ia ser condecorado com uma medalha; lá estava o comandante da Polícia Municipal; o representante da PSP; o presidente da Câmara Municipal, Barbosa de Melo; o arquitecto Vasco Cunha; o Cruz da ourivesaria Ágata; o Pinto, da Junta de Freguesia de Santa Cruz; a presidente da Escola Dona Maria, que está ensaiar o fadinho da despedida; o Serra Constantino, da (des)Protecção Civil; o Serra Pacheco; e até o Nuno, o funcionário da Junta de freguesia de São Bartolomeu, em representação do chefe Clemente.
Estava tudo a correr bem. Os soldados na parada perfilaram-se muito bem. A fanfarra fez barulho como gente grande. Os dois arquitectos Pedros apresentaram o projecto do futuro quartel e o João Silva estava feliz, sem rir…que presidente não pode rir por dá cá aquela palha. Só deu um ar da sua graça quando o arquitecto Pedro Martins se referiu ao Metro ligeiro de Superfície e o João apontou Barbosa de Melo para responder. Este, apanhado de surpresa, levou a mão à boca, como se com o gesto dissesse: “cala-te boca!”. Ainda estou para entender o que quereria dizer isto. Bom, passando à frente. Estava tudo a correr lindamente.
Eis então o caso do dia. Estava tudo concentrado nas explicações do projecto do prédio, quando de repente o cão mascote dos bombeiros, o “fogo”, começou a ganir que parecia coisa má. Começou a andar inquieto para trás e para a frente e a salivar. Por coincidência, ou não, tocou a sirene. Ficaram todos a olhar. Eu seja ceguinho, até parecia que a curiosidade estava fazer chama dentro daquela gente toda. Quer dizer, também não era para menos, não é? Uma pessoa ver um animal a andar a trocar as voltas, travesso, a ganir e a babar-se, sejamos justos, qualquer um ficava atordoado. Foi então que entrou o Luís Santos, jornalista do semanário Campeão das Províncias e Eduarda Macário, subdirectora do Diário as Beiras, que, em representação do jornal, este periódico, iria também ser homenageado. Seria por estas pessoas terem entrado? Seria pelo Luís Santos? Seria por causa da Eduarda ir vestida da mesma cor da fachada rosa do quartel? Será que o cão não gosta de Jornalistas? Quem sabe um qualquer recalcamento? Então eu sei lá? É nestas alturas que me condeno por não ter tirado um curso de línguas animal. Bem gostaria eu de falar com o “fogo” para saber por que raio estaria ele com aquela inquietude libidinosa toda. Às vezes há cada uma…

1 comentário:

Anónimo disse...

Na Junta de Freguesia de São Bartolomeu, não existe chefe.
Por outro lado, o Nuno não é funcionário da Junta, mas sim um amigo, sempre disponivel para ajudar.
Felizmente, temos por o Nuno um grande respeito e amizade. E não é por acaso.
Aqui fica o esclarecimento.
Carlos Clemente