O "OLHO DE LINCE" NA INAUGURAÇÃO DO NOVO CENTRO DE EXPOSIÇÕES

 O calendário marca 07 de Abril de 2012 –sim, leu bem, é mesmo 2012. O tempo passa a correr. Quem diria que já passou um ano que o FEEF, Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e o FMI, Fundo Monetário Internacional, entraram em Portugal.

Por cá está quase tudo na mesma. Quer dizer…quase. O Passos Coelho é, desde há cerca de 9 meses, o primeiro-ministro eleito. Pela contestação nas ruas, tenho quase a certeza que preferia não ser. Muitas vezes se terá lembrado do que disse de Sócrates, o anterior chefe de Governo e líder do Partido Socialista. Este, num recente congresso extraordinário do partido, foi apeado e substituído por António Costa. As manifestações populares são cada vez mais. Todos os dias há uma. Ora é de professores –estes pelo menos uma vez por semana lá estão a bater à porta do senhor dos Passos-, ora é dos agricultores. Hoje, por acaso é das mulheres da rua. Protestam contra a queda abrupta de falta de clientela. Alegam que este governo do PSD, em coligação com o CDS/PP, acabou com a libido e a erecção a todos os homens portugueses. Já nem para uma mulher olham, nem que ela passe nua na rua.

Outro acontecimento que mudou o espectro político-partidário foi o casamento do Bloco de Esquerda com o PCP. Foi uma grande festa abençoada pelo “pároco” Garcia Pereira e coadjuvado pelo, ainda, presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso. Quem levou as alianças aos consortes foi Ana Gomes. Tudo indica que os nubentes vivem muito felizes. Só mudaram radicalmente na aparência física: o Louçã passou a usar gravata e o Jerónimo mudou de cara. Perdeu a de pugilista e agora usa uma máscara de simpático jardineiro. Unidos em foice e martelo, continuam em guerra com Coelho por causa da adopção. Querem perfilhar uma criança e o raio do liberal  com nome de Coelho nem ata nem desata.

Na Europa, a Espanha está prestes a ser intervencionada pelo FMI. A Itália vai a seguir e a Bélgica está a preparar-se para receber os ditames do Fundo. Como a economia europeia é uma roleta russa num pano verde mundial, irá chegar a vez da Alemanha e outros.

Por aqui, na sede do blogue, está tudo a encolher. O director, o Luís Fernandes, está cada vez mais atarracado. Apanho-o muitas vezes a olhar o céu. Cada vez está mais apático e somítico. Há mais de dois anos que não recebo ordenado. Desculpa-se com a Banca. Por cá anda tudo ensimesmado, desde o director adjunto até ao chefe de redacção, o Fernandes Quintans. Para meu contentamento, a única que cada vez floresce mais e está boa “c’mo” milho é a Rosete “Sempre em cima”. Por acaso a Etelvina “melhor que pudim flan”, a telefonista, ai nossa senhora!, até me faz crescer água na boca. Suponho que nesta crise, no país, só as mulheres é que se estão a aguentar bem. Também se entende…

No tocante a mim, estou cada vez mais nas lonas. Fui perdendo tudo, o telemóvel, o bip, depois as comunicações aéreas, como quem diz os sinais de fumo, perdi o carro, o meu Silvano -era a minha pileca, não sei se se lembram-, entreguei-o para adopção no Parque Biológico da Lousã –depois de já ter sido dirimida aquela questão do nome homónimo com Gaia. Agora ando de bicicleta, que, apesar de tudo faz melhor aos nervos.

Estava eu então ontem ali sentado na esplanada do café Santa Cruz a apreciar as gajas boas que passavam em frente e a sonhar com a Rosete, quando fui acordado desta letargia pelo Carlitos “popó”. Dizia-me ele, a gaguejar, como é normal, que o Luís Fernandes, o director, tinha-me mandado comparecer com urgência na sede do jornaleco mais importante da Baixa. E lá fui eu.

-Boa tarde, “Olho de Lince”… por onde é que você tem andado, que não tem apresentado trabalho nenhum de jeito? –este é o cumprimento habitual do gajo, já nem estranho.

-O chefe desculpe, mas como é que posso trabalhar se não recebo? Há largos meses que não tomo sequer um café. Olhe, bem me sento ali no café Santa Cruz a cheirá-lo…

-Deixe-se de lamúrias, ó Lince…que diabo?! Estou farto de pessoas como você… (portugueses!)…sempre a chorar. Porra! Até chateia…

Olhe lá você conhece o vereador João Orvalho, o responsável pelo mercado Municipal, não conhece?

-Falei com ele duas vezes ou três…

Costumamos encontrar-nos a andar de bicicleta. Ele anda por opção, eu por obrigação…

-Óptimo. Então vá fazer a cobertura da inauguração do novo centro de exposições…

-Como? Centro de quê? …Então a autarquia já deixou de alugar aquelas horríveis tendas brancas que parecem da ONU?

É pá, as empresas de aluguer deveriam ter ficado piores que uma barata…

Mas…espere aí… onde é que é o novo centro de exposições? É aqui na Baixa? Não estou a ver onde…

-Pois não… você nem um boi vê à frente quanto mais uma ideia luminosa como esta…

-Ó chefe, não comece a descarrilar, caso contrário, transformo-me no Carrilho…e digo-lhe o mesmo que este disse ao Sócrates…

-Calma, ó “Olho de Lince”. Haja paz, que isto aqui não é a Líbia…

-Então desembuche lá, que já me estou a irritar! Onde é que é novo centro de exposições?

-Homem de Deus, se você pensasse via logo onde era. Ainda agora falei no Orvalho e no mercado Municipal… foi ou não foi?

-Foi…

-Pois é lá mesmo, alminha de santa Engrácia…

- O vereador Orvalho, num golpe de mestre, retirou as peixeiras do pavilhão onde estavam instaladas e transferiu toda a venda de peixe para a entrada, junto às hortaliças. Agora todo aquele lindíssimo pavilhão em ferro, de inspiração “Arte Nova”, é um espaço de exposições permanentes. Todos os certames vão passar por lá. A feira do livro, do artesanato, a Fiarte, a feira de arte que, no ano passado foi realizada no choupalinho, numa tenda gigante, e que foi um fiasco financeiro, a feira de artes e ofícios tradicionais, a feira da escrita, em acordo com a casa da Escrita. Sabe que, até ao fim do ano, já está tudo completo?

-Ó chefe, estou de cara á banda…empreste-me aí um euro para beber uma “bejeca” no Santa Cruz.

Como é que eu não vi isso?! É pá, que ideia espectacular…