sexta-feira, 15 de abril de 2011

QUEM ABANA E ACORDA OS COMERCIANTES?

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)


 A situação económica e financeira dos comerciantes da Baixa de Coimbra está exactamente como a do país. Todos os dias constatamos que decaímos mais e estamos pior do que ontem, no entanto, vá-se lá saber porquê, continuamos a beber umas cervejas na tasca e a dar umas passeatas até ao Algarve. De braços cruzados, estamos à espera que alguém exterior a nós nos salve. “Se Deus Nosso Senhor quiser, havemos de nos desenrascar!”
No caso dos comerciantes tudo parece indicar que irão morrer de pé e sem mexer uma palha. Como se sabe, a semana passada, um cidadão, que profissionalmente é comercial numa empresa de vendas a prestações e portanto não exerce no comércio tradicional, de nome Sérgio Reis, chamou a si a responsabilidade de enviar 400 cartas a quase todos os comerciantes da Baixa de Coimbra. Porque está preocupado com a situação de miséria extrema que, como nuvem negra, se abate sobre as lojas de todo o tecido comercial elencou uma série de temas para debater. Todos eles serão de fundamental importância para o sector, como, por exemplo, o licenciamento autárquico das grandes áreas comerciais para estarem abertas ao domingo todo o dia.
Ora, perante esta atitude de alguém que vem de fora, certamente os profissionais do comércio, para além de baterem palmas, aderiram imediatamente. Seria assim? Claro que não. Estas pessoas, vendedores de coisas e loisas, alimentadores de almas consumidoras, em vez de dizerem “SIM, VOU ESTAR PRESENTE!”, preferem enrolar-se em desculpas espúrias: “quem é este tipo? O que é que o move? O que é que ele faz?”.
Quando lhes pergunto se irão estar amanhã no hotel Oslo, pelas 16h00, poucos respondem directamente em afirmativa. As desculpas são várias: “por acaso amanhã não estou cá…vou para o Porto”. “Tenho de cuidar do meu quintal…ó pá, tens de entender, é o único dia da semana que tenho para regar o cebolo”. “Vou ver uma colecção a Lisboa…que pena…gostava tanto de ir!”. “Tenho um compromisso amanhã…se não até ia mesmo!”.
A mim, o que mais me irrita e me tira do sério é a “cara de pau” desta gente que até a mentir o fazem mal. O que querem estas pessoas? Alguém saberá? Loucos são os Sérgios Reis, como este, doidinho sou eu que ainda perco tempo a escrever sobre este assunto. Se ninguém se importa, a começar pelas instituições que detém a responsabilidade de ajudar este grupo inqualificável de mortos vivos a mudar de postura perante a queda iminente.   Isto é tudo uma teia montada para ninguém fazer nada. Como neste caso, em que apareceu uma pessoa de fora do comércio a apelar a um debate, muito à portuguesa, o que fazem as instituições representativas? Muito: rezam ao santo Onofre para que ninguém apareça amanhã no hotel Oslo e para que este Sérgio Reis, ou outro Quixote como ele, falhe rotundamente e se possam rir da sua, deles, própria inconsciência, ignorância, estupidez e criminosa postura perante um agregado que morre todos os dias.
Por sua vez, aqueles que mais se deveriam envolver na sua própria defesa, e em vez de estarem de braços cruzados a olhar o firmamento, deveriam interrogar-se e perguntarem o que podem fazer para ajudar a sua classe e com esse gesto o Centro Histórico.
Fazem muito bem em continuarem assim, comerciantes da Baixa. Deixem-se ficar de braços cruzados. Pode ser que apareça um Dom Sebastião. Permaneçam a olhar o céu. Na parte que me toca, espero sinceramente ter o arrojo de não continuar a esgotar-me em vão, a escrever na água.

Sem comentários: