quarta-feira, 26 de agosto de 2009

BAIXA: A VERGONHA QUE ENVERGONHA







 Segundo o Diário de Coimbra (DC) de hoje, “As bancas de venda ambulante situadas na entrada da Rua da Moeda obrigaram ontem uma ambulância a contornar toda a Baixa de Coimbra e a ter que aceder à via pela Praça 8 de Maio.”
Continuando a citar o jornal, “O episódio não é singular e já em Abril de 2007 o Diário de Coimbra dava a notícia de uma viatura do INEM que se tinha visto impedida de socorrer um idoso na mesma rua. (…) Por seu lado, João Rebelo, vice-presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), garante que depois do episódio de 2007 “não foi comunicada à CMC mais nenhuma situação semelhante”, extracto do DC de hoje.
Com franqueza, tenho de me conter. Estas declarações de João Rebelo põem-me os cabelos em pé. Será que o vice-presidente da autarquia, embora independente do partido, esquece que a regularização da venda ambulante fazia parte do programa do PSD à Câmara de Coimbra, em 2002? Será que também se esqueceu que, numa de “baralhar e dar de novo”, logo que este executivo tomou posse –na altura era então vice-presidente o agora candidato independente Pina Prata (PP)- alterou completamente o Regulamento de Venda Ambulante, para, segundo declarações, na altura, à imprensa, declarar mais ou menos isto: “é agora que vamos acabar com este cancro que nos envergonha a todos”.
Para além de estabelecer neste novo Regulamento que nenhum vendedor ambulante poderia estar a menos de, creio, 100 metros de uma casa comercial, entre outras premissas para não levar a sério, foram ao cúmulo de retirar os vendedores ciganos do largo da Maracha para os “arrumar”, como de lixo se tratasse, no terreiro em frente aos antigos Armazéns Amizade. Hoje, como se sabe, tudo continua na mesma para pior. Para pintar a manta em tons matizados, vem agora o senhor vice-presidente dizer que não sabia de nada. De nada, como? Está gozar connosco? Com todos? Com os comerciantes da Baixa, com os ciganos, com quem passa e se apercebe daquele escândalo que para além de envergonhar parece um mercado do terceiro-mundo.
Pode até parecer que sou mais “um”, que vem para aqui armado em defensor das minorias, dos pobres e dos desgraçadinhos. Nada disso. Para o bem e para o mal, leio muito –passando a imodéstia. O que me permite ter uma percepção e uma cultura política para não andar aqui a ver passar os comboios. Quem faz o favor de ler este blogue saberá que, embora com subjectividade, escrevo (pelo menos tento) com rectidão. Não me deixo dormir com cantigas de embalar meninos. Faço política mas é da verdadeira, daquela cujo húmus é a “polis”, neste caso a cidade, e mais especificamente a Baixa, onde trabalho. Abomino a “partidarite” e quem se vende para agradar à sua agremiação partidária.
Voltando ao caso em apreço, basta andar para trás para verificarem que já escrevi muitos textos acerca desta miséria da venda (des)ambulante –que até no léxico é o contrário, porque está parada. Quanto a mim, neste caso, os ciganos, tal como todos nós, foram torpemente enganados por este executivo. Exceptuando o poder executivo da Praça 8 de Maio, todos somos vítimas. E sobretudo os ciganos porque estão a vender em condições miseráveis. Claro que no meio desta injustiça, espertos como são, acabam por dar a volta à situação. Sabendo eles, os ciganos, que os políticos detestam peixeiradas –porque tem medo e são subservientes- exploram de uma forma que considero inteligente –um modus vivendi muito próprio das minorias- este lado vulnerável de quem apenas quer votos e distribui aquilo que não lhes custou nada a ganhar.
Sabe-se que os ciganos do “Bota-a-baixo” já vendem neste antigo Largo das Olarias há mais de vinte anos. Ou seja, todas as soluções possíveis e necessárias que se vierem a criarem –que já tardam- terá que se ter em conta os seus direitos. Logicamente que todos juntos, em feira, tipo semanal todos os dias, como a que se verifica, não podem continuar. Pegar neles, como se quis fazer em 2003, e colocá-los ao fundo do parque da cidade é lógico que é injusto, e nem eles aceitaram na altura, nem irão aceitar. Porque é assim: as soluções, quando aparecem –como esta em 2003- são sempre injustas, não levando em conta os prejuízos causados aos transferidos, e pretendendo agradar a uma classe. No caso, nessa altura, a autarquia, pela voz de Pina Prata, quase gratuitamente, pretendia agradar aos comerciantes –por inerência, nesta época, era vice da câmara e presidente da ACIC. Evidentemente que não deu em nada. Os fretes acabam sempre assim.
As medidas legais, quando justas, resolvendo equitativamente os problemas das partes em confronto, acabam sempre por ser aceites. Para isso é que existe a política, a nobre arte de negociar e tentar resolver os problemas de alguns a contento de todos.
Já o aqui escrevi várias vezes, se houver vontade política, em equacionar este assunto, será facilmente solucionável. Distribuam pela Baixa uns quiosques bonitos -como por exemplo o que está no Largo da Portagem, com o Sousa, vendedor de jornais- consigne-se um a cada um destes vendedores ciganos, exigindo-lhes uma renda e uma máquina registadora, e teremos o problema resolvido. Claro que estes quiosques deverão estar em pontos onde passe gente. Tenhamos, mais uma vez, atenção.

1 comentário:

Anónimo disse...

O seu artigo é de facto importante e diz o essencial do que se passa na nossa Cidade com a venda ambulante.
Permita-me que lhe diga, o problema não é dos ciganos, mas sim de quem dirige esta Câmara Municipal.
Então onde pára o Regulamento Municipal da Venda Ambulante, aprovado por maioria na Assembleia Municipal?
O principal promotor do referido Regulamento foi o então Vice-Presidente Engº Pina Prata.É de facto irritante o actual Vice-Presidente Engº Rebelo, porque está de malas aviadas,efectuar tão ridiculas declarações sobre o assunto ao DC. Se estivesse calado,seria melhor, para não dizer asneiras. Mas não, o Sr. fez um péssimo trabalho neste particular. Engraçado foram as declarações do Presidente da Junta de Sta. Cruz que disse "já escrevi várias vezes para os serviços da C.M.C. sobre este assunto". Afinal em que ficamos, o Vice diz uma coisa e o Presidente da Junta, diz exactamente o contrário. O engraçado, foi assistir a uma limpeza dos automóveis, inclusivé com reboque, mas não foi essa a razão da não entrada dos Bombeiros, mas sim a venda ambulante. Hoje sim, a Policia Municipal, cumpriu com as suas atribuições e competências previstas na lei, mas no que toca ao cumprimento do Regulamento, está quieto porque pode ser complicado e aí mais calma.
Verdade que a venda ambulante, terá que existir, mas com dignidade e não como está acontecendo, isto porque o Sr. DR. CARLOS ENCARNAÇÃO, neste mandato usou a máxima "Quanto menos me chatiarem melhor" e este assunto nesta altura para ele é melindroso.
Espero que Pina Prata, na próxima reunião de Câmara, tenha a coragem de levantar o problema,exigindo o cumprimento do Regulamento Municipal e por isso não deixar o Presidente assobiar para o lado.
O seu artigo é de facto como todos os anteriores, artigos de um comerciante que sente a Baixa num TODO.
Parabéns. Continue a escrever o que lhe vai na alma, pois só assim poderá abrir as mentes a estes Politicos de carreira, que mais não fazem do que arranjarem tachos para filhos, esposas de directores,noras,genros,sobrinhos, Presidentes de Junta da côr e dos que colaram cartazes na campanha.
Esta é a realidade nua e crua do que se vem passando. Vamos esperar, estou certo melhores dias se esperam.