quinta-feira, 14 de abril de 2011

O PREVISÍVEL GRANDE INCÊNDIO NA BAIXA VISTO PELO "OLHO DE LINCE"





 Ontem foi daqueles dias que estava chateado à bruta de tédio. Fosca-se! Isto é uma cidade de pasmaceira. Por aqui não acontece nada. Eu sei que custará compreender o que eu vou dizer, mas não esqueçam que sou jornalista “freelancer” e que já cobri várias guerras. A primeira, logo em baptismo de fogo, tinha eu então 24 anos, foi a invasão soviética ao Afeganistão, em 1980. A seguir foi a invasão do Kwait pelo Iraque em 1990, e por aí fora. Nunca mais parei. Isto para entenderem que estou habituado a apanhar membros estilhaçados na rua sem me causar qualquer impressão. Aliás, esta minha frieza perante a morte até me levou a ser convidado pelo George Bush, então presidente dos “States” para incorporar os fotógrafos sem fronteiras, aquando da Invasão do Iraque. Estando posicionado na linha da frente a tirar umas fotos, eu seria assim uma espécie de “carne para canhão”. Senti-me honradíssimo pelo convite, palavra que até me custou declinar, mas dei a oportunidade a outro.
Então, ontem, deu-me para uma volta pelas ruas estreitas da cidade. Que saudades de um assaltozito. Um grito no silêncio, “agarra que é ladrão!!”. Mas qual quê? Eu sei que é chato estar a dizer isto, mas um jornalista é uma espécie de vampiro, quer é sangue. E por aqui, nesta parvalheira de cidade, não acontece nada. Nem um “serial killer”, um assassino em série, nem um atirador furtivo, nem um miúdo a partir um vidro com uma pedra…nada. Até o “Aspirante”, aquele rapaz senil que mandava uns gritos que acordava a passarada toda da Baixa, desapareceu.
Certamente já estão a entender como me sentia ontem. Estava naqueles dias que me apetecia simular um ataque de epilepsia, estender-me ao comprido na rua todo a tremelicar só para ver o que acontecia. Assim para ver, para estudar, se as pessoas ainda são sensíveis à dor dos outros. Verificar quanto tempo demorava a chegar a ambulância, e apreciar a competência dos médicos, etc., e depois escrevia a malhar em todos a torto e a direito.
Ia eu a caminhar na Rua Eduardo Coelho, por acaso até ia a seguir um tipo suspeito. O gajo tinha cara de marreta, assim do género do Jerónimo de Sousa. Uma pessoa olha para um rosto daqueles e cá por dentro começa logo a gritar “ai, mãezinha, que se vai acabar o mundo!”. Ouvi atrás de mim um “toc…”toc” de uns passos de corrida e, com a minha intuição excepcional, pensei cá com os meus botões, vai-se passar qualquer coisa. Por acaso passou, mas não era o que eu imaginava. Era o Nuno, o colaborador da Junta de freguesia de São Bartolomeu, a ver se me apanhava. “Ó “Olho de Lince”…ó “Olho de Lince”… vai depressa falar com o teu chefe”, alertava-me o colaborador do presidente Carlos Clemente –ai de mim se disser “chefe”, que estou logo tramado, pelo Clemente. Há dias escrevi assim e logo tive uma queixa no nosso provedor do leitor.
E lá fui eu falar com o director do blogue, o Luís Fernandes, não sei se conhecem…se não, ainda bem, que o gajo é mais estropício que o Bandarra, aquele sapateiro que nem numas solas acertava.
-Bom dia chefe, mandou chamar? Interroguei o abelhudo.
-Claro, é óbvio, se mandei o Nuno…-é pá, é nestas alturas que se me sobem cá uns calores. Quando me fala assim, até fico fora de mim. Isto é que é uma besta!
-Então diga…-tentei disfarçar o fogo que me consumia as entranhas de tanta raiva.
-Amanhã, cerca do meio-dia, esteja no Beco das Canivetas para fazer uma grande reportagem…
-Ai sim?! E o que é que vai acontecer? –comecei logo a rir-me cá por dentro.
-Um grande incêndio. Amanhã vai haver um grande incêndio na Baixa…
-Não me diga que a menina Lurdinhas, aquela velhota virgem, que tanto anseia por perder a virgindade e que ninguém lhe faz o favor, acabou por pegar fogo no baixo-ventre?
-Ó “Olho de Lince” tenha dó. Isso é conversa que se tenha com uma pessoa inteligente como eu?...
-Ai não é a menina Lurdinhas? Dê-me mais uma hipótese, chefe, só mais uma…deixe-me adivinhar…foram os comerciantes que, pela falta de perspectiva, pegaram fogo…
-Eu é que pego fogo se continuo a ouvi-lo. Porque é que você está cada vez mais burro? Diga-me…diga-me, alma de Deus?!
-Não sei bem chefe, sei lá, não será um vírus? Dizem que começou nos inteligentes…
-Deixe-se de lérias! Esteja lá amanhã no Beco das Canivetas, e desampare-me a loja!
Por acaso tenho alturas que me sinto mais néscio que o meu antigo companheiro Silvano –era o meu burrico e que mandei para adopção, ali para a quinta do Jaime Ramos, em Miranda. Então agora os incêndios já são previsíveis? Não estou mesmo aperceber nada disto. Porra! Apetece-me é emigrar para Itália, e ir ter com o meu amigo Berlusconi. Talvez ele me arranjasse lá um lugarzito numa das empresas dele. O ordenado até nem poderá ser grande coisa, mas carne fresca, febra da boa, ai isso, tenho a certeza, não iria faltar. Ando eu para aqui, um fotojornalista medalhado com a cruz de pau, a aturar isto?!
E lá fui eu. Cerca do meio-dia montei nas minhas alpercatas que já viram melhores dias e atirei-me à notícia do grande incêndio.
Quando cheguei à Praça do Comércio vi logo um carro de bombeiros estacionado e as mangueiras todas esticadas. Eu seja ceguinho, disse logo para mim, ai, nosso senhor Jesus Cristo, que isto deve ser uma calamidade! Ainda estava a escrever esta frase no meu bloco, para não esquecer, quando passou o presidente da Câmara, Barbosa de Melo, e o presidente da (des)Protecção Civil, o Serra Constantino. Ai, “Jasus”! O que deveria ir para ali. Entrei no Beco das Canivetas e, meu Deus!, toda a imprensa junta, lá estava o António Alves e o Luís Carregã, das Beiras, o Luís Santos, do Campeão das Províncias, o João Campos, do Diário de Coimbra, o “Quim” Reis, da antena 1 –por acaso aqui reparei que ele estava mais preocupado em olhar para a cabeça dos bombeiros, será por ele coleccionar capacetes?-, estava a SIC e restante maralhal que não enuncio.
Mas, uma coisa me estava a fazer espécie, porque é que não cheirava a queimado? Olhei para cima, para o número 31, e quem é que estava na janela? A Mariquinhas, aquela gaja boa que quando vai a andar na rua e passa à frente das lojas os comerciantes vêm todos à porta e com os olhos a saltarem das órbitas, com a língua de fora e a espumarem que parecem doidinhos, assim a salivar, interrogam: “posso ajudar a menina nalguma coisa?”. Nem fui de modas, ali mesmo atirei a matar: "a Mariquinhas desculpe, mas sabe dizer-me se o fogo é em sua casa?". Então não é que a galdéria me atirou um vaso de hortênsias e quase me acertava? Raios a partam! Quem é que consegue entender as mulheres?
E eu continuava perdido no meio das mangueiras. Até tropecei e tudo! Bolas, nem cheirava a fumo nem àquele odor de chama a crepitar. Mas para que seria aquele aparato todo? Estariam a ensaiar um exercício em simulacro? Isto é, será que estariam a treinar um fogo virtual de manhã e, depois, de tarde, punham o rastilho num qualquer edifício velho na zona e, então sim, passariam à acção? Só poderia ser mesmo isso. Ai de certeza! Com estes bombeiros não se brinca em serviço. E mais agora que até têm nova direcção e o presidente é o João Silva, que no tempo do Manuel Machado fartou-se de apagar intensas labaredas ali na autarquia, e, por isso mesmo, tem muita experiência!?
Disse cá para os meus botões em solilóquio –é uma palavra que eu gosto muito-, “ó “Olho de Lince” escreve o texto da grande reportagem só mais logo, vais ver que o verdadeiro incêndio só vai ser durante a tarde”. E fui sentar-me, descansado na esplanada do café Santa Cruz.
E então não é que tinha razão? Seriam para aí umas 15h00, comecei a aperceber-me de um intenso cheiro a queimado. Ainda olhei para o lado, não fosse às vezes o senhor António Costa, que para além de ser um brioso empregado de mesa no vetusto estabelecimento, é também um extraordinário pintor de artes plásticas, sei lá, que estivesse a fazer uma fogueira para depois a retratar para a tela? Não, infelizmente, não era ele. Tratava-se mesmo de um incêndio real ali a dois passos de mim, no prédio do fotoGaspar, na Rua Visconde da Luz.

1 comentário:

Anónimo disse...

Os simulacros são sempre necessários. Quanto a isso, não existe qualquer dúvida. Mas na verdade, existir um simulacro na Freguesia de São Bartolomeu e a Junta de Freguesia não ter conhecimento, desculpem-me mas é estranho, tendo em atenção que a mesma faz parte do Conselho Municipal de Protecção Civil.
Mas não será por aí que o gato vai ás filhoses. De facto este simulacro deu para tudo. Desde televisão, Jornais, Fotógrafos e não sei do que mais, para além de algumas personalidades que só os vejo nos simulacros com visibilidade na Comunicação Social.
Não os vi no incêndio da Rua Corpo de Deus, ocorrido á cerca de 15 dias, em que ficou desalojado um Municipe. Não os tenho visto, acompanhar o Zé Alberto, que bem precisa de apoio. Mas tudo bem.
Agora, existir um incêndio na Rua Visconde da Luz e os Bombeiros pretenderem ligar uma mangueira na boca de incêndio e esta se encontra inactiva. Esta é de facto de bradar aos céus. Dizia um bombeiro "se fosse um incêndio de grandes proporções como seria".
Afinal meus senhores, como é possivel uma boca de incêndio não funcionar?
Responda quem tem que responder por estas situações. Desculpem-me, mas é intelorável.
Já há vários anos, a Junta de Freguesia se insurgiu contra o estado em que se encontram as caixas de primeira intervenção. Os responsáveis, assobiaram para o ar. Aliás uma das fotos ilustra bem, esta minha afirmação.
Afinal onde está a segurança de pessoas e bens, se ocorrer um sinistro, como o que aconteceu, onde hoje é o Centro Comercial Visconde?
É tempo dos responsáveis se preocuparem com estes equipamentos, colocando os mesmos em boas condições de funcionamento. Aliás é uma das obrigações da Protecção Civil.
Seria bom com este alerta, que as bocas de incêndio, fossem todas inspeccionadas e que as caixas de primeira intervenção fossem colocadas em bom estado de funcionamento.
Aqui fica o meu reparo construtivo para a Baixa da Cidade.
José Carlos Clemente
Junta de Freguesia S. Bartolomeu