terça-feira, 21 de abril de 2009

EDITORIAL - BAIXA: À PROCURA DE UM AMANHÃ MELHOR





O que se está a passar no centro histórico ultrapassa as raias do compreensível. Os comerciantes estão a viver momentos de aflição para conseguirem aguentar a crise económica que vivemos. Se disser que 98% têm dívidas às finanças e à Segurança Social, tenho a certeza que não exagero. Há cerca de um mês para cá, abruptamente, a procura foi quase ao zero. As pessoas, responsáveis pelos estabelecimentos, põem as mãos à cabeça sem saber o que fazer.
Ontem, à hora do almoço, na sede da APBC, Agência de Promoção para a Baixa de Coimbra, vários comerciantes estiveram reunidos com o presidente desta agência, Armindo Gaspar, e o presidente do Sector Comercial da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, Arménio Henriques, para, todos juntos, procurarem soluções com brevidade. Cada um dos presentes, sem vergonha, contou as suas dificuldades em pagar os impostos atempadamente, as noites passadas em claro por ter passado o cheque pré-datado e na hora do desconto a conta bancária estar a descoberto. Dessa reunião com a ACIC E A APBC, saíram ideias que muito em breve serão postas em prática.
À tarde, pouco depois de se sair desta reunião, veio a saber-se da actuação da fiscalização da Câmara Municipal para com o dono da sapataria “Bull’s, na Rua das Padeiras, o senhor Rui Carvalho. Há nesta actuação qualquer coisa que extrapola a nossa compreensão. Num momento em que todos os comerciantes sentem a corda na garganta, esta forma de intervenção é vista como um excesso de zelo, um conseguir verbas a todo o custo, mesmo que para conseguir cinco dinheiros se destrua a vida a cinquenta. Metaforicamente, é como se vivêssemos um período gravíssimo de falta de alimentos e a fiscalização andasse de porta-em-porta a verificar se as famílias comiam sopa e o segundo prato. É o rigor cego imposto pela classe dominante aos burgueses que, aos poucos, vão caindo exangues nas pedras da calçada.
Não se pense que se trata de um a guerra entre bons e maus. Nós e os outros. Em que os maus serão os políticos. Nada disso. É, isso sim, uma batalha pela sobrevivência de uma classe que, atacada por todos os lados, vai desaparecendo, aos poucos, sem apelo e sem agravo. É um grito de SOCORRO pela restauração do necessário bom senso.
A política é o projecto, o plano matutado, que, através da negociação, ganhando aqui, perdendo acolá, entre o dissenso e o consenso, mas cujo resultado final resulta na conquista de mais um patamar para uma vida melhor para todos.
Os políticos são o meio, o instrumento unicamente possível, para levar à concretização o plano pensado, tantas vezes negociado com lágrimas de sangue. Não acreditar na política e nos políticos é não acreditar no futuro. É pensarmos que o que vale unicamente é o presente é a descrença num amanhã melhor para os nossos filhos. Mas para isso é preciso que as políticas, os planos estudados em gabinetes, vão ao encontro das populações, resolvam os seus problemas e não contrário, como muitas vezes se verifica. Por seu lado, os políticos terão de conquistar o colectivo e perderem o estigma social que, nos últimos anos, ganharam de “anjos do mal”.
Já em 18 de Março tinha escrito aqui no blogue um texto com o título “Atenção Senhor Comerciante”, em que alertava que a fiscalização municipal iria sair para a rua com ordens expressas para multar e tinham ordens para serem implacáveis. Os vazios cofres da autarquia, segundo a óptica do presidente, a isso obrigava.
Será esta forma de procedimento que esperamos das pessoas que localmente nos governam?

2 comentários:

MS disse...

Boa Tarde Luis, descobri este seu espaço por acaso, nesta nossa blogsofera. Concordo consigo.Se servir de algum consolo, o mal não é só daí. Vivemos tempos dificeis por toda a parte.

Continue a escrever. O Seu estilo de escrita cativa e arrasta o leitor.

Cumprimentos.

LUIS FERNANDES disse...

Muito obrigado(a). Volte sempre. Estas portas estarão sempre escancaradas para si.
Um Abraço.