(EDITH PIAF, 1915-1963)
(SE CLICAR EM CIMA DA FOTO, VERÁ QUE, LÁ ATRÁS, ATÉ O CRISTIANO RONALDO, DE OLHOS EM BICO, SE "RENDEU" À PATRÍCIA)
Quem passa na Rua Visconde da Luz, mais conhecida pela “calçada”, de certeza absoluta que já reparou numa moça de 22 anos que toca concertina com o mesmo à-vontade que eu bebo um café. Do seu instrumento musical, propulsionado pelos foles a ar, aparentemente já antigo e provavelmente vindo de França, saem melodias harmoniosas que, inevitavelmente, nos fazem parar.
Os seu trinados, longos e sofridos, de imanência trágica, transporta-nos imediatamente para a “ La vie en rose” e “Je ne regrette rien”, da grande Diva da canção francesa Edith Piaf. Curiosamente, a Patrícia, assim se chama esta simpática executante de concertina, provavelmente, não saberá que os seus traços fisionómicos são semelhantes à da grande “chanteuse francese de music-hall e de variétés”. Ora veja, em cima , as duas fotos e compare.
Mas, se as parecenças físicas podem aparentar, tudo fica por aí, se exceptuarmos o gosto pela música francesa. A Patrícia é uma mulher alegre que, contrariamente a Edith Piaf, nada tem de sobrecarga anímica trágica.
A Patrícia é do Porto. Veio para Coimbra estudar Psicologia, mas, por azares ou sortes do destino, o cupido atravessou-se na sua frente e apaixonou-se por um reconhecido músico da cidade dos estudantes e a faculdade ficou adiada. Por brincadeira, na companhia do ex-amor, começou a tocar concertina e hoje, autodidacta, faz deste instrumento musical o que quer. Para além de tocar ao vivo na Rua Visconde da Luz faz também parte de um grupo musical do seu “dejá vù”, ultrapassado amor e agora amigo.
O que não consigo entender, e você, leitor, se puder, ajude-me a compreender. A Patrícia é uma exímia tocadora de concertina. É um privilégio para qualquer conimbricense, turista, ou quem passa naquela artéria, poder ouvir esta grande instrumentista a tocar ao vivo ali mesmo junto à Igreja de santa Cruz. Agora pasme-se de espanto. Segundo alega a Patrícia, mensalmente, paga à Câmara Municipal a quantia de 35 euros. Não estaremos perante um exagero, um abuso de posição dominante por parte da autarquia? Não será uma indecorosa exploração de quem faz da vida artística o seu meio de sustento? E que, além de mais, para o recuperar está sujeita à boa vontade de cada um, através de uma moeda ou nota. Diga-se, a propósito, que quando falei com ela, olhando para a sua caixa da concertina, convertida em mealheiro, jaziam pouquíssimas dádivas. Notas de euro nem uma para amostra.
Ou seja, quando, imaginariamente, por espalhar a cultura musical na cidade, esta mulher deveria ter um subsídio de mérito cultural, ainda é obrigada a pagar uma verba mensal que considero abusiva.
Confesso que muitas vezes defendo o indefensável. Mas aqui, estarei errado?
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